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Chuva na segunda metade de junhoi será mais frequente no Rio Grande do Sul e com volumes acima da média em cidades afetadas por enchentes em maio | ANSELMO CUNHA/AFP/METSUL METEOROLOGIA

A chuva vai retornar ao Rio Grande do Sul de forma mais generalizada a partir do próximo fim de semana, mas o cenário de precipitação que se esboça pelos dados de hoje é diferente daquele que se viu no fim de abril e no começo de maio, quando volumes absurdamente altos levaram a enchentes com gravidade jamais vista.

Felizmente, o retorno da chuva com maior frequência que se projeta para a segunda metade deste mês ocorre na sequência de uma primeira quinzena de junho marcada por pouca chuva em quase todo o Rio Grande do Sul, o que permitiu o recuo dos níveis dos rios e também do Guaíba em Porto Alegre.

Na capital gaúcha, embora o Guaíba ainda siga em condições de cheia, com cotas acima de 2 metros, o nível atual está cerca de três metros abaixo do pico da enchente e ainda cerca de 80 centímetros abaixo do nível de transbordamento no cais de 3,00 metros.

As cotas atuais ainda seguem mais de um metro acima de um valor de normalidade, mas até sexta-feira o tempo firme predomina na bacia do Guaíba, o que vai permitir recuo adicional com prováveis marcas inferiores a dois metros no cais, quando voltar a chover, o que é um alento.

A precipitação acumulada nos primeiros nove dias de junho em Porto Alegre somou 17,5 mm. A precipitação média histórica mensal em junho, com base na estação do bairro Jardim Botânico, é de 130,4 mm. Ou seja, nestes primeiros nove dias do mês choveu só 13% da média mensal.

A última vez em que Porto Alegre teve precipitação em 24 horas até 9h da manhã acima de 1 mm foi no dia 6 com 1,1 mm. A última altura diária superior a 10 mm se deu no dia 3 com 12,2 mm.

Já o último registro diário acima de 25 mm foi em 24 de maio com 100,2 mm, dia em que a cidade capitulou quando ainda se recuperava da catástrofe do começo do mês de maio. Logo, há uma quinzena não chove com volume muito alto na capital gaúcha.

A realidade até agora em junho, assim, é muito diferente de maio. Enquanto os primeiros nove dias deste mês em Porto Alegre anotaram 17 mm, nos primeiros nove dias do mês passado a capital gaúcha somou 217 mm.

O que esperar da chuva nos próximos dias

A semana que se inicia será quase toda ela marcada ainda pela predomínio do tempo firme com dias de sol e nuvens, mantendo o padrão atmosférico observado até agora nesta primeira metade do mês.

Não há previsão de chuva para a esmagadora maioria dos dias desta semana em quase todos os municípios do Rio Grande do Sul. Nesta segunda e na terça, no Leste gaúcho, pode ocorrer instabilidade muito isolada e com baixos volumes, mas em poucos locais.

A tendência é a chuva retornar para a maioria das regiões do Rio Grande do Sul no fim de semana que vem, entre os dias 15 e 16. Aliás, existe uma angústia em torno do que pode ocorrer entre os dias 15 a 17 deste mês após alguns alertas publicados à população terem advertido sobre o risco de um novo evento de chuva extrema neste período.

Vejamos, então, o que os dados mostram hoje para estes dias em particular. De acordo com as projeções do modelo europeu pela saída da 0Z deste domingo, os três dias devem ter registro de chuva no estado. Os mapas a seguir mostram as projeções do modelo de chuva acumulada a cada dia para 15, 16 e 17 de junho.

METSUL METEOROLOGIA

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Como se observa, no dia 15 a chuva se concentraria entre o Centro, o Oeste e o Sul do estado, mas sem volumes muito altos na maioria das cidades. No dia 16, por sua vez, a chuva aumentaria no estado e com volumes mais altos, mas ainda assim sem acumulados excessivos ou extremos. Já no dia 17, o tempo seguiria com chuva na maior parte do Rio Grande do Sul, sem volumes muito altos na maioria das cidades.

Assim, ao menos a partir dos dados de hoje, o cenário para os dias 15 a 17, embora seja de chuva, não aponta volumesque possam gerar grandes enchentes como as de maio. Os níveis dos rios, como não poderia deixar de ser, subirão com a chuva, mas os acumulados previstos não apontam para elevações a níveis como os da primeira semana de maio.

Nesse sentido, é importante observar o que os modelos projetam para a soma de dez dias. Os mapas a seguir mostram os acumulados prognosticados pelos modelo GFS (Estados Unidos), CMC (Canadá) e Europeu (ECMWF) para os próximos dez dias, até o dia 19, com base na rodada das 0Z de hoje.

METSUL METEOROLOGIA

METSUL METEOROLOGIA

METSUL METEOROLOGIA

Tal como se vê, os modelos, em geral, indicam precipitação na maioria das cidades do estado entre 50 mm e 100 mm no período e que vai se concentrar entre os dias 15 e 19. Os dados de hoje sugerem acumulados superiores a 100 mm, que são altos, sobretudo para a Metade Oeste.

