É recorrente nos debates sobre queimadas o argumento de que a África está queimando mais do que o Brasil e a América do Sul. O argumento procede?
Não! Imagens de satélite revelam que as queimadas pioraram muito no Brasil e em países vizinhos da América do Sul em 2019 e em 2020 na comparação com 2018, em parte por uma estiagem que é a pior em meio século na parte central do continente, o que agravou muito a situação do fogo em áreas como o Centro-Oeste do Brasil, o Centro e o Norte da Argentina, o Paraguai e a Bolívia.
Os mapas abaixo mostram a presença de HCHO (formaldeído), um carbonílico atmosférico, resultantes de queima de biomassa nos meses de julho, agosto e setembro dos três anos. Observa-se nitidamente como as emissões foram muito superiores na América do Sul neste ano e no ano passando quando comparadas com as de 2018.
Em particular, chama a atenção a piora do quadro no Sul da região amazônica e na área do Pantanal, o que é corroborado pelos números do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais que apontaram recordes de queimadas no estado do Amazonas e no bioma Pantanal. Os mapas mostram ainda que as emissões na América do Sul no período foram muito superiores às registradas na África.
Os mapas foram gerados a partir de dados do sensor TROPOMI (Tropospheric Monitoring Instrument) no satélite Europeu Sentinel-5P e divulgados pelo Belgian Institute for Space Aeronomy. Dados de monóxido de carbono (CO) e dióxido de nitrogênio (NO2) indicaram a mesma tendência observada nos mapas de formaldeído.