As condições de neutralidade (ausência de El Niño e La Niña), que se estabeleceram no final do verão com o fim de um curto e fraco episódio de La Niña, persistem neste final de inverno meteorológico (trimestre junho a agosto) e vão prosseguir no curto prazo.
NOAA
Conforme os mais recentes boletins da NOAA, a agência de clima dos Estados Unidos, o Pacífico Equatorial Centro-Leste (região Niño 3.4) nos últimos dias apresentava quadro de resfriamento enquanto o Pacifico Leste (Niño 1+2) estava aquecendo.
Atualmente, a anomalia de temperatura da superfície do mar no Pacífico Equatorial Centro-Leste – região do oceano usada oficialmente para designar se há El Niño ou La Niña conhecida como Niño 3.4 – está em -0,3ºC, ou seja, na faixa de neutralidade (-0,4ºC a 0,4ºC).
Já perto da costa da América do Sul, as águas superficiais no Pacífico Equatorial junto aos litorais do Peru e do Equador, região que é denominada de Niño 1+2, estão mais quentes do que a média com anomalia de 0,8ºC, mas sem caracterização de El Niño costeiro.
A última vez em que o Oceano Pacifico Equatorial Central não apresentou uma anomalia semanal em neutralidade foi na primeira semana de fevereiro, no final do episódio de La Niña de 2024-2025.
Assim, o Pacífico completa já vários meses com as anomalias de temperatura do mar em sua região principal de monitoramento em condições neutras, logo sem o El Niño e a La Niña.
Isso contraria a tendência dos últimos anos em que houve uma rápida transição de El Niño para La Niña e vice-versa, ao final de cada episódio. Terminado o episódio de La Niña no verão deste ano, estabeleceu-se um período de neutralidade que tende a ser de mais longa duração.
Pacífico em neutralidade não significa normalidade no clima
Neutralidade é frequentemente confundida com normalidade, mesmo por profissionais da Meteorologia, mas pode trazer tanto extremos de El Niño como de La Niña. Assim, tanto na precipitação como na temperatura os sinais podem ser mistos.
Maio foi um exemplo disso. Volumes excessivos de chuva trouxera quase 500 mm de chuva no Noroeste da província de Buenos Aires com graves inundações. No Rio Grande do Sul, muitas cidades terminaram maio com chuva entre 300 mm e 500 mm, o que trouxe cheias de rios e enchentes, sobretudo no Oeste.
Os extremos se repetiram em junho. Chuva no mês de até 500 mm em algumas regiões trouxeram enchentes. O Rio Jacuí em Cachoeira do Sul igualou a cota de enchente de 1941 (ano de Super El Niño).
Além disso, este é um inverno mais frio do que a média, um dos mais frios neste século até agora mais ao Sul do Brasil, com padrão meteorológico que não está perto das normais climatológicas de temperatura.
La Niña na primavera?
A tendência, de acordo com a análise da MetSul a partir de modelos de clima e outras ferramentas, indica para os próximos três meses que as condições permaneçam neutras, mas com resfriamento do Pacifico Equatorial Central.
Conforme a mais recente atualização mensal da NOAA, publicada ontem, existe uma alta probabilidade (acima de 50%) de que as condições durante a primavera no Pacifico atinjam patamar de La Niña.
NOAA
Ocorre que, na sequência, durante o verão, segundo a projeção da NOAA, o cenário mais provável é um quadro de neutralidade, não persistindo o resfriamento no Pacifico Equatorial Central.
De acordo com a NOAA, que emitiu um La Niña Watch (emitido quando as condições são favoráveis para o desenvolvimento de La Niña nos próximos seis meses), “o mais provável é que o Pacífico Equatorial permaneça em condição neutra até o final do inverno de 2025 no Hemisfério Sul (56% de chance entre agosto e outubro)”.
Após, conforme a agência de clima dos Estados Unidos, “será favorecido um breve período com condições de La Niña na primavera e no início do verão de 2025-2026, antes de o Pacífico retornar à neutralidade durante o verão”.
Sob este cenário de probabilidade apresentado pela NOAA, o Pacífico pode apresentar anomalias de temperatura da superfície do mar típicas de La Niña durante a primavera, mas como elas não persistiriam durante o verão não se caracterizaria um evento de La Niña por ser um resfriamento de curta duração.
Caracterizando ou não um evento de La Niña, o resfriamento previsto com anomalias de temperatura da superfície do mar em patamar do fenômeno impactará o clima com redução da chuva e episódios tardios de frio no Sul do Brasil, agravando muito os riscos para a próxima campanha agrícola.
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