Cinquenta corpos foram resgatados após o deslizamento que atingiu a pequena cidade de Las Tejerías, na Venezuela, segundo um balanço divulgado na noite da quinta-feira. “Até o momento, temos oficialmente 50 pessoas que infelizmente perderam a vida e seus corpos foram entregues a familiares”, informou o ministro do Interior, Remigio Ceballos, ao canal Telesur.

Equipes de resgate localizaram cinquenta corpos de pessoas sepultadas na terra e lama pelo enorme deslizamento na Venezuela durante o fim de semana | YURI CORTEZ/AFP/METSUL METEOROLOGIA

O presidente Nicolás Maduro chegou a falar em quase “uma centena de mortos”. Segundo o ministro, o trabalho não para nem à noite. “Estamos aqui sem descanso, é a ordem permanente”, declarou.

No último sábado, quando ocorrreu a tragédia em Las Tejerías, choveu em oito horas o equivalente a um mês, segundo autoridades. “Foi uma questão de segundos”, contou Jesús Chávez, sobrevivente de 32 anos. “Conseguimos pular de telhado em telhado e as pessoas começaram a gritar: ‘Socorro! Socorro!'(…) um menino primeiro, lhe passei um pedaço de cano, mas ele não conseguiu sair porque a corrente era muito forte. Foi levado”.


Chávez conseguiu resgatar seis pessoas, entre elas uma mulher “que perdeu seus dois bebês, um de poucos meses”. Com o apoio de cães farejadores e drones, milhares de bombeiros, militares e efetivos da Defesa Civil, com lama na altura dos joelhos e da cintura, mantêm as buscas entre galhos de árvores, escombros e pedras.

As equipes de buscas são orientadas por moradores da região mais atingida pela chuva que, sem nenhuma esperança de que seus familiares tenham sobrevivido ao deslizamento enorme de terra, apenas querem recuperar os corpos para poder sepultá-los.

Autoridades avançaram na limpeza das principais avenidas da cidade e restituíram os serviços de luz, água e telecomunicações. Contudo, ainda há muito a fazer. Há lugares que ainda estão completamente inacessíveis. Militares lançaram de helicópteros na quarta-feira caixas de comida com pequenos paraquedas para atender a áreas isoladas.


O governo venezuelano habilitou locais para abrigos e anunciou que realocará as famílias em complexos habitacionais sociais em outros estados. Uma comissão das Nações Unidas tem planos de visitar, com ajuda humanitária, Las Tejerías nesta sexta-feira, disse à AFP uma fonte da organização. Os insumos que serão entregues ainda estão sendo coordenados com as autoridades sanitárias.

“Tivemos uma reunião com representantes das Nações Unidas, de todo o sistema, que já estão se organizando para entrar de maneira coordenada”, disse na quarta-feira a vice-presidente Delcy Rodríguez, que está responsável pela equipe governamental que atende à situação de emergência.

Vizinhos observam equipes de resgate de diferentes instituições de combate a incêndios e da Cruz Vermelha recuperarem um corpo nas margens do rio Tuy dias após um deslizamento de terra devastador na cidade venezuelana de Las Tejerias | YURI CORTEZ/AFP/METSUL METEOROLOGIA

A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), por sua vez, informou em uma nota que doou ao Ministério da Saúde venezuelano “medicamentos e material de primeiros socorros para 5.000 pessoas”. “Assim será possível atender às necessidades urgentes de pessoas com diabetes e hipertensão”, indicou. “Foram doados 10.000 tabletes purificadores de água, cada um deles com capacidade para purificar 10 litros”. Uma comissão da Opas já havia visitado a região no domingo, o dia seguinte à tragédia, segundo o comunicado.

O presidente Maduro, que decretou três dias de luto nacional, visitou a área do desastre ontem e prometeu reconstruir casas e o comércio em áreas não vulneráveis às cheias dos rios. “Tejerías vai renascer da dor, da tragédia, do desastre, e voltará a brilhar em vida, em paz”, declarou hoje.


Bombeiros procuram vítimas ou sobreviventes entre os escombros de casas destruídas após um deslizamento de terra em Las Tejerias, estado de Aragua, na Venezuela | MIGUEL ZAMBRANO/AFP/METSUL METEOROLOGIA 

Um homem com sua bicicleta passa na frente de carros empilhados pela inundação numa montadora de veículos após um deslizamento de terra durante fortes chuvas em Las Tejerias, estado de Aragua, Venezuela | YURI CORTEZ/AFP/METSUL METEOROLOGIA 

Vista aérea da zona afetada por um deslizamento de terra durante fortes chuvas em Las Tejerias, estado de Aragua, Venezuela, nesta segunda-feira. O deslizamento no centro da Venezuela deixou dezenas de mortos pelo balanço oficial. | YURI CORTEZ/AFP/METSUL METEOROLOGIA 

O deslizamento de terra em Las Tejerías foi o pior desastre natural ocorrido neste século na Venezuela. O governo instalou abrigos em Maracay, capital do estado de Aragua, e anunciou a distribuição de 300 toneladas de alimentos. Centros de coelta foram instalados em todo o país para arrecadar doações.

O maior deslizamento da história recente da Venezuela é conhecido como a “Tragédia de Vargas”, em dezembro de 1999, quando cerca de 10 mil pessoas morreram. Cerca de 100 morreram em 1987 em El Limón, também em Aragua, e no ano passado, 20 no estado andino de Mérida.