Tempestade solar mais forte em vinte anos atinge o nosso planeta nesta noite, com um espetáculo de luzes coloridas pelas auroras austral e boreal nos dois hemisférios do planeta. A enorme atividade geomagnética já era esperada com a intensidade atividade solar dos últimos dias.
A tempestade geomagnética é tão forte que as auroras podem ser observadas em latitudes médias. Grande parte da Europa observou a aurora nesta noite de sexta, mesmo locais no Sul da Itália, perto do Mediterrâneo.
A tormenta solar é resultado da chegada da primeira das seis ejeções de massa coronal lançadas em direção à Terra pela mancha solar gigante AR3664, e que atingiu hoje o campo magnético do nosso planet.
A ejeção sacudiu magnetômetros em todo o mundo e desencadeou uma tempestade geomagnética, que agora é extrema. Mais ejeções estão seguindo para a Terra e podem prolongar a tempestade até este fim de semana.
A mancha solar de onde partem as ejeções de plasma solar cresceu nos últimos dias e atingiu cerca de 200 mil quilômetros de largura, mais de 15 vezes o diâmetro da Terra. A mancha é enorme e segue disparando poderosas explosões solares e ejeções de massa coronal, algumas das quais podem atingir a Terra e aumentar nossas auroras neste fim de semana.
A colossal mancha solar AR3664 desencadeou a sua explosão solar mais poderosa até agora nesta sexta e novamente com orientação para a Terra. A explosão X3.98 atingiu o pico nas primeiras horas do dia, desencadeando a perda temporária ou completa de sinais de rádio de alta frequência (HF) na Ásia, Europa Oriental e África Oriental.
A tempestade produziu auroras generalizadas em ambos os hemisférios. Na maioria dos países da Europa, as redes sociais foram tomadas de imagens do céu repleto de cores pela aurora boreal, como na Inglaterra, França e Alemanha.
BREAKING: Thousands of reports of Northern Lights coming in from multiple locations across Europe. A severe G4 geomagnetic storm is currently affecting Earth. Truly the most stunning aurora show in years. Currently visible as far south as northern Italy. pic.twitter.com/S3uvGCxiHe
— Nahel Belgherze (@WxNB_) May 10, 2024
Strongest aurora in 20 years this evening.
This is the astounding view as far south as Switzerland a short while ago …on top of Jungfraujoch 😍😍
via https://t.co/XN8jh4HhE1 pic.twitter.com/kQMxGYa6LE
— Matt Taylor (@MetMattTaylor) May 10, 2024
O Serviço Meteorológico Nacional da Argentina descreveu a noite como “histórica”. Jamais os observadores do SMN tinham observado as auroras austrais tão ao Norte no continente antártico.
✨Un día histórico en Orcadas✨ nuestro compañero Milton Soria nos cuenta que este es el primer registro de #auroras tan al norte de Antártida.
🇦🇶 Es más común verlas en Belgrano II, que queda mucho más al sur 🤩 pic.twitter.com/Tuvoidv7jH
— SMN Argentina (@SMN_Argentina) May 10, 2024
Em um fato raro, que só ocorre em tempestades geomagnéticas das mais extremas, a aurora austral pôde ser vista na noite desta sexta-feira em Ushuaia, província da Terra do Fogo, no extremo Sul da Argentina. O céu ficou avermelhado na cidade patagônica.
AGORA | Pausa na cobertura das enchentes para contar a vocês algo incrível. Tem aurora austral nesta noite em Ushuaia, Argentina, o que é raro. Tempestade solar afeta a Terra e gerou primeiro alerta de tempestade geomagnética severa em 20 anos pelo @NWSSWPC. 📷 @SMN_Argentina pic.twitter.com/5IRyBq5y45
— MetSul Meteorologia (@metsul) May 10, 2024
¡Por supuesto! 😍
🔝Impresionantes capturas que nos siguen llegando desde Ushuaia. https://t.co/tAqVzgT4fE pic.twitter.com/d3LblBfQqG
— Tormentas de Zona Sur (@SurTormentas) May 11, 2024
Con el fenómeno astronómico de la tormenta geomagnética solar se están dando fenómenos inusuales en cercanía de los polos. Aquí un Boeing 737 de Aerolíneas Argentinas, AR 1885 despegando con auroras australes en el cielo de Ushuaia. 📹 cesar_romero93 pic.twitter.com/4y1hDysXVy
— PegasusA4 (@A4Kike) May 11, 2024
O Centro de Previsão de Tempo Espacial da NOAA, dos Estados Unidos, alertava para uma tempestade geomagnética severa (G4), o primeiro aviso deste tipo desde 2005. Nesta noite, elevou a tempestade solar para extrema (G5), o que não ocorria desde a tempestade solar do Dia das Bruxas de 2003, que causou apagão na Suécia e causou problemas em transformadores de energia na África do Sul.
