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O retorno às aulas no Rio Grande do Sul na segunda-feira vai coincidir com o período de calor mais extremo deste verão no estado com temperaturas atipicamente elevadas na esmagadora maioria das cidades gaúchas previstas para a segunda e a terça-feira.

PEDRO PIEGAS/PMPA

Modelos meteorológicos analisados pela MetSul Meteorologia indicam que as tardes da segunda e da terça podem ter máximas ao redor de 40ºC na medição oficial de Porto Alegre no Jardim Botânico (haverá temperaturas mais altas em outros pontos da cidade por efeito da ilha de calor urbano) e ao redor e superiores a 40ºC na área metropolitana.

No interior do estado, a esmagadora maioria das cidades gaúchas deve ter máximas nos dois dias acima de 35ºC e grande número de municípios deve anotar máximas ao redor e acima dos 40ºC, notadamente no Oeste, Sul, Noroeste, Centro e os vales. Haverá pontos em que a temperatura no interior estará entre 42ºC e 44ºC à sombra. Mesmo o litoral, que raramente tem calor extremo, pode anotar máximas ao redor e acima dos 40ºC na terça.

Alunos, muitos deles crianças, professores e funcionários de escolas serão submetidos, especialmente no turno da tarde, a condições insalubres de temperatura em salas de aula e outras instalações. A esmagadora maioria das escolas do estado não possui ar-condicionado e grande número de alunos, especialmente em zonas rurais, terão que se deslocar para e de volta das escolas sob sol e temperaturas acima ou rondando os 40ºC.

Dentro de prédios escolas, especialmente os mais antigos e cuja engenharia da época jamais contemplou a realização de aulas no pico do verão e sob condições extremas de temperatura, haverá ambientes em que seguramente a temperatura poderá atingir marcas perto dos 50ºC pelo aquecimento do telhado.

É dever das autoridades zelar pela segurança e a saúde funcional dos frequentadores e trabalhadores de estabelecimentos de ensino e outros ambientes púbicos de trabalho, o que entendemos não se pode garantir em prédios absolutamente despreparados para enfrentar marcas extremas de temperaturas e que poucas vezes são registradas.

Prefeituras do estado, ademais, deveriam reforçar por suas redes sociais e outros canais de comunicação à população os avisos à população e orientar o público sobre os cuidados que as pessoas devem ter diante das altas temperaturas, como a não realização de atividades físicas ao ar livre nas horas mais quentes do dia assim como cuidado com enfermos e idosos.

O calor em níveis extremos não é meramente uma fonte de desconforto térmico, mas uma questão de saúde pública com risco real à saúde e à vida de pessoas. Ao contrário de eventos como tempestades, ciclones, chuva excessiva e enchentes cujo saldo de vítimas é mensurável de imediato, mortes por calor somente se tornam visíveis semanas ou meses depois nas estatísticas de registros naturais por excesso de mortalidade.  

Medidas emergenciais diante de calor extremo, como suspensão de aulas a atividades, são implementadas por distritos escolares e governos ao redor do mundo. Vários estados dos Estados Unidos recentemente suspenderam aulas devido a um episódio de calor extremo. As Filipinas, que possui regramento legal sobre funcionamentos de escolas sob calor, e outros países asiáticos suspenderam classes pelas altas temperaturas.

Na América Latina, países como Brasil, Argentina e México têm histórico de suspensão de aulas por calor extremo. O mesmo ocorre na Europa, onde episódios de temperatura alta já causaram cancelamento de classes em diferentes países.

O Rio Grande do Sul não possui levantamentos de mortes por ondas de calor, como é comum na Europa pelos serviços de saúde. Conforme reportagens de imprensa, apenas em São Borja, que é só um em quase 500 municípios gaúcho, o hospital local contabilizou 60 mortes em complicações do calor na onda de janeiro de 2022.

Um estudo da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) mostrou que ondas de calor mataram 48 mil brasileiros entre os anos 2000 e 2018. O trabalho foi conduzido pelo Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com base em dados do Sistema Único de Saúde. A análise foi conduzida por pesquisadores da instituição com representantes da Fiocruz, Universidade de Brasília e Universidade de Lisboa.

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