O colorido das flores e das árvores já domina as cidades. A escuridão cedo no fim da tarde do inverno já passou. Os pássaros cantam dia e noite. Os dias têm sido mais agradáveis. Os sinais da primavera estão por todos os lados a nova estação começa nesta quinta (22) às 22h04 com a influência mais uma vez do fenômeno La Niña que terá reflexos no clima.
As estações do ano são fenômenos naturais e ocorrem por causa da inclinação do eixo da Terra em relação ao plano de sua órbita em torno do Sol. O instante exato do início de uma estação do ano é determinado por uma posição específica da Terra em sua órbita, como explica a pesquisadora Josina Nascimento, da Coordenação de Astronomia e Astrofísica do Observatório Nacional.
“Para compreender o início das estações, é preciso imaginar a Terra parada e o Sol se movendo em relação a nós. Nessa perspectiva, o Sol percorre um caminho, que se chama eclíptica, e o instante do equinócio de setembro é aquele em que o Sol cruza o equador celeste, que é a extensão do equador terrestre, indo de Norte para Sul. No Hemisfério Sul é o equinócio de primavera e no Hemisfério Norte é o equinócio de outono.”
As estações do ano são marcadas pela maneira como os raios solares incidem nos hemisférios. Além da temperatura, um dos efeitos que evidenciam as estações é a variação dos comprimentos dos dias, ou seja, a quantidade de tempo que o Sol fica acima do horizonte. Nas regiões próximas ao equador terrestre, esse efeito praticamente não existe. Quanto mais nos afastamos do equador terrestre, mais esse efeito torna-se evidente.
No início da primavera, os dias terão aproximadamente a mesma duração das noites, e no Hemisfério Sul, os dias vão ficando cada vez mais longos e as noites cada vez mais curtas, até o dia com maior presença do Sol no ano, que ocorre no início do verão, que em 2022 será em 21 de dezembro às 18h48 (horário de Brasília).
Terceira primavera seguida de La Niña
A primavera começa com o Pacífico Equatorial sob condições de La Niña pelo resfriamento das águas e a alteração no regime de vento da região. Em uma situação rara, a primavera de 2022 será a terceira seguida que vai transcorrer com o fenômeno La Niña atuando, uma preocupação a mais para a agricultura do Sul do Brasil.
A última semana do inverno teve anomalia de temperatura da superfície do mar de -0,9ºC na denominada região Niño 3.4, no Pacífico Equatorial Central, que é usada para definir se há El Niño ou La Ninã. O valor está no limite superior da faixa de fraca intensidade e muito próximo do patamar de La Niña moderada. Já o Pacífico Equatorial Leste, a chamada região Niño 1+2, que costuma impactar as precipitações no Sul do Brasil, apresentava anomalia de -0,8ºC, igualmente no terreno de fraca intensidade.
A mais recente análise da NOAA e da Universidade de Columbia a partir de diversos modelos de clima projeta para o trimestre de outubro a dezembro 82% de probabilidade de La Niña, 18% de neutralidade e nenhuma chance de El Niño. Para o trimestre de novembro a janeiro, que é o da segunda metade da primavera, 75% de probabilidade de La Niña, 25% de neutralidade e 0% de chance de El Niño
Chuva deficiente ameaça o campo no Sul
A primavera no Sul do Brasil deverá ter chuva irregular mais uma vez neste ano, assim como ocorreu nos anos de 2020 e 2021 com impacto na cultura de milho e alto risco de quebra de produtividade em muitas áreas. Espera-se uma grande variabilidade das precipitações de região para região na distribuição da chuva com tendência de volumes abaixo a muito abaixo da média histórica durante grande parte da primavera no Sul do Brasil.
Episódios de chuva volumosa e intensa regionalizados são esperados com acumulados de precipitação muito altos em curto período, mesmo com o Pacífico sob La Niña, mas, no geral, a estação deve terminar com precipitação abaixo dos padrões históricos na maior parte do Sul do país.
A exceção pode ficar para pontos do Leste e do Nordeste de Santa Catarina e do Leste do Paraná. Nas principais áreas agrícolas da região, a perspectiva é muito negativa e o verão pode começar com déficit hídrico e umidade deficiente no solo. Historicamente, os efeitos do fenômeno La Niña na chuva são sentidos mais no final da primavera e no começo do verão.
