A semana que começa será crítica para o risco de tempo severo no Sul do Brasil, alerta a MetSul Meteorologia. Vários sistemas meteorológicos de grande escala vão atuar na região durante dias seguidos, gerando condições propícias para fenômenos severos com alto potencial de impacto para a população em condição que pode ser qualificada como particularmente perigosa. Os efeitos ainda devem ser sentidos no Centro-Oeste e no Sudeste do Brasil.
São três situações que preocupam neste período de instabilidade entre esta segunda-feira e a quinta: tempestades localmente fortes a severas, chuva excessiva seguida de enchentes e um ciclone extratropical que pode ser de grandes dimensões e intenso com vento muito forte.
Trata-se de um cenário muito distinto do observado no final da última semana, quando se previa que um centro de baixa pressão cruzaria o estado com chuva volumosa – e caíram até 130 mm em algumas localidades – sem causar ventania forte, como, de fato, não houve. Desta vez, a preocupação não se resume à chuva, mas é grande também sobre o potencial de vento intenso e de tempestades.
Tampouco o cenário desta semana tem equivalência com o do ciclone do mês de junho. Será capaz de trazer significativos impactos em infraestrutura e para a população, mas as condições sinóticas diferem bastante.
Em junho, uma baixa pressão que migrou da costa do Sudeste do Brasil para o Sul avançou do mar para o continente rumo à orla do Litoral Norte gaúcha, onde permaneceu por muitas horas. Agora, baixa pressão avançará do Norte da Argentina para o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, com significativo aprofundamento ainda sobre o continente, onde deve se dar o começo de uma ciclogênese antes de o ciclone se intensificar muito sobre o oceano na costa.
Os próximos dias exigem enorme atenção do público para que se mantenha informado das últimas atualizações de prognóstico por parte da Meteorologia assim como das orientações das autoridades em áreas de risco. Enfatizamos que esta não é uma situação comum ou ordinária de mau tempo, mas de muito elevado risco e perigo meteorológico.
A seguir, detalhadamente, a MetSul analisará o quadro desta semana com a previsão e alertas dos principais fenômenos envolvidos. Como se trata de um boletim de domingo e o período de instabilidade vai até quinta-feira, antecipamos que nos próximos dias serão feitos ajustes nos prognósticos que podem afetar projeções de chuva e vento.
Risco de temporais
O Sul do Brasil terá condições favoráveis à formação de temporais isolados por quatro dias seguidos com possibilidade de chuva localmente forte, raios, queda de granizo e rajadas de vento forte isoladas. O período favorável a tempo severo isolado vai entre esta segunda e a quinta.
Inicialmente, áreas de instabilidade avançam do Paraná para Santa Catarina e a Metade Norte do Rio Grande do Sul nesta segunda como uma frente quente. As mesmas regiões seguem sob a influência do sistema que passa a semi-estacionário sobre Santa Catarina, o Noroeste e Norte gaúcho na terça, intensificando-se.
Na quarta, com o aprofundamento de uma área de baixa pressão sobre o Sul do país, a instabilidade será mais generalizada sobre o Rio Grande do Sul e atinge ainda o Oeste do Paraná e o Oeste e Meio-Oeste catarinense. Na quinta, uma frente fria associada a um ciclone avança por Santa Catarina, o Paraná e o Mato Grosso do Sul no sentido Leste com chuva e temporais isolados.
O sistema frontal entre o Norte do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, antes da formação do ciclone, vai estar dividindo ar mais frio ao Sul e quente ao Norte, condição que favorecerá não apenas chuva forte, mas também temporais isolados.
Não bastasse, haverá ainda uma forte corrente de jato (vento) em baixos níveis da atmosfera, originada na Bolívia, transportando ar quente de origem tropical para o Sul do Brasil e intensificando a instabilidade, o que agrava o risco de temporais.
Com a queda acentuada da pressão atmosférica, o contraste de ar quente e mais frio e ainda a atuação da corrente de jato de baixos níveis, não podem ser descartados temporais localmente fortes com risco de episódios severos de vento isolados. O risco é maior na Metade Norte do Rio Grande do Sul e no Oeste e Meio-Oeste catarinense.
Chuva excessiva e enchentes
A MetSul Meteorologia alerta ainda para a probabilidade de chuva volumosa a excessiva em parte do Sul do Brasil nesta semana. Os acumulados somente desta semana devem ficar entre 100 mm e 200 mm em muitas cidades com possibilidade de marcas superiores a 200 mm ou 250 mm em alguns pontos.
Os mapas a seguir ilustram o cenário de chuva previsto para o período de maior instabilidade. São as projeções de chuva dia a dia do modelo meteorológico europeu em que se observa a tendência de entre esta segunda e terça chover mais sobre Santa Catarina, o Noroeste e o Norte do Rio Grande do Sul. Entre quarta e quinta, com um ciclogênese (formação de um ciclone) sobre o continente, no Sul do Brasil, a chuva se intensifica muito.
Na sexta, por conta da circulação de umidade do ciclone já sobre o mar, ainda pode chover em diferentes pontos, especialmente mais a Leste do Sul do Brasil, com pancadas fortes isoladas, mas estará se iniciando uma redução gradual da instabilidade.
