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Meios de imprensa, especialmente voltados ao agronegócio, informaram neste início de semana sobre a perspectiva de o fenômeno La Niña estar de volta ao Oceano Pacífico Equatorial já em março deste ano. Vídeo publicado por página de jornalismo voltado ao setor da agricultura chega a informar que não haveria uma fase de neutralidade e que o Pacífico passaria diretamente de El Niño para La Niña.

A informação não procede. Neste momento, o El Niño segue atuando com intensidade forte no Oceano Pacífico e a tendência é que o fenômeno persista ainda no restante do verão. O atual evento de El Niño, que foi declarado pela agência de tempo e clima dos Estados Unidos (NOAA) em junho, deve chegar ao fim entre abril e maio.

De acordo com o último boletim da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos Estados Unidos, a NOAA, “o El Niño deve continuar ao longo do inverno do Hemisfério Norte (verão no Sul) com uma transição para neutralidade no trimestre entre abril e junho (60% de probabilidade)”.

Já o Bureau de Meteorologia da Austrália (BoM), que usa critérios distintos da NOAA, destaca que “as previsões de modelos indicam que o aquecimento da superfície do mar está provavelmente no seu pico ou próximo dele, prevendo-se que as anomalias de temperatura oceânicas permaneçam acima dos limiares de El Niño no Hemisfério Sul até o outono de 2024”.

Os dados mostram que as anomalias de temperatura da superfície do mar ainda estão perto do valor máximo que foi observado durante o mês de novembro no Pacífico Equatorial Centro-Leste, região designada para identificar se há El Niño ou La Niña.

Conforme a mais recente atualização semanal da NOAA, publicada recém no dia de ontem, a anomalia de temperatura da superfície do mar (TSM) era de 1,9ºC na denominada região Niño 3.4, no Pacífico Equatorial Centro-Leste.

Esta região (Niño 3,4) é a usada oficialmente na Meteorologia como referência para definir se há El Niño e ainda avaliar qual a sua intensidade. O valor positivo de 1,9ºC está na faixa de transição de El Niño forte (+1,5ºC a +1,9ºC) a muito forte (igual ou acima de 2,0ºC que é de Super El Niño).

NOAA

O último trimestre (outubro a dezembro) teve valor médio de 1,9ºC nesta região Niño 3.4 do Pacífico, conforme o chamado ONI (Oceanic Niño Index) da NOAA. Considerando os valores registrados em novembro, no mês de dezembro e o primeiro boletim semanal de janeiro, a tendência é que o trimestre de novembro a janeiro termine com um valor de ONI ainda muito alto, que estimamos entre 1,7ºC e 1,9ºC.

Isso porque nos boletins semanais de novembro as anomalias foram, respectivamente, de 1,8ºC; 1,8ºC; 1,9ºC; 2,1ºC; e 2,0ºC. Já nos boletins de dezembro, respectivamente, as anomalias semanais foram de 1,9ºC; 2,0ºC; 2,0ºC; e 2,0ºC. O primeiro de janeiro, como destacado, indicou 1,9ºC. Assim, se o trimestre novembro a janeiro se encerrasse hoje, a média trimestral seria de +1,94.

O modelo North-American Multimodel Ensemble (NMME) em sua projeção de anomalia de temperatura da superfície do mar ainda indica águas mais quentes do que a média, logo em padrão de El Niño, ainda no mês de março. O que pode ocorrer em março é resfriamento das águas numa área menor dos litorais do Peru e Equador (região Niño 1+2), o que não caracteriza um evento de La Niña que é medido no Pacífico Centro-Leste (região Nino 3.4), que é muito mais ampla e mais a Oeste.

NOAA

A partir de abril começaria a se formar uma “língua” de águas mais frias, comum de La Niña, no Pacífico Equatorial. O fenômeno, porém, ainda não estaria configurado porque o resfriamento estaria mais limitado em áreas mais a Leste do Pacífico.

Segundo este modelo, na segunda metade do outono ou no inverno o fenômeno La Niña estaria plenamente caracterizado com a faixa de águas frias dominando todo o Pacifico Centro-Leste. Outros modelos de clima, contudo, não indicam resfriamento tão acelerado entre abril e junho.

A projeção oficial atual do Centro de Previsão Climática do Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos (NWS/NOAA/CPC) indica para o trimestre de dezembro a fevereiro probabilidade de 100% de El Niño e 0% de neutralidade ou La Niña. Para o trimestre de janeiro a março, as probabilidades são idênticas.

NOAA

Já para o trimestre fevereiro a abril, o CPC da NOAA indica 97% de probabilidade de El Niño, 3% de neutralidade e 0% de La Niña. Para o trimestre de março a maio, 75% de El Niño, 25% de neutralidade e 0% de La Niña. Para o trimestre abril a junho, 37% de probabilidade de El Niño, 60% de neutralidade e 3% de La Niña.

No trimestre de maio a julho, segundo as estimativas oficiais do centro de clima dos Estados Unidos, as probabilidades seriam de 20% de El Niño, 65% de neutralidade e 15% de La Niña. No trimestre do nosso inverno, de junho a agosto, 12% de El Niño, 56% de neutralidade e 32% de La Niña.

Assim, o El Niño deve persistir ainda durante este verão, o Pacífico deve passar para uma fase de neutralidade durante o outono e não se pode afastar que na sequência se instale um evento de La Niña, o que, caso venha a ocorrer, seria declarado pela NOAA não antes que no final do outono ou durante o inverno deste ano.

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