O nosso planejamento era deixar a análise técnica do Professor Eugenio Hackbart abaixo por mais tempo no topo da página, mas, como se diz, “não dá pra brigar com a notícia”, e o que se observou no fim da tarde merece destaque. A MetSul recebeu via Twitter um grande número de boas fotografias no começo da noite mostrando um belo entardecer em Porto Alegre pelas formações no céu. As imagens são de Rodrigo Goulart, Tiago Tomasel, Bibiana Arriaga, Cristiano Aita Noro e Carlos Wolff.


Inicialmente, a hipótese aventada pela nossa equipe era tão simples como nuvens. À tarde era possível observar no canal visível de satélite trens de nuvens, como se fossem “street clouds”, sobre a Metade Norte do Estado. Esta hipótese começou a sucumbir quando no começo da noite entrou a imagem de satélite em alta resolução da tarde com várias trilhas de condensação deixadas por aviões, especialmente no Oeste do Estado e na Lagoa dos Patos. O martelo foi batido por contrails quando vimos no Facebook o nosso colaborador Clécio Ruver, de Crissiumal, no Noroeste do Estado, postar a foto abaixo dos rastros dos aviões com o comentário que foram vários durante o dia.


A ciência das trilhas de condensação (contrails) dos aviões é cercada de controvérsias. As trilhas são observadas na forma de rastros deixados pelo resfriamento do vapor de água a partir dos exaustores dos aviões. Quem está a bordo não consegue notar, mas do solo, as linhas são muito visíveis. Por que alguns duram tão pouco e outros muito tempo no céu ?

A duração deles está associada a condições de temperatura e vento, mas a maior parte da literatura aponta para os níveis de umidade. Quando na altitude em que estão voando as aeronaves, via de regra ao redor de 10 a 11 mil metros, o ar está mais seco os contrails duram pouco. Se a atmosfera estiver mais úmida, eles tendem a permanecer mais tempo no céu. Então, com base neste dados, fomos buscar como estava a umidade nas altitudes de cruzeiro com base nas sondagens das nove da manhã de hoje de Uruguaiana e Santa Maria. Ambas mostraram parcela da atmosfera bem mais úmida entre 10 e 12 mil metros de altitude com 54% de umidade a 11420 metros sobre o município da fronteira Oeste.


Em 3 de junho de 2010 tivemos um episódio semelhante ao registrado hoje (leia) aqui no Estado, até mais significativo pela análise das imagens de satélite. Também naquele dia as sondagens mostravam uma camada úmida entre 10 e 12 mil metros. Em Santa Maria, os dados do balão mostraram umidade de 58% a 12 mil metros.


Há estudos indicando que, em áreas de alto tráfego aéreo, estas trilhas de condensação podem aumentar a cobertura de nebulosidade, alterando o clima local. No mar, marinheiros costumam enxergam os rastros deixados pelas aeronaves para saber o que pode ocorrer com o tempo. Segundo eles, se o avião não deixa trilha no céu ou ela se dissipa rápido, a tendência é de tempo bom. Por outro lado, se a marca se mantém no céu por muito tempo é um sinal de mudança do tempo.