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Na noite de 11 de outubro de 2000, um tornado de grande intensidade atingiu o distrito de Águas Claras, no município de Viamão, na Região Metropolitana de Porto Alegre. O fenômeno surpreendeu os moradores e provocou destruição em uma faixa de alguns quilômetros, deixando um rastro de devastação e medo.

DEFESA CIVIL

O episódio se tornou um marco na história climática do Rio Grande do Sul, tanto pela força dos ventos quanto pelo impacto psicológico que causou em quem vivenciou a tragédia.

O tornado se formou em meio a uma tempestade muito severa, que se desenvolveu durante a noite sobre a região metropolitana. Imagens de satélite e registros meteorológicos indicam que as condições atmosféricas eram extremamente favoráveis à ocorrência de fenômenos convectivos intensos com poderosas áreas de instabilidade que avançam de Oeste e provocaram tempo muito severo entre Porto Alegre e o Litoral Norte.

Antes de atingir Viamão, o sistema já havia provocado estragos na zona sul de Porto Alegre, especialmente no bairro Belém Novo, onde fica localizado o aeroclube da capital.

Lá, um portão metálico de grande peso foi arrancado e lançado contra aeronaves, danificando aviões estacionados no pátio. Esse portão havia sido projetado para resistir a ventos de até 150 ou 180 km/h, o que indicou, segundo técnicos, que as rajadas ultrapassaram com folga esse valor.

A tempestade seguiu para o Leste e atingiu em cheio a região de Águas Claras, já dentro do território de Viamão. Ali, o fenômeno apresentou as características típicas de um tornado de categoria F3 na Escala Fujita, com ventos estimados de mais de 200 km/h.

Casas foram totalmente destruídas, árvores centenárias arrancadas pela raiz e automóveis lançados a vários metros de distância.

O cenário, segundo relatos da época, lembrava cenas de guerra: galpões desabaram, telhados desapareceram e o chão ficou coberto por destroços e vegetação arrancada.

Motoristas ficaram feridos na ERS-040 com os vidros dos seus carros sendo destroçados pelo granizo enquanto trafegavam pela rodovia. Um carro chegou a ser virado pela força do tornado.

A faixa de devastação provocada pelo tornado foi estimada entre 250 e 300 metros de largura, de acordo com levantamentos feitos por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e meteorologistas da MetSul Meteorologia.

REPRODUÇÃO

A intensidade e a extensão dos danos confirmaram que o fenômeno não se tratava de um simples vendaval, mas de um tornado plenamente desenvolvido — algo ainda pouco comum de ser registrado com clareza no Brasil naquela época.

O tornado provocou pelo menos uma morte confirmada e deixou diversos feridos. Muitas famílias ficaram desabrigadas após o evento, e parte da comunidade teve de ser assistida pela prefeitura de Viamão e pela Defesa Civil. A rede elétrica e telefônica foi severamente danificada, o que dificultou a comunicação e o resgate nas horas seguintes.

As imagens feitas no dia seguinte mostravam troncos de árvores decepados como se tivessem sido cortados por uma serra, postes retorcidos e veículos amassados pela força do vento. Um veículo escolar foi deslocado de sua posição e tombou em meio aos destroços.

O contexto meteorológico da época ajuda a entender a dimensão do episódio. O ano de 2000 estava sob influência do fenômeno La Niña, caracterizado pelo resfriamento das águas do Oceano Pacífico equatorial.

Essa condição costuma modificar o regime de ventos e de umidade sobre o Brasil, favorecendo o ingresso de massas de ar frio e o contraste térmico — um dos ingredientes fundamentais para a formação de tempestades severas.

O caso de Águas Claras é frequentemente citado em estudos meteorológicos do Rio Grande do Sul como um exemplo de tornado de grande intensidade em ambiente subtropical. Embora tornados ocorram no Brasil com certa regularidade, poucos atingem áreas povoadas e deixam registros tão evidentes de destruição como o de Águas Claras. Em 2000, o Rio Grande do Sul ainda não contava com radares meteorológicos modernos capazes de identificar a rotação das tempestades, o que dificultou a detecção e a emissão de alertas antecipados.

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