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Um violento temporal atingiu o extremo Sul da cidade de Porto Alegre por volta das 17h de ontem (16) com chuva torrencial, granizo de pequeno a médio tamanho e rajadas de vento muito intensas e em alguns pontos destrutivas. Tratou-se de uma tempestade severa pela força dos fenômenos associados como vento e granizo.

A tempestade derrubou árvores e postes, causou danos em telhados e deixou moradores de diferentes pontos da região sem luz. Equipe da Defesa Civil de Porto Alegre se deslocou para a estrada Retiro da Ponta Grossa e para áreas dos bairros Ponta Grossa, Serraria e Restinga para atender as ocorrências da tempestade.

Conforme a Secretaria de Serviços Urbanos, o vendaval derrubou maior número de árvores nos bairros Serraria e Ponta Grossa. Na estrada principal da Ponta Grossa, um grande número de árvores e postes veio ao chão com a força do vento, o que também afetou a rede elétrica. Na Rua Doutor Mário Totta, árvore desabou sobre muro de residência.

O temporal muito forte causou falta de luz em muitos pontos mais ao Sul e Leste de Porto Alegre com registro de falta de luz nos bairros Restinga, Lomba do Pinheiro, Aberta dos Morros, Ipanema, Ponta Grossa, Tristeza, Cavalhada, Cristal, Lami e Camaquã.

A chuva, embora de curta duração, teve elevado volume em curto período, o que provocou alguns pontos de alagamentos em vias da zona Sul da cidade. A chuva torrencial veio com queda de granizo em alguns pontos com pedras de gelo de tamanho médio a grande.

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Após o forte temporal, o sistema de abastecimento de água Belém Novo ficou sem energia elétrica. Os bairros afetados foram Belém Novo, Restinga, Lajeado, Lami, Ponta Grossa, Hípica, Aberta dos Morros, Campo Novo, Vila Nova, Pitinga e Lomba do Pinheiro.

Supercélula causou a tempestade severa

O temporal foi consequência de uma pequena e poderosa célula de instabilidade que se formou na margem Oeste da Lagoa dos Patos, imediatamente a Sudoeste da capital gaúcha, por conta da atuação de área de baixa pressão atmosférica que atua no Rio Grande do Sul.

O núcleo de instabilidade intensa se originou na região de Barra do Ribeiro, onde gerou temporal com queda de granizo com pedras de médio a grande tamanho que perfuraram telhados e os vidros de automóveis. A localidade de Serrinha entre Barra do Ribeiro e Guaíba foi a mais castigada pela violência do temporal de granizo de grande diâmetro.

A célula de instabilidade, então, avançou para a cidade de Guaíba com temporal forte e alguns estragos, e depois para o extremo Sul de Porto Alegre. A célula, com seu deslocamento Leste-Nordeste, não se deslocou para a área mais densamente povoada do Centro e Norte da cidade, onde apenas houve chuva fraca.

Embora a violência da tempestade severa entre Barra do Ribeiro, Guaíba e o extremo Sul da cidade de Porto Alegre, a atmosfera estava apenas moderadamente instável, conforme análises dos modelos e dados de sondagem atmosférica. O índice Showalter, por exemplo, estava com valores de -1 a -2 na área de formação da tempestade, o que é compatível com instabilidade moderada.

A estação meteorológica do Instituto Nacional de Meteorologia instalada no Aeroclube do Rio Grande do Sul, no bairro Belém Novo, no extremo Sul de Porto Alegre, registrou rajadas de vento de até 108 km/h durante a passagem do temporal depois das 17h.

A estação anotou 30,6 mm de chuva em poucos minutos na passagem do temporal. Outros pontos de medição de chuva na zona Sul da cidade acusaram até o fim da tarde ainda 33 mm no Cristal e 10 mm em Belém Velho.

O sensor GLM do satélite GOES-16 para monitoramento de raios registrou durante o domingo, conforme dados levantados pela MetSul Meteorologia, 531 descargas elétricas na cidade de Porto Alegre, 596 no município de Guaíba e 438 em Barra do Ribeiro.

