Um rio atmosférico de categoria 5 (AR-5), o mais alto da escala e considerado como de força excepcional, atinge neste fim de semana o Sul da América do Sul. A condição traz chuva muito volumosa, fortes a intensas rajadas de vento e queda de neve em grande altitude.

CONICET
Embora rios atmosféricos não sejam incomuns na região e possam ter uma extensão de milhares de quilômetros, este chama a atenção por extremamente longo. Cálculos do algoritmo do Conicet da Argentina indica que o rio atmosférico tem uma extensão de quase 15 mil quilômetros.
Os mapas dos modelos meteorológicos de transporte de vapor d´água mostram que o rio atmosférico cruza todo o Pacífico Sul e se estende de áreas ao Norte da Austrália e do Sudeste da Indonésia até o Sul do Chile e da Argentina.
O enorme corredor de umidade do Sudeste asiático e da Oceania até a América do Sul vai afetar o extremo Sul da Argentina e do Chile com muita chuva, rajadas de vento que vão passar dos 100 km/h e até raios em determinados pontos.
No Chile, as áreas que devem ser mais impactadas serão as de Magalhães (Punta Arenas e Puerto Natales) assim como no Sul da região de Aysén. Os fiordes do Sul chileno devem ser impactados em especial.
A instabilidade pode ser muito forte, por exemplo, na área de Torres del Paine, destino turístico muito conhecido no Sul do Chile. A Meteorologia do governo chileno chegou a emitir um aviso de raios para Magalhães, que por estar muito ao Sul e pelo clima frio não costuma ter temporais com descargas elétricas.
A chuva pode ser volumosa em áreas do Sul do Chile com acumulados em algumas áreas acima de 100 mm, o que para a zona é muito, e pode desencadear aluviões e ainda inundações repentinas. A região de Aysén é uma que pode ter chuva excessiva.
A precipitação ocorrerá predominantemente na forma líquida, uma vez que a isoterma (altitude em que a temperatura estará em 0º) vai estar ao redor de 3 mil metros. No alto das montanhas, entretanto, pode nevar.

Modelo europeu projeta chuva extrema no Sul do continente | METSUL
O vento também será intenso com a Direção Meteorológica do Chile prognosticando que as rajadas podem atingir velocidades tão altas quanto 120 km/h e localmente mais altas em Magalhães, em Punta Arenas e Puerto Natales.
O rio atmosférico ainda provoca rajadas de vento fortes a intensas com acumulados de precipitação muito altos em setores da Patagônia da Argentina, podendo estabelecer até recordes de chuva para o mês de janeiro.
O que são os rios atmosféricos
Os rios atmosféricos são regiões longas e concentradas na atmosfera que transportam ar úmido dos trópicos para latitudes mais altas. O ar úmido, combinado com ventos de alta velocidade, produz chuva pesada e neve ao atingir o continente, especialmente em terrenos montanhosos.
Esses eventos extremos de precipitação podem levar a inundações repentinas, deslizamentos de terra e danos catastróficos à vida e à propriedade. Quando os rios atmosféricos passam sobre a terra, eles podem causar condições semelhantes a de ciclones intensos com chuvas torrenciais, vento muito forte e alturas de ondas significativas na costa.
Embora os rios atmosféricos tenham muitas formas e tamanhos, aqueles que contêm as maiores quantidades de vapor de água e os ventos mais fortes podem criar chuvas e inundações extremas, muitas vezes parando sobre bacias hidrográficas vulneráveis a inundações.
Esses eventos podem interromper estradas, induzir deslizamentos de terra e causar danos catastróficos à vida e à propriedade. Um exemplo bem conhecido é o “Pineapple Express”, um forte rio atmosférico de milhares de quilômetros capaz de trazer umidade dos trópicos próximos ao Havaí para a costa Oeste dos Estados Unidos.

Califórnia hoje assolada por devastadores incêndios sofre habitualmente com rio atmosférico que nasce no Havaí e recebe o apelido de Expresso do Abacaxi | JOSH EDELSON/AFP/METSUL METEOROLOGIA/ARQUIVO

Mais de um milhão de casas parcial ou totalmente destruídas com mais de mil mortos pela chuva em um desastre nacional pelas monções impiedosas de 2022 no Paquistão e que foi favorecido por um rion atmosférico | ABDUL MAJEED/AFP/METSUL METEOROLOGIA/ARQUIVO
Entretanto, nem todos os rios atmosféricos causam danos. A maioria deles é de sistemas fracos que geralmente fornecem chuva ou neve benéficas que são cruciais para o abastecimento de água. Os rios atmosféricos são uma característica fundamental no ciclo global da água e estão intimamente ligados ao abastecimento de água e aos riscos de inundação.
A escala de intensidade desenvolvida na Califórnia classifica esses rios atmosféricos de AR-1 a AR-5 (sendo o AR-5 o mais intenso) com base em quanto tempo duram e quanta umidade transportam.
A escala ajuda as comunidades a saber se um rio atmosférico trará benefícios ou causará caos: as tempestades podem trazer chuva ou neve muito necessárias, mas se forem muito intensas, podem causar inundações, deslizamentos de terra e falta de energia, como aconteceu na Califórnia e no Paquistão em 2022 e 2023.
Os rios atmosféricos mais severos podem causar danos de centenas de milhões de dólares em dias e vítimas. Os rios atmosféricos são partes naturais de nossos sistemas climáticos globais e podem começar a mudar de frequência devido às mudanças climáticas.
A NOAA usou dados gerados por modelos climáticos regionais para determinar que a mudança climática provavelmente alterará os rios atmosféricos de maneira a dificultar o gerenciamento da água. Os pesquisadores descobriram que os modelos previam um aumento na precipitação de baixa altitude, mas menos precipitação em alta altitude.
Estudos como esses, que modelam possíveis mudanças nos eventos atmosféricos dos rios são ferramentas importantes para os tomadores de decisão em áreas onde o abastecimento de água já pode ser limitado, como são os casos de Chile e Califórnia.
O rio atmosférico vai impactar o Brasil?
Não! O rio atmosférico que atingirá o Chile e a Argentina neste começo de semana não vai chegar ao Sul do Brasil. A previsão é que o impacto deste gigantesco corredor de umidade de 15 mil quilômetros se limite ao Sul do continente com chuva, neve e vento.
No Sul do Brasil, ao contrário, uma massa de ar quente ganha força nesta semana com temperaturas muito altas e sucessivos dias de sol e nuvens com forte calor durante a tarde, especialmente no Oeste catarinense, Oeste paranaense e no Rio Grande do Sul.
Com o forte calor e o aumento da umidade, pancadas de chuva típicas de verão vão se dar da tarde para a noite em pontos isolados. Devido ao forte calor, a chuva poderá ser forte e com temporais em setores isolados.
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