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Vale do Taquari está devastado pela enchente | GUSTAVO MANSUR/SECOM-RS

Cidades já arrasadas por duas enchentes históricas no segundo semestre do ano passado foram praticamente destruídas por uma terceira enchente, e a maior de todas, agora em maio, no Vale do Taquari. Cidades como Roca Sales, Arroio do Meio e Cruzeiro do Sul foram devastadas com obliteração em alguns bairros.

O recuo das águas do Rio Taquari permitiu enxergar um panorama chocante e desolador em comunidades do Vale do Taquari, onde a fúria das águas não deixou praticamente nada de pé em diversos locais. Bairros inteiros desapareceram e nenhuma construção resistiu em locais próximos do rio.

O Rio Taquari teve dois grandes picos de cheia neste mês. O primeiro ocorreu no início de maio, quando o nível superou a marca de 33 metros, perto de 4 metros acima dos recordes de 1941 e setembro de 2023. Foi quando os piores estragos foram observados com as águas atingindo até o terceiro andar de alguns prédios na região de Lajeado.

No começo da última semana, com a chuva intensa do último fim de semana, houve repique de cheia no Vale do Taquari, voltando a inundar várias cidades. Desta vez, as marcas nas réguas foram muito menores.

O nível chegou a 27,78 metros em Estrela, marca muito menor que a do começo do mês, mas uma grande cheia pelos valores médios históricos, uma vez que o pico do início de maio fugiu absurdamente à curva das piores enchentes da história do vale em 150 anos de dados.

Cidades do vale que recém começavam a se reerguer das enchentes do ano passado, que deixaram mais de 50 mortos, especialmente as de setembro, levaram um terceiro golpe e para muitos definitivo. Vários pontos da região permanecerão inabitáveis por anos e não restará alternativa a realocar partes das cidades em terreno mais alto.

A tragédia, de dimensões sem precedentes no estado, já deixou mais de 150 mortos e 85 desaparecidos, segundo a Defesa Civil. Mais de 617.000 pessoas foram retiradas de seus lares em um total de 446 municípios, e quase 80 mil delas estão em abrigos, informaram autoridades.

No município de Cruzeiro do Sul, de 11,6 mil habitantes, a água “passou por cima do telhado da nossa casa”, contou à AFP o pintor Silvio Kehl, 40, que mora com a mulher e a filha de 4 meses.

Depois de enfrentar a terceira inundação no local, a família decidiu se mudar: Vamos abandonar aqui antes que aconteça algo pior”. Nelson Xavier, 61, observava, resignado, o que restou da sua fábrica de concreto.

“Foram 30 anos trabalhando, lutando, e agora a gente perdeu tudo de uma hora para a outra”, lamentou. “A vontade é de abrir de novo e dar serviço para as pessoas, mas, com as minhas forças, é impossível, não tem como”.

GUSTAVO MANSUR/SECOM-RS

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O nível de destruição em Cruzeiro do Sul é estarrecedor. O maior bairro da cidade, com cerca de 500 moradias, foi varrido do mapa. Hoje, o local tem apenas destroços do que um dia foram casas e carros abandonados. À beira do rio, estão pedaços de estofados, concretos, madeiras, vigas de ferro e carros de cabeça para baixo. Em centenas de casas, somente sobrou o assoalho.

“Teve gente que morreu. Tentaram passar por cima do telhado, nunca passaram por isso. Tentaram escapar e não conseguiram escapar. Estamos procurando o pessoal até hoje”, afirmou Leandro Grizotti, de 46 anos, que mora no Centro de Cruzeiro do Sul, ao portal UOL.

A cidade quase não existe mais. Casas, árvores, postes, automóveis e tudo que estava sobre a terra foi arrastado e levado pela fúria das águas do Rio Taquari. Bairros próximos do rio parecem ter sido bombardeados com devastação total.

A MetSul, em trinta anos de atividade no Rio Grande do Sul, jamais havia observado um nível de destruição igual. Das casas somente sobraram os assoalhos e em algumas até o piso já não existe mais. As imagens dos danos da enchente recordam obliteração catastrófica por tornados e furacões de categoria 5, o máximo das escalas dos fenômenos, com ventos de 300 km/h a 400 km/h.

NELSON ALMEIDA/AFP/METSUL METEOROLOGIA

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Em Lajeado, de aproximadamente 85.000 habitantes e fortemente impactada pela cheia do rio Taquari, os destroços são abundantes no meio da lama em áreas residenciais arrasadas pela corrente de água e deslizamentos, constatou uma equipe da AFP. A destruição deixa o estado de luto, que deverá reconstruir boa parte de sua infraestrutura.

A sede do Comando Regional de Polícia Ostensiva do Vale do Taquari (CRPO), localizada na Rua Marechal Deodoro, no Centro, foi duramente atingida pela enchente. O prédio foi inundado até o terceiro andar, com perdas de equipamentos e mobiliário. A Brigada Militar está alugando um novo espaço para o comando na cidade.

NELSON ALMEIDA/AFP/CP

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O Vale do Taquari tem ainda 32 pessoas desaparecidas em razão da enchente que atingiu a região. Os dados foram atualizados pelo Departamento Médico Legal (DML) de Lajeado. Na véspera, o balanço era de 33, mas uma pessoa foi encontrada com vida no vale.

Apadrinhado pela cidade de Pomerode, Cruzeiro do Sul recebeu nesta semana o reforço de voluntários do município catarinense, localizado no Vale do Itajaí. O grupo é formado por nove pessoas. Cruzeiro do Sul foi destruída pela enchente (veja fotos).

Um dos voluntários é o servidor público municipal da prefeitura de Pomerode, Gabriel Du Boasie. Ele confessa que foi surpreendido pelo cenário com o qual se deparou em Cruzeiro do Sul.

“Quando a gente olha pela internet, imaginamos uma coisa. Mas quando a gente chega aqui o cenário é muito pior. As imagens não conseguem representar o que aconteceu aqui. É uma destruição incalculável. Têm pessoas que não sabem nem onde a casa foi parar. É um cenário de guerra”, comenta.

Na beira da curva do rio e após várias enchentes, não resta outra alternativa a Roca Sales a não ser se mudar. Segundo o prefeito, Amilton Fontana, pelo menos metade da cidade deverá ser reconstruída em outro endereço para proteger seus habitantes das cheias, disse ao jornal O Estado de São Paulo.

O sistema viário do vale foi demolido. Uma segunda passarela flutuante será instalada sobre o Rio Forqueta, para facilitar a travessia entre Lajeado e Arroio do Meio. Dessa forma, a população conseguirá atravessar nos dois sentidos ao mesmo tempo.

NELSON ALMEIDA/AFP/METSUL METEOROLOGIA

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Os efeitos na economia local são igualmente devastadores. O Vale do Taquari, além do comércio local, tem forte presença industrial. Na agricultura, produtores rurais do vale perderam mais de 30% da sua produção. A pecuária leiteira foi severamente afetada pelas inundações catastróficas.

O Vale do Taquari tem ainda 30 pessoas desaparecidas em razão da enchente que atingiu a região. Bombeiros de Santa Catarina e Mato Grosso estavam em Roca Sales neste fim de semana em busca de seis pessoas de uma mesma família que estão desaparecidas após serem atingidas por um deslizamento. Em Cruzeiro do Sul, mais um corpo foi encontrado.

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