O Uruguai teve registro nesta segunda-feira de graupel (fenômeno conhecido também como pelotas de neve), uma forma granulada de neve. O fenômeno ocorreu em Salinas, na costa, no departamento de Canelones, sob efeito da massa de ar frio de enorme intensidade para esta época do ano que avança pela América do Sul.

JUAN JOSÉ RODRÍGUEZ

Os uruguaios e argentinos denominam este fenômeno de “granizo blando”, embora tecnicamente não seja granizo por não se originar em nuvens de tempestade. É normal que em dias gelados possam ocorrer diferentes tipos de precipitação invernal e mesmo com temperatura mais alta em superfície pelo perfil vertical muito gelado da atmosfera e ainda seco que favorece a conservação parcial (caso do grauepel) ou total dos flocos que deixam as nuvens.

De acordo com o glossário da Sociedade Americana de Meteorologia, graupel é um fenômeno caracterizado por floco de neve envolto em gelo e também conhecido como pelota de neve. A AMS define ainda que freqüentemente é difícil distinguir de granizo miúdo, exceto pela convenção que para caracterizar granizo precisa ter diâmetro superior a 5 mm.

Já o Laboratório de Tempestades Severas da NOAA, a agência de tempo e clima do governo dos Estados Unidos, explica que o granizo somente ocorre em nuvens de tempestade de grande desenvolvimento vertical e que não sendo este caso, sob frio, é pelota de neve ou graupel.

O fenômeno costuma ocorrer no Uruguai, especialmente em cidades perto da costa, quando de massas de ar frio de forte intensidade. Nuvens de maior desenvolvimento vertical se formam sob o ar muito frio, em mar ou terra, avançando algumas do oceano para o continente, e trazem chuva congelada ou graupel.

FRIO VAI AUMENTAR

O Rio Grande do Sul experimentou nesta segunda tarde incomum para a virada do mês de outubro para novembro com chuva, vento e temperatura que seria baixa até para os padrões do inverno. Consequência de uma frente fria e massa de ar frio de muito forte e atípica intensidade para esta época do ano.

Estações oficiais indicavam às 15h temperatura de apenas 9,6ºC em Canela, 9,7ºC em Encruzilhada do Sul, 10,0ºC em São José dos Ausentes, 10,1ºC em Ibirubá, Santa Rosa e em Santiago, 10,2ºC em Palmeira das Missões e Bento Gonçalves, 10,3ºC em Cambará do Sul, 10,7ºC em Lagoa Vermelha, 11,1ºC em Caçapava do Sul, 11,2ºC em Santa Maria, 11,4ºC em Camaquã e Canguçu, e 11,6ºC em Erechim.

Em Porto Alegre, na estação oficial do Jardim Botânico, a temperatura às 15h era de só 13,4ºC. O valor é excepcionalmente baixo para esta época do ano. Para se ter ideia, a média histórica das máximas (que ocorrem à tarde) é de 25,2ºC em outubro e 27,7ºC no mês de novembro, ou seja, a temperatura às 15h estava 13ºC abaixo do que é normal para esta época do ano.

Somente oito tardes em todo o inverno climático deste ano (trimestre de junho a agosto) tiveram temperatura em Porto Alegre mais baixa que a de hoje às 15h e se deram nas grandes massas de ar frio da estação. Foram nos dias 1/6 (11,9ºC), 2/6 (13,3ºC), 11/6 (12,7ºC), 12/7 (13,3ºC), 17/7 (13,3ºC), 9/8 (13,0ºC), 18/8 (12,5ºC) e 28/8 (12,6ºC). Não bastasse a chuva, ainda tinha vento para aumentar a sensação de frio.

A temperatura às 17h era de 7,8ºC em Palmeira das Missões, 8,4ºC em Santa Rosa, 8,5ºC em Ibirubá e Tupanciretã, 9,7ºC em Passo Fundo e Lagoa Vermelha, e 12,7ºC em Porto Alegre. Só nos dias mais frios do inverno se tem temperatura neste patamar no horário.

O sol aparece com nuvens nesta terça no Rio Grande do Sul com o afastamento da frente fria, mas ainda ocorrem momentos de maior nebulosidade em parte do estado. Uma massa de ar frio de grande intensidade e incomum para a época do ano associada a um enorme centro de alta pressão na Argentina cobre o estado neste primeiro dia de novembro.

O ar frio induz nuvens que vão trazer chuva localizada no Leste e no Nordeste gaúcho, embora o sol apareça com nuvens. Não se afasta chuva congelada em áreas de maior altitude do Nordeste gaúcho. O dia começa muito frio para novembro e com geada tardia em pontos do Centro, do Oeste da Campanha. A tarde será fria para novembro, embora com máximas mais altas que as de hoje.

CHANCE DE NEVE E/OU CHUVA CONGELADA

Não se pode descartar a ocorrência de neve em cotas de maior altitude, acima de 1.000 metros de altitude do Nordeste do Rio Grande do Sul e do Planalto Sul Catarinense entre esta terça e a quarta à medida que ar mais gelado em altura alcança estas áreas e com previsão de instabilidade. A chance é maior para o Planalto Sul Catarinense, onde as cotas de altitude são mais altas. Em cotas menores pode ocorrer chuva congelada, outra forma de precipitação invernal.

Os modelos numéricos reduziram demais a probabilidade de neve no Sul do Brasil, embora um ou outro ainda indique chance menor, mas sem extensão e intensidade como projetavam na última semana. No fim de semana, em geral, os modelos começaram a reduzir a probabilidade do fenômeno.

Se vier a nevar, será um fato extraordinário porque não se tem registro de neve em novembro. É provável que tenha nevado em novembro nos séculos 18 e 19, no final de uma era climática conhecida como Pequena Idade do Gelo, mas nos últimos 100 anos não se tem nenhum dado ou documento histórico que mostre neve no Brasil em novembro.

Conforme o geógrafo Nilson Wolff, autor do livro “A Neve no Brasil”, o registro documentado mais tardio de neve no Brasil se deu no final de outubro, sem precedentes do fenômeno em novembro. O episódio se deu, segundo anotações históricas, entre 19 e 20 de outubro de 1946 em São Francisco de Paula.