Fernando Oliveira

O outono, que começa à 0h50 desta sexta-feira (20), caracteriza-se como uma estação de transição do calor do verão para o frio do inverno. A estação começa com o Pacífico sob uma condição de neutralidade, o que é desfavorável para a recuperação rápida do déficit hídrico que levou o Rio Grande do Sul e outras áreas do Sul do Brasil a um quadro de estiagem.

No decorrer do outono, a tendência é de resfriamento gradual do Pacífico Equatorial Central, e há modelos climáticos sinalizando a possibilidade de evento de La Niña no segundo semestre, o que é prematuro prever por não haver ainda um relativo consenso entre os dados.

O outono marca a expectativa pela chegada do frio, mas o começo da estação normalmente ainda tem características térmicas por vezes de verão. A chegada do outono não significa que o calor fica para trás, adverte a MetSul.

Alguns dias quentes são normais em abril e maio e devem ocorrer em 2020. Mesmo em junho podem ser esperados alguns dias quentes e deve ser o caso desse ano. Quando há período quente mais prolongado em maio após dias frios há a ocorrência do chamado veranico de maio, mas ele nãoocorre todos os anos.

A MetSul espera um outono com predomínio de dias agradáveis neste ano com marcas acima das médias históricas de temperatura na maior parte da estação. Os episódios de frio tendem a ser pontuais, eventualmente fortes à medida que se aproxima a chegada do inverno.

Não se espera frio muito intenso cedo, como se viu em 1999 e 2016, quando chegou a nevar no Sul do Brasil em abril. A tendência é que não ocorra frio persistente ou prolongado em grande parte deste outono.

O outono, em regra, possui três períodos. No primeiro, até o fim da primeira quinzena de abril, costumam prevalecer as marcas mais elevadas nos termômetros com períodos esporádicos de calor mais forte. Na segunda metade de abril se dá o segundo, quando a freqüências de dias amenos ou frios aumenta e já podem ocorrer, dependendo do ano, até algumas noites com geada. Este período perdura até a metade de maio, quando tem início o terceiro comcaracterísticas climáticas já próximas daquelas observadas no inverno.

Outra marca do outono é a grande diferença de temperatura da noite pro dia. Trata-se de um dos períodos do ano com maior amplitude térmica e que também proporciona um aumento nos dias de nevoeiro, especialmente a partir de maio”, destaca a meteorologista Estael Sias.

Com freqüência, sob condições de céu limpo e ar seco, a temperatura pode variar até 20ºC ou mais no mesmo dia, o que força o uso de roupas mais pesadas no começo da manhã e vestuário mais leve no período da tarde.

O Oeste e o Sudoeste do Estado têm maior propensão a ter temperatura média mais baixa com um maior número de dias com madrugadas frias. Comum no outono é a ocorrência de bruscas mudanças de temperatura.

Muitas vezes na estação frentes frias avançam e as marcas nos termômetros que podem estar acima de 30ºC imediatamente antes da chegada da frente podem cair para valores abaixo de 10ºC em poucas horas”, destaca Estael Sias.

Estas mudanças não raro são acompanhadas de vento forte do quadrante Oeste, do tipo Minuano, quando da presença de um ciclone mais intenso no Atlântico. O vento forte costuma vir com ciclones extratropicais (sistemas de baixa pressão), fenômeno que se torna mais freqüente justamente a partir do outono e que impulsiona o ar polar para o Sul do Brasil.

As rajadas costumam variar, em média, entre 50 e 100 km/h, dependendo do posicionamento do sistema de baixa pressão. Em alguns casos mais extremos, as rajadas ultrapassam 100 km/h no Sul e no Leste gaúcho com fortes ressacas do mar na costa.

O outono caracteriza-se ainda por uma mudança no regime de chuva. Enquanto no verão as precipitações se originam mais de nuvens carregadas que se formam pelo calor e a umidade alta, a partir do outono a chuva passa a ter como causa principal a passagem de frentes frias e centros de baixa pressão.

Em junho, não raro, se produz a atuação de frentes quentes, muito menos comuns aqui que as frentes frias e que quando ocorrem trazem altos volumes de chuvae ainda temporais com muitos raios e, principalmente, granizo.

O outono é a época do ano com menor freqüência de temporais no território gaúcho, mas esses ocorrem em qualquer época do ano. Tempestades ocorrem no outono quando há bruscas trocas de massas de ar e podem ser até muito severas e com danos, inclusive com histórico de tornados, especialmente quando da passagem de frentes frias fortes associadas a ciclones extratropicais. Frentes quentes, especialmente em junho, igualmente costumam gerar tempestades,

Quanto à chuva, observam os meteorologistas da MetSul, a expectativa é que o outono deste ano seja marcado por precipitações irregulares com a maior parte da estação ainda com chuva abaixo da média. Os volumes e a frequência da chuva tendem a aumentar à medida que se aproximar o inverno, quando cresce a possibilidade de eventos pontuais de chuva com volumes muito altos.

Com isso, não se antecipa uma reversão rápida do quadro de déficit hídrico nas localidades com baixos níveis de reservatórios ou racionamento de água. A tendência, ao contrário, nas primeiras semanas do outono é de agravamento do quadro com chuva abaixo a muito abaixo da média e mais municípios passando a adotar racionamento de água.