A erupção do vulcão Hayli Gubbi, na Etiópia, lançou uma imensa pluma de cinzas que cruzou o Mar Vermelho, avançou sobre Omã e o Iêmen e alcançou a Índia na noite da segunda-feira, provocando atrasos, cancelamentos e desvios de voos. As cinzas agora já alcançam até a China, a mais de 8 mil quilômetros de distância da erupção.

Imagem de satélite mostra erupção do Hayli Gubbi no domingo | NASA
O Hayli Gubbi entrou em erupção na manhã de domingo, rompendo um silêncio que pode ter durado milhares de anos. O vulcão se localiza no remoto Rift de Afar, região tectonicamente ativa do nordeste etíope, próxima ao Erta Ale, um dos sistemas vulcânicos mais conhecidos da África. A explosão lançou uma coluna de cinzas a milhares de metros de altitude, rapidamente captada por satélites europeus do programa Copernicus.
A pluma seguiu impulsionada por ventos fortes em altitude e cruzou o Mar Vermelho poucas horas após o início da erupção. Em seguida, espalhou-se sobre partes da Península Arábica antes de seguir rumo ao subcontinente indiano. Segundo o Departamento Meteorológico da Índia (IMD), a nuvem atingiu altitudes entre 8,5 km e 15 km, faixa crítica para o tráfego aéreo internacional.
O impacto imediato foi sentido nos aeroportos mais movimentados da Índia. A Air India cancelou ao menos 11 voos entre segunda e terça-feira. Outras companhias, como IndiGo, Akasa Air e KLM, também registraram atrasos e ajustes de rotas. Em Mumbai, as autoridades aeroportuárias pediram que passageiros verificassem o status das viagens antes de se deslocar até o terminal.
Os voos entre os Emirados Árabes Unidos e a Índia foram os mais afetados. A nuvem obrigou companhias como Air Arabia, Air India e Akasa Air a cancelar ou atrasar voos, enquanto a IndiGo desviou um voo de Kannur para Abu Dhabi, que precisou pousar em Ahmedabad, e a SpiceJet adiou a partida do voo Dubai–Kochi de 12h25 para 18h05.
O nível de contaminação por cinzas ainda não é conhecido. Especialistas explicam que medir a concentração exige sensores específicos que precisam ser posicionados antes de uma erupção — o que não foi possível neste caso. Mesmo assim, o IMD classificou a situação como de risco operacional e recomendou cautela às companhias aéreas.
A Diretoria Geral de Aviação Civil da Índia emitiu um alerta a pilotos e operadores, reforçando a necessidade de reportar imediatamente qualquer encontro suspeito com cinzas, como perda de potência, ruídos anormais nos motores, fumaça na cabine ou odores incomuns. O aviso também orienta inspeções extras nas aeronaves que operam perto das áreas potencialmente atingidas.

Satélite registra nuvem de cinzas avançando da África até a China | TROPOMI
As cinzas vulcânicas representam um dos maiores perigos para a aviação. Partículas microscópicas, abrasivas e ricas em sílica, podem derreter ao entrar em motores a jato, aderir às turbinas e causar falhas severas. Além disso, reduzem a visibilidade e podem danificar sensores e superfícies externas das aeronaves.
Apesar do avanço da nuvem, os meteorologistas indianos afirmam que o episódio não deverá afetar o clima nem a qualidade do ar em superfície. Delhi, por exemplo, já registrava ar “muito pobre” antes da chegada da pluma, mas o IMD estima que a concentração de cinzas em baixos níveis é insignificante. A previsão era de que o céu começasse a limpar.
A erupção do Hayli Gubbi despertou interesse global pela falta de registros históricos sobre sua atividade. O Smithsonian Institution não possui dados de erupções no período do Holoceno, que abrange os últimos 11.700 anos.
O banco internacional de erupções explosivas pré-históricas também não menciona o vulcão. Ainda assim, cientistas do Centro para Observação e Modelagem de Terremotos e Vulcões, no Reino Unido, afirmam que imagens de satélite anteriores ao evento mostram fluxos de lava relativamente recentes, possivelmente com poucos séculos.
A ausência de documentação não significa que o vulcão estivesse totalmente inativo ao longo dos milênios. Pesquisadores destacam que erupções em áreas remotas da África Oriental frequentemente passam despercebidas por falta de monitoramento contínuo. O Rift de Afar, onde o Hayli Gubbi se encontra, vem registrando atividade sísmica e vulcânica recorrente nos últimos meses.
Autoridades etíopes informaram que não há vítimas e que a erupção ocorreu em uma área pouco povoada. Contudo, o fenômeno reacendeu o debate sobre a vulnerabilidade do transporte aéreo a episódios de cinzas, relembrando o caos provocado pela erupção do Eyjafjallajökull, na Islândia, em 2010, que paralisou o espaço aéreo europeu.
