Um dos raios mais raros e altos do mundo, chamados de sprites, foi registrado por um fotógrafo gaúcho a partir do Litoral Norte do Rio Grande do Sul na noite de sábado com um sistema de tempestade que atuava naquele momento sobre o Nordeste de Santa Catarina e o Leste do Paraná.
GABRIEL ZAPAROLLI
As imagens são seguramente as mais incríveis já documentadas no Brasil dos raios do tipo sprite, de coloração vermelha, e que, ao contrário das descargas que as pessoas estão acostumadas a ver, se dirigem das nuvens para o alto em direção ao espaço.
Às vezes chamados de “o relâmpago mais alto da Terra“, porque atingem a ionosfera a mais de 80 quilômetros de altura, as formas gigantescas de jatos luminosos foram descobertas perto de Taiwan e Porto Rico em 2001 e 2002.
“Eles parecem adorar tempestades sobre a água e são famosos por surpreender os passageiros a bordo de aeronaves comerciais”, esclarece Tony Phillips, um cientista vinculado à NASA.
Em 2017 e 2018, o cientista de raios Oscar van der Velde, da Universitat Politécnica de Catalunya, instalou câmeras de alta velocidade na costa Norte da Colômbia em uma pesquisa dedicada à captura de jatos gigantes.
Em três meses de observação, ele conseguiu capturar apenas doze, “Frankie fotografou um raro jato gigante com morfologia de ‘cenoura’, relatado pela primeira vez em um estudo publicado na revista Nature por Su et al (2003)“, observa van der Velde. “O outro tipo de jato mais comum tem uma morfologia de ‘árvore’.”
Os “jatos de cenoura” são notáveis por suas esferas internas, ou seja, bolas de luz brilhantes com centenas de metros de largura. Lucena registrou dezenas deles iluminando o meio do jato.
O processo de formação e a estrutura destas descargas atmosférica ainda não é compreendido totalmente pela ciência tal a raridade do fenômeno.” Eles podem ser fluxos de plasma dentro do jato se cruzando ou regiões de maior aquecimento”, afirma o pesquisador de descargas atmosférica da universidade catalã.
Descargas atmosféricas raras que se formam acima das nuvens de tempestade e dificilmente são observadas não são inéditas no Sul do Brasil. O fotógrafo de Torres Gabriel Zaparolli, que fez as capturas na noite de ontem, já tinha registrado em fotos e vídeos o fenômeno no passado, mas não com a magnitude deste episódio.
GABRIEL ZAPAROLLI
GABRIEL ZAPAROLLI
Sprites são uma forma exótica de eletricidade que sobe a partir das nuvens de tempestade em vez de descer como um raio comum. Embora sprites tenham sido relatados por pelo menos um século, muitos cientistas não acreditavam que eles existiam até 1989, quando os sprites foram acidentalmente fotografados por pesquisadores da Universidade de Minnesota e confirmados por câmeras de vídeo a bordo do ônibus espacial da NASA.
São Eventos Luminosos Transientes ou TLEs, do inglês Transient Luminous Events (TLEs), fenômenos atmosféricos observados acima de nuvens de tempestades em altitudes entre 18 e 100 quilômetros, associados a campos elétricos quase eletrostáticos produzidos por relâmpagos.
A física subjacente dos sprites ainda não é totalmente compreendida pela ciência. Alguns modelos afirmam que os raios cósmicos contribuem para que ocorram, criando caminhos condutores na atmosfera. Partículas subatômicas do espaço profundo atingiriam o topo da atmosfera da Terra, produzindo elétrons secundários que acionariam os raios para cima.
Sprites se formaram acima de um sistema de tempestade
Os raios sprites registrados pelo fotógrafo Gabriel Zaparolli na noite de sábado se deram sobre um CCM (Complexo Convectivo de Mesoescala) que atuava no final do dia sobre o Nordeste de Santa Catarina e o Leste do Paraná, tendo se formado a partir do ar tropical quente e úmido. O CCM se formou sobre terra e avançou no começo da madrugada deste domingo para o mar.
Imagem do satélite GOES-19 das 23h de sábado de Santa Catarina mostra o CCM que produziu os sprites sobre o Nordeste do estado | METSUL
Um CCM (Complexo Convectivo de Mesoescala) é um tipo de sistema convectivo organizado em escala intermediária — maior que tempestades isoladas, mas menor que grandes sistemas como ciclones extratropicais.
Em geral, um CCM se caracteriza por ser um aglomerado de várias células de tempestade interconectadas, frequentemente com aparência quase simétrica (circular) nas imagens de satélite. Típico de CCMs é que eles durem várias horas — normalmente se formam ao final da tarde ou à noite — e atinjam maturidade durante a madrugada, dissipando-se até o meio do dia seguinte.
Do ponto de vista estrutural, no canal infravermelho de satélite os topos das nuvens que compõem o CCM aparecem muito frios, com temperaturas no alto das nuvens de -70ºC a -90ºC, uma vez que as nuvens de grande desenvolvimento vertical atingem altitudes elevadas de até 15 km ou mais. Em muitos casos, esses complexos convectivos produzem fenômenos severos como chuvas intensas, granizo, descargas elétricas e ventos fortes.
Veja curiosidades sobre os raios sprites
Os sprites não são raios comuns e não atingem o solo. Eles ocorrem acima das nuvens de tempestade, na alta atmosfera.
Os raios sprites acontecem muito alto na atmosfera e surgem entre cerca de 50 km e 90 km de altitude, na mesosfera, bem acima das nuvens de trovoada tradicionais.
Estes sprites duram milésimos de segundo e normalmente aparecem por apenas alguns milissegundos, o que dificulta muito a observação a olho nu.
Os sprites têm formas curiosas: podem parecer águas-vivas, cenouras ou colunas luminosas, com filamentos que se estendem para cima e para baixo.
Os sprites são geralmente vermelhos. A cor avermelhada destas formas de raios vem da excitação do nitrogênio na alta atmosfera.
Os sprites estão ligados a raios muito intensos e costumam ocorrer após descargas elétricas extremamente fortes, especialmente raios positivos que atingem o solo.
Estes raios vermelhos sprites podem ser fotografados à distância. Muitas das imagens são feitas a centenas de quilômetros da tempestade, desde que haja céu limpo.
Ao contráris dos raios comuns, os sprites não produzem trovão audível. Como ocorrem muito alto na atmosfera, não geram som perceptível no solo.
