O mais recente dado semanal de anomalia de temperatura da superfície do mar no Pacífico Central Equatorial foi de +0,2°C, conforme a Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos Estados Unidos (NOAA). Esse valor indica a manutenção das condições de neutralidade no Pacífico, ou seja, sem a presença dos fenômenos El Niño ou La Niña após um primeiro trimestre de 2018 com La Niña. Já o Pacífico Equatorial Leste, nos litorais do Peru e do Equador, registrou uma anomalia negativa de -0,2°C no último boletim da NOAA. Essa região tem forte correlação com o clima no Sul do Brasil. Valores negativos no inverno sugerem maior frequência de frio e chuva mais irregular na região, exatamente como se tem observado.
A tendência para os próximos meses é de continuado e progressivo aquecimento do Pacífico Equatorial até o começo de 2019. A mais recente análise de probabilidade da NOAA e da Universidade de Columbia indica 70% de chance de El Niño na primavera e de 80% no verão de 2019. A grande maioria dos modelos sinaliza um evento fraco a moderado com pico médio de anomalia ao redor de +1°C para o fim do ano e o começo de 2019. O comportamento assemelha-se aos eventos de El Niño de 2001/2002, 2006/2007 e 2009/2010.
A perspectiva é de um aumento da chuva no Centro-Sul do Brasil neste segundo semestre, particularmente no Sul do país. A MetSul, inclusive, espera que ocorram períodos de precipitação excessiva, especialmente na primavera e com uma maior frequência de episódios de tempo severo (tempestades). No Brasil Central e no Sudeste do Brasil não se vislumbra um padrão de chuva suficiente para reverter o déficit hídrico dos últimos meses. A projeção multimodelos concentra as precipitações acima da média no Sul do Brasil e principalmente no último trimestre do ano.
A natureza não é linear. El Niño está associado a mais chuva e La Niña a menos chuva no Sul do Brasil. Ocorre que nem sempre esses efeitos se concretizam. No caso de El Niño, fenômeno provável para os próximos meses, para que os efeitos tradicionais ocorram é necessário que ele se manifeste na sua forma clássica (El Niño canônico) em que todo o Pacifico Equatorial Centro-Leste fica mais quente do que o normal. Se o Pacífico Central estiver mais quente e o Pacífico Leste mais frio há um falso El Niño (Modoki) e as consequências podem ser até opostas como falta de chuva.
Como os modelos climáticos projetam um evento de aquecimento mais de Pacífico Central, apesar da alta probabilidade de El Niño, não é possível ainda se afirmar que o fenômeno se dará na forma clássica em 2018/2019. Isso tem enormes implicações para o verão. Por isso, o acompanhamento das projeções para o Pacífico Leste (região de comportamento muito volátil da temperatura do mar) será muito importante nos próximos meses.
Acrescentamos ainda que esse possível evento de El Niño é mais tardio que o habitual, logo suas consequências podem se manifestar mais tardiamente no ano que em eventos anteriores. No último El Niño, de 2015/2016, os efeitos já foram sentidos com força no inverno porque o fenômeno se instalou muito antes que agora.