No último mês de agosto, um forte terremoto registrado perto das Ilhas Sandwich do Sul, no Atlântico Sul, atraiu a atenção dos cientistas que sabiam que algo incomum recém havia ocorrido. “Em cerca de 20 a 25 minutos, percebemos que algo estranho estava acontecendo”, disse Stuart Weinstein, vice-diretor do Centro de Alerta de Tsunami do Pacífico, administrado pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica.
Algoritmos que caracterizam terremotos estavam falhando, disse ele. Um tsunami foi gerado pelo terremoto que espalhou ondas viajando ao redor do mundo. Agora, uma nova pesquisa sugere que um terremoto oculto – maior do que as estimativas iniciais – gerou esse tsunami das ilhas a Leste da ponta sul da América do Sul até o Alasca.
O terremoto escondido, que sacudiu a terra sob as remotas ilhas cobertas de gelo, inicialmente passou despercebido porque fazia parte de uma série complexa de tremores, de acordo com um estudo publicado neste mês na revista Geophysical Research Letters.
Os observadores do tsunami naquele dia estavam em alerta depois que o terremoto de 7,5 graus de magnitude foi observado cerca de 40 quilômetros abaixo da superfície da Terra, mas era improvável que um terremoto profundo desse tamanho produzisse um poderoso tsunami, então eles ficaram surpresos com o tamanho das ondas que ele gerou.
“Ficamos cientes do tsunami imediatamente”, disse à NBC Summer Ohlendorf, oficial de ciências do Centro Nacional de Alerta de Tsunami dos Estados Unidos, que não fez parte da nova pesquisa. “Foi um pouco maior do que o esperado com base nos parâmetros do terremoto.”
O novo estudo diz que, na verdade, houve cinco terremotos ao longo de vários minutos, incluindo um de magnitude 8,2 e muito mais raso. Os primeiros relatórios não identificaram o sismo que provavelmente causou o tsunami. A análise pode ajudar a estimular melhorias nos sistemas de alerta de terremotos para que eles considerem melhor eventos incomuns e complexos.
O terremoto produziu ondas que tinham amplitudes de mais de meio metro no medidor de maré mais próximo, antes de se espalharem pelo mundo com impactos menores. “Foi poderoso o suficiente para se propagar ao redor do Oceano Antártico e em torno de todas os oceanos próximos”, disse Weinstein. “Foi registrado por estações de nível do mar em todo o mundo”, afirmou.
O pesquisador explicou que não há regras rígidas e rápidas sobre quando um tsunami pode causar inundação porque depende muito da natureza do litoral afetado. Mas quando as ondas excedem 1 metro é quando “você precisa se preocupar com a ameaça de inundação”, disse ele.
Os sinais sísmicos de todos esses eventos interferiram uns nos outros porque os terremotos ocorreram em intervalo muito curto, analisou Zhe Jia, sismólogo do Instituto de Tecnologia da Califórnia e principal autor do estudo. O terremoto inicial mascarou o terremoto mais poderoso e mais lento, que foi o terceiro da série. “O terceiro é muito especial. É silencioso”, disse. “Um evento enorme, oculto e lento como o terceiro subevento pode levar a uma subestimação significativa de tsunamis”.
As Ilhas Sandwich do Sul, um território britânico ultramarino, são uma série de pequenas massas de terra formadas por vulcões que estão a mais de 1.600 quilômetros da ponta Sul da América do Sul. Cerca de metade da paisagem das ilhas está permanentemente coberta de gelo.
Ninguém mora nas ilhas permanentemente e elas não possuem hotéis, mas pesquisadores e turistas podem visitar, de acordo com seu governo territorial. O terremoto sacudiu bastante as ilhas. “Se o mesmo terremoto ocorresse em regiões densamente povoadas provavelmente seria devastador”, explicou Jia.
A ilha não possui equipamentos para medir eventos sísmicos, disseram os pesquisadores. “Encontra-se em um local bastante remoto, é muito difícil estudar terremotos como esse. Não há muitos dados disponíveis para analisá-los”, explicou Jeremy Maurer, professor assistente de geociência na Universidade de Ciência e Tecnologia do Missouri.
Para examinar o que aconteceu em detalhes, os pesquisadores do Caltech da Califórnia construíram um novo algoritmo que foi capaz de dividir o terremoto em cinco eventos diferentes. Os pesquisadores descobriram que o maior terremoto, que durou mais de 3 minutos e representou cerca de 70% da energia total liberada, foi escondido pelas outras ondas sísmicas dos terremotos registrados minutos antes.
Quando os pesquisadores observaram comprimentos de onda mais longos, que indicam um terremoto de movimento mais lento, eles foram capazes de ver mais claramente o que havia acontecido.
A diferença entre um terremoto de magnitude 8,2 e um terremoto de magnitude 7,5 é substancial, com cerca de 10 vezes mais energia liberada no de 8,2, de acordo com o Serviço Geológico dos Estados Unidos. Terremotos mais rasos também têm mais potencial de tsunami. “Quanto mais profundo o terremoto, menos efeito ele tem na superfície”, afirmou Jeremy Mauer.
Os pesquisadores explicam que a nova análise é abrangente e valiosa para entender com mais precisão o que aconteceu. Zhe Jia antecipa que os futuros sistemas de monitoramento de terremotos e tsunamis devem ser ajustados para processar com mais precisão terremotos extraordinariamente complexos.
Weinstein, por sua vez, acrescentou que a pesquisa reforça os argumentos para o estabelecimento de um sistema de monitoramento de terremotos no Atlântico Sul, algo que está sendo considerado por um grupo de especialistas da Comissão Oceanográfica Intergovernamental das Nações Unidas.
“Também precisamos aumentar a quantidade de equipamentos que temos”, disse Weinstein. “Precisamos de mais informações sísmicas” das Ilhas Sandwich do Sul, incluindo estações para medir o nível do mar e bóias que medem as mudanças de pressão à medida que os tsunamis passam do fundo do oceano.