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“Um inferno”. Assim os moradores da localidade de San Buenaventura, no Norte de La Paz, descrevem o incêndio florestal que ameaça se espalhar pela cidade. “Estamos clamando por socorro porque o calor é insuportável e a fumaça não nos deixa respirar. Os bombeiros estão exaustos e os hospitais não conseguem dar conta do atendimento de emergência”, disse Perla Uzquiano, uma das moradores locais.

A temperatura ontem chegou a 43ºC, aulas foram suspensas e foi emitida declaração de calamidade municipal. A Bolívia sofre com seca e há dias enfrenta uma brutal onda de calor pela mesma massa de ar excepcionalmente quente que provoca marca históricas de temperatura alta no Centro-Oeste do Brasil.

Neste momento, dezesseis grandes incêndios florestais atingem a Bolívia e se dão em La Paz, Santa Cruz, Beni e Cochabamba, segundo o vice-ministro da Defesa Civil, Juan Carlos Calvimontes. As autoridades têm dificuldades em conter as chamas com o tempo seco e o calor excepcionalmente forte.

A poluição do ar causada por queimadas e incêndios florestais fez com que as aulas fossem suspensas nas cidades de Santa Cruz e La Paz, que acordaram com má qualidade do ar. Os focos de calor e os incêndios causaram uma espessa fumaça na área de Santa Cruz.

O governo local pediu aos agricultores que suspendessem os incêndios criminosos para preparar as terras para o cultivo, já que a prática está proibida desde 1º de agosto, quando a região entrou em alerta vermelho devido ao risco de incêndios florestais.

Afetados pela alta poluição atmosférica, no departamento de La Paz, dois municípios decidiram fechar as portas de suas escolas e suspender as aulas para segurança dos alunos, assim como aconteceu em Santa Cruz. A qualidade do ar é descrita como péssima pelos moradores.

Imagem do satélite europeu Sentinel-3 mostrava grande quantidade de fumaça ontem cobrindo grande parte da Bolívia com centenas de focos de queimadas | SISTEMA COPERNICUS

“A fumaça não permite que os alunos respirem direito. Por razões de segurança, os trabalhos educativos foram suspensos em San Buenaventura e também em Guanay, dois municípios que declararam estado de emergência”, informou o diretor departamental de Educação, Carmelo López.

O mesmo aconteceu em Santa Cruz, onde o Ministério da Educação da Bolívia determinou a suspensão das aulas durante pelo menos três dias, devido à má qualidade do ar. As autoridades ainda aconselharam o uso de máscaras e evitar sair de casa.

O que os bolivianos sentem nos olhos, nariz e garganta é confirmado por imagens de satélite. A imagem de ontem de profundidade óptica de aerossóis do satélite GOES-East mostrava fumaça com enorme densidade cobrindo grande parte da Bolívia com situação crítica de má qualidade do ar em Santa Cruz.

Enorme concentração de fumaça cobria grande parte da Bolívia ontem | NOAA AEROSOL WATCH

De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), do Brasil, o número de focos de calor entre 1º e 23 de outubro na Bolívia foi de 11.000. O número está perto do recorde histórico mensal de 12.216 de outubro de 2020. Somente no último domingo, os satélites registraram 1.383 focos de calor na Bolívia.

De acordo com o serviço meteorológico boliviano, a temperatura máxima ontem na estação de Villamontes foi de 46,3ºC. A mesma localidade registrou 46,5ºC de máxima na semana passada. São vários dias seguidos em que a temperatura máxima supera os 40ºC em meio a uma seca que dura meses. O calor e o tempo seco agravam o risco de fogo, embora muitas queimadas sejam iniciadas de forma deliberada.