O período mais crítico de chuva em Porto Alegre e região metropolitana será entre quarta e a quinta-feira. Neste dois dias somados, a precipitação na Grande Porto Alegre pode passar de 100 mm, conforme os dados de hoje. Com uma ciclone em formação sobre o Rio Grande do Sul, são prováveis pancadas por vezes torrenciais e capazes de gerar elevados volumes em curto intervalo, aumentando o risco de alagamentos.
O cenário de chuva fica ainda mais claro se observados os totais de chuva desta semana que são projetados pelos modelos e que deixam evidente porque a precipitação pode ser excessiva e trazer problemas. Os mapas abaixo trazem as projeções de chuva para sete dias dos modelos alemão Icon, o modelo europeu (ECMWF) e o modelo canadense.
Todos os modelos indicam chuva nesta semana de 100 mm a 200 mm numa extensa área entre a Metade Norte gaúcha e parte de Santa Catarina com acumulados em alguns pontos de 200 mm a 300 mm. Pontos de outras regiões, contudo, podem ter chuva volumosa, sobretudo entre quarta e quinta com a instabilidade mais ampla pela formação do ciclone.
Estes volumes são suficientes para gerar alagamentos, inundações repentinas, deslizamentos de terra e quedas de barreiras em rodovias. Há, contudo, um agravante. Esta chuva vai cair sobre áreas que recém tiveram chuva volumosa entre sexta (8) e ontem (9), quando chegou a chover 70 mm na Grande Porto Alegre e pontos do Noroeste, e até 100 mm a 130 mm no Litoral Norte, nos vales e parte do Alto Jacuí.
Ou seja, algumas cidades podem ter na soma dos dois eventos de chuva, o que acaba de ser registrado e o que está vindo, acumulados de 200 mm a 400 mm em apenas uma semana. Com os rios já elevados pelo que choveu e o que tem por chover, cheias de rios serão inevitáveis e haverá enchentes.
Os volumes de chuva mais excessivos no Rio Grande do Sul vão se concentrar exatamente nas regiões que tiveram os maiores volumes no final da última semana e, pior, onde está o maior número de rios do território do território gaúcho, no caso a Metade Norte. Assim, desde já se deve estar atento ao risco de cheias de rios como o Jacuí, Sinos, Caí, Taquari e Uruguai, dentre outros.
Ciclone
Um ciclone extratropical vai atuar na segunda metade desta semana, reforçando a chuva e trazendo vento forte a intenso com probabilidade de transtornos e danos, como quedas de árvores, destelhamentos e falta de luz. É um ciclone mais intenso e de maior extensão e abrangência.
Diferentemente de todos os ciclones que impactaram o Sul do Brasil nos últimos meses, a ciclogênese (formação do ciclone) deve se dar sobre o continente e não no mar na quarta. Ao avançar para o oceano, na costa do Sul do país, o ciclone deve se intensificar entre quinta e sexta.
Normalmente, em ciclones, o vento forte a intenso se concentra no Sul e no Leste do Rio Grande do Sul assim como em áreas do Planalto Sul e da costa, em Santa Catarina. O cenário que se esboça para este sistema, entretanto, é diferente. Como a ciclogênese vai se dar sobre terra, no continente, o número de locais atingido por vento forte tende a ser muito maior.
Assim, vento de 60 km/h a 80 km/h pode ser registrado na maior parte das cidades gaúchas com rajadas acima de 100 km/h em alguns pontos, conforme os dados de hoje. O campo de vento forte deste sistema deve ser tão amplo que a forte ventania pode alcançar ainda muitas cidades catarinenses e paranaenses assim como do Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro e talvez até do Sul de Minas Gerais.
Já que o campo de vento forte deve ser muito amplo sobre o oceano com vento muito forte sobre o mar, desde já é possível se antecipar uma elevada probabilidade de intensa agitação marítima com ressaca e maré de tempestade, forte em setores da costa, nos litorais do Sul e do Sudeste do Brasil na segunda metade desta semana.
Enfatizamos que as projeções dos modelos quanto a este sistema têm oscilado muito e que são três a quatro dias até a sua formação, assim é certo que haverá mudanças nas projeções de intensidade do vento e áreas mais afetadas.
Portanto, é crucial estar atento às atualizações que serão publicadas pela MetSul, especialmente na terça e na quarta, mais perto do episódio, que tendem a ter maior precisão. Da mesma forma se recomenda evitar publicações em redes sociais por quem não é meteorologista e que há dias traçam cenários sem rigorismo técnico e que ignoram ser esta uma situação fluída e sujeita a mudanças.
Como consultar atualizações dos mapas
Todos os mapas neste boletim podem ser consultados a qualquer hora pelo nosso assinante (assine aqui) na nossa seção de mapas. A plataforma oferece mapas de chuva, geada, temperatura, risco de granizo, vento, umidade, pressão atmosférica, neve, umidade no solo e risco de incêndio e raios, dentre outras variáveis, com atualizações duas a quatro vezes ao dia, de acordo com cada simulação. Na seção de mapas, é possível consultar ainda o nosso modelo WRF de altíssima resolução da MetSul.