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Um morador de rua da República, no Centro da cidade de São Paulo, foi encontrado morto com sinais de hipotermia na fria manhã deste sábado na capital paulista. Se o frio é alegria para muitos, como se viu nas cenas de justificada explosão de alegria com flocos de neve caindo sobre dezenas de cidades do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, o frio também é causa de ruína econômica com enormes impactos no campo e morte ao atingir quem pouco ou nada tem para se proteger.

Daniel Kfouri/Casa de Oração do Povo da Rua/Divulgação

A poderosa e histórica onda de frio deste final de julho no Brasil expôs com crueldade como uma condição meteorológica extrema pode ter conseqüências graves em parte da nossa população que é quase invisível à sociedade.

A enorme onda polar, que alguns ditos especialistas afirmavam seria “normal” e com “intensidade que acontece todos os anos”, acabou por trazer o frio de maior intensidade em julho e o segundo mais intenso neste século até agora para a cidade mais populosa do Brasil e da América Latina, além de marcas de até 10ºC negativos nas áreas de maior altitude do Sul do Brasil.

A sucessão de três grandes ondas de frio em um mês, entre o final de junho e o fim deste mês de julho, matou ao menos 17 pessoas apenas na cidade de São Paulo. Os números são do Movimento Estadual da População em Situação de Rua.

Daniel Kfouri/Casa de Oração do Povo da Rua/Divulgação

Daniel Kfouri/Casa de Oração do Povo da Rua/Divulgação

A contabilidade nacional das vítimas das ondas de frio, entretanto, será maior. Casos de mortes por frio ocorreram e são investigadas também em outras cidades, do interior paulista e outros estados, não havendo um agrupamento de dados nacional do impacto do frio muito intenso.

O frio despertou também o melhor das pessoas com correntes de solidariedade e ações do poder público, especialmente das prefeituras, para minimizar os impactos da sequência de dias gelados.

Casa de Oração do Povo da Rua/Divulgação

Do Rio Grande do Sul a São Paulo, de Santa Catarina ao Mato Grosso do Sul, do Paraná ao Rio de Janeiro, muitas pessoas deixaram suas casas para oferecer um simples abrigo ou uma sopa quente a quem mais precisava.

Casa de Oração do Povo da Rua/Divulgação

A corrente de solidariedade se espalhou por organizações sociais e do terceiro setor que saíram às ruas para enfrentar a ameaça do frio.

Casa de Oração do Povo da Rua/Divulgação

Em Porto Alegre, por exemplo, governo municipal e empresas se uniram para abrigar e oferecer auxílio aos moradores de rua que encheram o ginásio Gigantinho do Internacional nas noites mais frias da onda polar em Porto Alegre.

Na cidade de São Paulo, em ação inédita, o Metrô de São Paulo abriu sua estação Dom Pedro II, no Brás, para abrigar pessoas em condições de vulnerabilidade social. Ações emergenciais devido à temperatura muito baixa se repetiram em dezenas de outras médias e grandes cidades do Centro e do Sul do Brasil.

Casa de Oração do Povo da Rua/Divulgação

Até as igrejas abriram as portas para receber os mais necessitados em meio à onda polar histórica. A Paróquia São Miguel Arcanjo, na Mooca, e a Casa de Oração do Povo da Rua, na Luz, ambas na cidade de São Paulo, organizaram o acolhimento de pessoas para que passassem as noites com maior proteção e auxílio.

Casa de Oração do Povo da Rua/Divulgação

O arcebispo Dom Odilo Scherer determinou a abertura de igrejas do Centro e da periferia de São Paulo às pessoas até este começo de agosto. Além de roupas e cobertores, os mais necessitados receberam janta e café da manhã.

Daniel Kfouri/Casa de Oração do Povo da Rua/Divulgação

Cálculos não oficiais, do terceiro setor, indicam que apenas na cidade de São Paulo existam hoje mais de 40 mil pessoas desabrigadas, um enorme crescimento do número de 25 mil que era o calculado antes da crise da pandemia que levou ao despejo de grande número de famílias que passaram a viver em calçadas, barracas e debaixo de viadutos.

Marcas históricas de frio

A temperatura mínima oficial da cidade de São Paulo na sexta (30) foi a mais baixa em meia década, a segunda menor dos últimos 20 anos e a mais baixa no mês de julho desde a grande onda de frio histórica de julho de 2000, logo o amanhecer mais gelado em duas décadas e até agora neste século em um mês de julho.

A temperatura mínima na estação do Instituto Nacional de Meteorologia no Mirante de Santana foi de 4,3ºC. Neste século, até agora, somente um dia teve mínima menor na capital paulista. Foi em 13 de junho de 2016, quando a mínima baixou a 3,5ºC. A última vez que fez tanto frio em julho foi no ano 2000, quando os termômetros apontaram 4,1ºC no dia 18/7/2000.

A estação do Inmet de SESC-Interlagos, na zona Sul da cidade, teve a sua menor mínima desde o início das medições em 2018 com 3,6ºC. Na Grande São Paulo, a estação de Barueuri teve mínima de 1,5ºC, a mais baixa desde a abertura da estação em maio de 2011, batendo o recorde anterior de 1,7ºC de 28/6/2011.

Já a rede do Centro de Gerenciamento de Emergência da Prefeitura de São Paulo apontou marcas ainda menores na capital paulista na sexta com -2,9ºC em Marsilac, -2,0ºC na Capela do Socorro, -0,6ºC em Parelheiros, -0,4ºC em Santana do Parnaíba, 1,6ºC em Mauá, 2,8ºC em Riacho Grande, 3,1ºC no Butantã e Jabaquara, 3,5ºC em Vila Formosa, 3,6ºC em Vila Maria, 3,7ºC no Campo Limpo, 3,8ºC em Vila Prudente e 3,9ºC em Itaquera.

No interior paulista, a mínima na estação do Instituto Nacional de Meteorologia em Rancharia de -4,1ºC, a menor no estado paulista pela rede oficial na sexta-feira, foi a mais baixa desde o começo das medições em setembro de 2006, batendo o recorde prévio de mínima de -3,7ºC em 28/6/2011. Em Campinas, a mínima de hoje de 3,5ºC foi a mais baixa desde o ano 2000, de acordo com a Cepagri.