Por isso, a MetSul Meteorologia alerta que à medida que o verão se aproximara irregularidade da chuva tende a se acentuar e algumas áreas do território gaúcho podem enfrentar maior déficit hídrico, com ameaça de prejuízos em lavouras de ciclo precoce como as de milho.
No Brasil Central, por sua vez, espera um padrão mais chuvoso que a média em muitas áreas na primavera deste ano, particularmente no Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais. Em São Paulo e no Mato Grosso do Sul, a chuva será mais variável com precipitações acima e abaixo da média na estação conforme a área do estado.
Temporais aumemtam na primavera
A MetSul destaca que a primavera é período com maior frequência de tempestades, não raro severas com intensos vendavais e granizo. São comuns sistemas convectivos de mesoescala, grandes aglomerados de nuvens carregadas, que se formam no Nordeste da Argentina e no Paraguai que depois avançam para o Sul do Brasil ou Mato Grosso do Sul.
Neste ano, com o Pacífico Leste mais frio do que o normal ou sob La Niña, a MetSul avalia que a frequência de tempestades pode não ser tão alta como se estivéssemos sob El Niño, mas quando os temporais ocorrerem podem ser muito intensos pelo maior contraste térmico entre massas de ar frio e quente.
Por isso, episódios de vendavais intensos e destrutivos localizados não necessariamente serão freqüentes, mas quando ocorrerem podem ser severos. Os tornados mais graves dos últimos 20 anos na primavera no Rio Grande do Sul se deram na maioria sob La Niña ou Pacífico mais frio que a média.
Enfatizamos que, por tendências históricas, o risco de granizo é especialmente mais elevado quando o Oceano Pacífico está sob La Niña, como é o caso da primavera deste ano, e, assim, há risco de temporais pontuais com granizo mais intensos nesta estação. No caso do Rio Grande do Sul, as regiões Central do Estado, o Noroeste, a Serra, o Planalto e os Campos de Cima da Serra são as regiões com maior propensão para granizo.
Temperatura na estação
Como estação de transição para o verão, na primavera aumenta a frequência de dias de calor e diminui os de frio. O começo da estação ainda tem características mais amenas e até com frio em alguns dias, ao passo que o final já tem padrão típico de verão. Os dias de calor aumentam, especialmente entre novembro e dezembro, quando algumas jornadas são muito quentes com possibilidade de ondas de calor e marcas perto ou acima de 40ºC.
A tendência é de uma primavera com temperatura ao redor da média na maioria das áreas do Sul do Brasil, mas entre novembro e dezembro podem ocorrer alguns períodos de calor muito intenso, destaca a MetSul. Em pontos da Metade Sul gaúcha, a estação pode ter marcas um pouco abaixo da média. A probabilidade é de marcas abaixo da média na primeira metade da estação enquanto à medida que se aproxima o verão a tendência é de temperatura acima da média.
O Pacífico mais frio tende a favorecer uma maior probabilidade de que se registrem incursões pontuais de ar frio tardias, porém de curta duração, com um risco agravado de geada em baixadas de localidades do Sul gaúcho e de maior altitude da Metade Norte do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.
A maior parte do Centro do Brasil terá uma estação de temperatura perto ou um pouco acima da média. Padrão mais chuvoso e atuação de incursões de ar mais frio no começo da estação vão fazer com que o começo da estação não seja muito quente. Áreas costeiras do Sudeste, vão, inclusive ter temperatura abaixo da média na maior parte da primavera.
Estação tem mais vento
Uma condição típica da primavera é o vento que sopra da tarde para a noite do quadrante Leste, às vezes com rajadas fortes. Como as massas de ar frio de alta pressão atmosférica começam a ter trajetória mais oceânica e o continente passa a aquecer mais, aumenta o gradiente oceano-continente de temperatura e pressão.
Com baixas pressões no Norte da Argentina e no Paraguai, o contraste térmico entre ar frio na costa e ar quente no continente assim como de pressão acentua o vento da tarde para a noite do quadrante Leste, sobretudo em outubro e novembro, o que rendeu a expressão popular de “Vento de Finados”. A estação ainda tem risco de ciclones extratropicais no Atlântico Sul e que, em alguns casos, podem ser intensos e provocar muito vento e forte ressaca do mar na costa gaúcha.