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Tempestade solar extrema causa auroras em várias partes do mundo na noite desta sexta | PIERRE VERNAY/BIOSPHOTO/AFP/METSIUL METEOROLOGIA

Tempestade solar mais forte em vinte anos atinge o nosso planeta nesta noite, com um espetáculo de luzes coloridas pelas auroras austral e boreal nos dois hemisférios do planeta. A enorme atividade geomagnética já era esperada com a intensidade atividade solar dos últimos dias.

A tempestade geomagnética é tão forte que as auroras podem ser observadas em latitudes médias. Grande parte da Europa observou a aurora nesta noite de sexta, mesmo locais no Sul da Itália, perto do Mediterrâneo.

A tormenta solar é resultado da chegada da primeira das seis ejeções de massa coronal lançadas em direção à Terra pela mancha solar gigante AR3664, e que atingiu hoje o campo magnético do nosso planet.

A ejeção sacudiu magnetômetros em todo o mundo e desencadeou uma tempestade geomagnética, que agora é extrema. Mais ejeções estão seguindo para a Terra e podem prolongar a tempestade até este fim de semana.

A mancha solar de onde partem as ejeções de plasma solar cresceu nos últimos dias e atingiu cerca de 200 mil quilômetros de largura, mais de 15 vezes o diâmetro da Terra. A mancha é enorme e segue disparando poderosas explosões solares e ejeções de massa coronal, algumas das quais podem atingir a Terra e aumentar nossas auroras neste fim de semana.

A colossal mancha solar AR3664 desencadeou a sua explosão solar mais poderosa até agora nesta sexta e novamente com orientação para a Terra. A explosão X3.98 atingiu o pico nas primeiras horas do dia, desencadeando a perda temporária ou completa de sinais de rádio de alta frequência (HF) na Ásia, Europa Oriental e África Oriental.

A tempestade produziu auroras generalizadas em ambos os hemisférios. Na maioria dos países da Europa, as redes sociais foram tomadas de imagens do céu repleto de cores pela aurora boreal, como na Inglaterra, França e Alemanha.

O Serviço Meteorológico Nacional da Argentina descreveu a noite como “histórica”. Jamais os observadores do SMN tinham observado as auroras austrais tão ao Norte no continente antártico.

Em um fato raro, que só ocorre em tempestades geomagnéticas das mais extremas, a aurora austral pôde ser vista na noite desta sexta-feira em Ushuaia, província da Terra do Fogo, no extremo Sul da Argentina. O céu ficou avermelhado na cidade patagônica.

O Centro de Previsão de Tempo Espacial da NOAA, dos Estados Unidos, alertava para uma tempestade geomagnética severa (G4), o primeiro aviso deste tipo desde 2005. Nesta noite, elevou a tempestade solar para extrema (G5), o que não ocorria desde a tempestade solar do Dia das Bruxas de 2003, que causou apagão na Suécia e causou problemas em transformadores de energia na África do Sul.

Uma tempestade solar ou geomagnética é uma grande perturbação da magnetosfera da Terra, a área ao redor do planeta, e é causada por erupções solares que liberam muita energia. Embora o Sol proporcione a vida, ele também ‘espirra’ com frequência, ejetando bilhões de toneladas de plasma quente no espaço em colossais bolhas de plasma e rajadas de poderosa radiação eletromagnética como raios X, raios gama e fluxos de partículas altamente energéticas.

Quais impactos para nós de uma tempestade solar?

A esmagadora maioria das explosões solares não tem qualquer efeito em nossas vidas. As tempestades solares, diferentemente das tempestades de tempo terrestre que trazem vento, chuva, granizo e raios, costumam ser mais percebidas nas regiões polares com efeitos nos sinais de rádio utilizado por radioamadores, navios e aviões, sem mencionar as auroras austral (Sul) e boreal (Norte).

O que às vezes uma tempestade geomagnética mais forte pode alterar em nossas vidas de forma mais comum é impacto no sinal de televisão. Quando há tempestade geomagnética de maior potência, é comum haver interferência nos sinais de televisão que são transmitidos por satélite. Por isso, muitas vezes no passado quem tem televisão por assinatura já viu um aviso na tela de oscilação de sinal em razão de atividade solar.

Os casos mais extremos, e raros, podem ter um impacto maior na vida das pessoas, além de perigo para astronautas no espaço pela exposição à radiação solar. Quando se produz uma explosão do tipo X muito poderosa é alto o risco de que haja efeitos sobre o sistema elétrico na Terra.

O risco de impacto em nosso planeta aumenta se a explosão solar se der numa mancha na superfície solar que estiver voltada ou quase voltada no ângulo do nosso planeta, uma vez que a ejeção de massa coronal resultante da explosão estará diretamente voltada para a Terra.

Um exemplo clássico de impacto de tempo espacial por atividade solar é a tempestade forte a severa geomagnética de 1989. Uma explosão solar X15 (a de ontem foi 1.0) no dia 6 de março gerou uma ejeção de massa coronal voltada para Terra e isso causou uma enorme tempestade em nossa ionosfera três dias depois.

Neste episódio marcante de 1989, auroras, incrivelmente, puderam ser vistas nos estados da Flórida e do Texas, no Sul dos Estados Unidos. Muitos satélites perderam o controle por horas e o mais importante em previsão do tempo, o GOES, deixou de gerar imagens. Transmissões de emissoras de rádio por ondas curtas foram muito afetadas.

Tempestade solar mais forte em duas décadas atinge a Terra nesta noite | JORGE MANTILLA/NURPHOTO/AFP/METSUL METEOROLOGIA

O fato grave, porém, ocorreu no Canadá. A tempestade solar de 9 de março de 1989 causou um enorme blecaute na província canadense de Quebec. A característica do solo rochoso da região, que evitou que a corrente fosse para a terra, e as longas linhas de transmissão colaboraram para uma falha maciça do sistema elétrico que deixou milhões de pessoas sem luz por nove horas.

O fato fez com que a indústria elétrica nos Estados Unidos e na Europa adotasse uma série de medidas preventivas para este tipo de evento como programas de redução de risco associados a correntes induzidas geomagneticamente.

Os tipos de explosão no Sol 

Assim como em fenômenos na Terra temos diferentes escalas para definir os fenômenos e sua intensidade (Richter para terremotos, Saffir-Simpson para furacões ou Fujita para tornados), as explosões solares também possuem uma escala que é baseada em letras e números.

As mais fracas são do tipo A enquanto as de classe B são consideradas fracas. Já explosões solares do tipo C são pequenas, mas já podem causar um impacto menor na Terra, notadamente favorecendo auroras nos polos. As explosões de classe M, por sua vez, são consideradas de média intensidade e podem interferir nas transmissões de rádio.

Por fim, as explosões de tipo X são as mais intensas e longas, podendo causar até efeitos grandes na vida terrestre se violentas. A mais forte explosão solar já documentada ocorreu em 4 de novembro de 2003 e foi uma X28 e afetou diversos satélites à época.

A ejeção de massa coronal associada à explosão de 2003 deixou o Sol a uma velocidade de 2.300 quilômetros por segundo ou 8,2 milhões de quilômetros por hora. Somente parte da ejeção de massa coronal foi dirigida para a Terra, o que fez com que, por sorte, as consequências não fossem maiores em nosso planeta.

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