Extreme (G5) geomagnetic conditions have been observed! pic.twitter.com/qLsC8GbWus
— NOAA Space Weather Prediction Center (@NWSSWPC) May 10, 2024
Uma tempestade solar ou geomagnética é uma grande perturbação da magnetosfera da Terra, a área ao redor do planeta, e é causada por erupções solares que liberam muita energia. Embora o Sol proporcione a vida, ele também ‘espirra’ com frequência, ejetando bilhões de toneladas de plasma quente no espaço em colossais bolhas de plasma e rajadas de poderosa radiação eletromagnética como raios X, raios gama e fluxos de partículas altamente energéticas.
Quais impactos para nós de uma tempestade solar?
A esmagadora maioria das explosões solares não tem qualquer efeito em nossas vidas. As tempestades solares, diferentemente das tempestades de tempo terrestre que trazem vento, chuva, granizo e raios, costumam ser mais percebidas nas regiões polares com efeitos nos sinais de rádio utilizado por radioamadores, navios e aviões, sem mencionar as auroras austral (Sul) e boreal (Norte).
O que às vezes uma tempestade geomagnética mais forte pode alterar em nossas vidas de forma mais comum é impacto no sinal de televisão. Quando há tempestade geomagnética de maior potência, é comum haver interferência nos sinais de televisão que são transmitidos por satélite. Por isso, muitas vezes no passado quem tem televisão por assinatura já viu um aviso na tela de oscilação de sinal em razão de atividade solar.
The #sun has been busy! It's currently nearing an 11-year #solarmaximum, meaning that solar activity like what we are currently experiencing, will continue for some time. Strong #solarflares like the ones tracked this week, are driven by the sun's magnetic field. @CNN pic.twitter.com/c0FBX3KeKR
— Derek Van Dam (@VanDamCNN) May 10, 2024
Os casos mais extremos, e raros, podem ter um impacto maior na vida das pessoas, além de perigo para astronautas no espaço pela exposição à radiação solar. Quando se produz uma explosão do tipo X muito poderosa é alto o risco de que haja efeitos sobre o sistema elétrico na Terra.
O risco de impacto em nosso planeta aumenta se a explosão solar se der numa mancha na superfície solar que estiver voltada ou quase voltada no ângulo do nosso planeta, uma vez que a ejeção de massa coronal resultante da explosão estará diretamente voltada para a Terra.
Um exemplo clássico de impacto de tempo espacial por atividade solar é a tempestade forte a severa geomagnética de 1989. Uma explosão solar X15 (a de ontem foi 1.0) no dia 6 de março gerou uma ejeção de massa coronal voltada para Terra e isso causou uma enorme tempestade em nossa ionosfera três dias depois.
Neste episódio marcante de 1989, auroras, incrivelmente, puderam ser vistas nos estados da Flórida e do Texas, no Sul dos Estados Unidos. Muitos satélites perderam o controle por horas e o mais importante em previsão do tempo, o GOES, deixou de gerar imagens. Transmissões de emissoras de rádio por ondas curtas foram muito afetadas.
O fato grave, porém, ocorreu no Canadá. A tempestade solar de 9 de março de 1989 causou um enorme blecaute na província canadense de Quebec. A característica do solo rochoso da região, que evitou que a corrente fosse para a terra, e as longas linhas de transmissão colaboraram para uma falha maciça do sistema elétrico que deixou milhões de pessoas sem luz por nove horas.
O fato fez com que a indústria elétrica nos Estados Unidos e na Europa adotasse uma série de medidas preventivas para este tipo de evento como programas de redução de risco associados a correntes induzidas geomagneticamente.
Os tipos de explosão no Sol
Assim como em fenômenos na Terra temos diferentes escalas para definir os fenômenos e sua intensidade (Richter para terremotos, Saffir-Simpson para furacões ou Fujita para tornados), as explosões solares também possuem uma escala que é baseada em letras e números.
As mais fracas são do tipo A enquanto as de classe B são consideradas fracas. Já explosões solares do tipo C são pequenas, mas já podem causar um impacto menor na Terra, notadamente favorecendo auroras nos polos. As explosões de classe M, por sua vez, são consideradas de média intensidade e podem interferir nas transmissões de rádio.
Por fim, as explosões de tipo X são as mais intensas e longas, podendo causar até efeitos grandes na vida terrestre se violentas. A mais forte explosão solar já documentada ocorreu em 4 de novembro de 2003 e foi uma X28 e afetou diversos satélites à época.
A ejeção de massa coronal associada à explosão de 2003 deixou o Sol a uma velocidade de 2.300 quilômetros por segundo ou 8,2 milhões de quilômetros por hora. Somente parte da ejeção de massa coronal foi dirigida para a Terra, o que fez com que, por sorte, as consequências não fossem maiores em nosso planeta.
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