O que esperar da chuva nas próximas semanas

O que em nosso entendimento preocupa não é o que se antevê para os dias 15 a 17, e que tanta atenção tem merecido, mas a tendência de a segunda metade do mês ser mais chuvosa. Com efeito, é o médio prazo que exige maior atenção.

A chuva não vai se limitar ao período de 15 a 17 de junho e a segunda quinzena do mês terá muitos dias com registro de precipitação, alguns com acumulados elevados em parte do estado, prevê a MetSul Meteorologia.

O Rio Grande do Sul nesta primeira metade do mês está dentro da influência da massa de ar quente com a chuva ocorrendo ao Sul da América do Sul. Na segunda metade do mês, deixaremos de estar dentro da área de tempo firme e quente e passaremos a estar na zona de transição de massas de ar quente e frio, o que significará chuva frequente e com maiores volumes.

Isso fica evidente pelos mapas de anomalia de chuva para o restante deste mês de junho com base no modelo do Bureau de Meteorologia da Austrália, em que se vê como na segunda metade do mês a tendência é de precipitação acima da média no estado gaúcho.

AUSTRALIAN BUREAU OF METEOROLOGY

A mesma tendência é indicada pelos mapas semanais de anomalia de precipitação do modelo do Centro Meteorológico Europeu com chuva em volumes perto e acima da média nas duas semanas da segunda quinzena deste mês de junho. Os mapas a seguir mostram as projeções de anomalia de chuva por semana entre agora e 22 de julho.

EUROPEAN CENTRE FOR MEDIUM RANGE WEATHER FORECASTS (ECMWF)

EUROPEAN CENTRE FOR MEDIUM RANGE WEATHER FORECASTS (ECMWF)

EUROPEAN CENTRE FOR MEDIUM RANGE WEATHER FORECASTS (ECMWF)

EUROPEAN CENTRE FOR MEDIUM RANGE WEATHER FORECASTS (ECMWF)

EUROPEAN CENTRE FOR MEDIUM RANGE WEATHER FORECASTS (ECMWF)

EUROPEAN CENTRE FOR MEDIUM RANGE WEATHER FORECASTS (ECMWF)

O que os mapas mostram é que o período entre 15 e 25 de julho será de chuva acima da média e mesmo muito acima da média em parte no Rio Grande do Sul. Nos últimos dias de junho, a precipitação ficaria perto ou acima da média no estado. Na primeira metade do mês de julho, a chuva se situaria ao redor das médias históricas, embora somente mais a curto prazo a precisão de prognóstico seja maior.

Uma nova realidade

A realidade mudou depois das enchentes do mês de maio e estamos sob um quadro que difere daquele de antes de 40 dias atrás. Os impactos da chuva nas cidades e nos rios hoje pode ser diferente do que normalmente estamos acostumados e que ao longo de anos de trabalho construímos parâmetros de previsão e impactos para a população.

As enchentes, conforme análises preliminares e relatos de quem está habituado com navegação, trouxe grande quantidade de sedimentos e terra. O delta do Jacuí e o Guaíba tiveram grande assoreamento, assim como provavelmente outros rios que passaram por grandes cheias como o Taquari, Caí e Sinos, o que aliás já estava agravado pelas cheias do segundo semestre do ano passado.

Assim, chuva mais volumosa, como que se prevê para a segunda metade do mês, pode ter efeitos diversos daqueles que ocorreriam antes das enchentes. Em outras palavras, os rios podem subir mais em alguns pontos que subiriam se não tivesse ocorridos as cheias dos últimos nove meses.

Outra realidade que mudou é a da macrodrenagem urbana. Em Porto Alegre e outras cidades afetadas por inundações, grande quantidade de lixo e lama adentrou as redes de esgotos. Com isso, a capacidade de drenagem está reduzida em relação ao que se via antes da enchente.

Logo, ruas que não alagavam com uma chuva diária, por exemplo, de 50 mm agora talvez alaguem e ruas que alagavam podem ter alagamento maior. Igualmente, arroios que cortam Porto Alegre e outras cidades da região metropolitana podem alagar com maior facilidade do que ocorria antes da grande enchente.

Importância de acompanhar a previsão

O panorama de chuva que se publica hoje sofrerá inevitavelmente mudanças durante os próximos dias. Sob bloqueio atmosférico, por experiência, sabemos que as projeções de chuva costumam ter alterações às vezes significativas. Por isso, é fundamental que se acompanhe a previsão do tempo regularmente e apps não são recomendados em situações de risco que demandem interpretação e contexto por meteorologistas que integrem dados meteorológicos e hidrológicos.

Várias vezes por semana, a MetSul publica aqui em nosso site sem paywall os mapas de chuva para sete a dez dias. Quem tiver interesse em acompanhar as projeções atualizadas a cada seis ou doze horas pelos modelos pode acessar nossa seção de mapas mediante assinatura.

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