Temporal intenso nesta época é menos comum

O temporal de ontem foi o mais intenso a ter atingido a cidade de Porto Alegre neste ano até agora. Em nenhum dos meses mais quentes do verão, embora tenham ocorrido dias de excessivo calor, se deu temporal com a intensidade observada no extremo Sul da cidade na tarde de ontem.

Trata-se de um fato pouco comum, uma vez que os temporais mais fortes na cidade ou se dão na primavera ou no verão, no período com a temperatura mais alta. Em alguns casos, nos meses do inverno, podem ocorrer temporais fortes pelo contraste grande de ar quente frio.

Não chegou a ser um dia muito quente na capital gaúcha. O domingo teve máxima na estação do bairro Jardim Botânico de 26,7ºC e de 26,4ºC em Belém Novo. Na Grande Porto Alegre é que aqueceu mais com 28,9ºC em Campo Bom.

Os meses de abril e maio na cidade de Porto Alegre costumam ser os de menor frequência de tempo severo na climatologia anual, fazendo com que haja menos temporais na comparação com outros meses. Que ocorra um temporal e ainda violento contraria a climatologia média da capital gaúcha de abril.

Possível dowburst mais ao Sul da cidade

O caráter localizado dos danos mais severos e o fato de ter sido uma supercélula bastante localizada de tempestade com vento muito intenso a destrutivo acompanhado de chuva sugere uma alta probabilidade que tenha ocorrido um downburst no extremo Sul da cidade.

O que é um dowburst ou micr0-explosão atmosférica? Este tipo de fenômeno ocorre principalmente no verão porque é a época em que os dias são muito quentes e, sob a presença de umidade alta, formam-se nuvens de grande desenvolvimento vertical do tipo Cumulonimbus (Cb) que podem atingir até 15 a 20 quilômetros de altura e são capazes de gerar vento destrutivo.

Em sua página na internet, o National Weather Service dos Estados Unidos explica o que é um downburst – uma corrente descendente de vento violenta – que é capaz de produzir estragos e danos tão graves quanto o de um tornado pela enorme velocidade que o vento pode atingir durante os episódios deste tipo de fenômeno.

“Um downburst é uma forte e relativamente pequena área de ar rapidamente descendente debaixo de uma tempestade que pode resultar de vento muito forte em altitude sendo transportado para a superfície. Ou pode ser efeito do resfriamento muito rápido do ar com a chuva que evapora em uma atmosfera inicialmente seca. O ar mais frio e denso desce rapidamente para a superfície.

Um downburst se diferencia do vento uma tempestade comum pelo seu potencial de causar danos próximos à superfície, onde se espalham ou divergem consideravelmente. Ao contrário, em tornados convergem para uma faixa estreita do terreno.

Downbursts intensos podem ser fenomenais. Velocidades do vento podem atingir marcas tão altas quanto as observadas de 281 km/h em Morehead City (Carolina do Norte) e 254 km/h na base aérea de Andrews (Maryland). Fortes episódios de downburst podem causar sons e ruídos que as pessoas frequentemente mencionam como sendo de um trem de carga, termo tipicamente associado a tornados.

Embora downbursts não sejam tornados, podem causar danos equivalentes a de um tornado pequeno ou médio, afinal vento é vento. Downbursts são classificados como macrobursts ou microbursts, dependendo da extensão da área afetada pelo vento. Os danos de macrobursts se estendem horizontalmente por mais de quatro quilômetros enquanto nos microbusts os ventos destrutivos ocorrem em área inferior a quatro quilômetros”.

Uma nuvem Cumulonimbus, pelas suas correntes ascendentes e descendentes violentas, dentro e junto à nuvem gera turbulência forte a severa, granizo, formação de gelo, raios e por vezes tornados, o que é um risco para as aeronaves principalmente no pouso e decolagem ante o perigo de cortantes de vento e correntes descendentes violentas (microburst).

Depois de vários acidentes aéreos causados por correntes descendentes (downbursts) nos Estados Unidos, aeroportos passaram a contar com radares meteorológicos e foram realizados vários estudos no país.

O caso mais famoso é do desastre do voo Delta 191 em que morreram 137 pessoas. A aeronave se preparava para pousar no aeroporto de Dallas quando foi atingida por um microburst, uma corrente de vento descendente intensa em uma nuvem de tempestade, e o avião foi levado a se chocar contra o solo a um quilômetro da pista.