Anúncios

Em 2024, a América do Sul enfrentou uma temporada de incêndios sem precedentes, resultando em emissões recordes e graves impactos na qualidade do ar. O relatório anual do Copernicus Atmosphere Monitoring Service (CAMS) destacou a destruição ambiental e os riscos à saúde causados pela fumaça dos incêndios florestais, além de seu papel no aumento das emissões globais de CO₂.

Número de dias com concentrações médias diárias de PM2.5 acima de 35 µg/m³ durante 2024 | CAMS/COPERNICUS

O Sistema Global de Assimilação de Incêndios (GFAS) do CAMS, que monitora incêndios desde 2003, registrou emissões diárias e sazonais muito acima da média. A Bolívia sofreu seu pior ano de incêndios em duas décadas, perdendo mais de 15 milhões de hectares de floresta.

Em praticamente todos os meses de 2024, exceto dezembro, o país teve as maiores emissões de incêndios da região. Outros países, como Venezuela, Guiana e Suriname, também registraram recordes de emissões ao longo do ano.

No Brasil, o Pantanal enfrentou um aumento de 980% no número de incêndios, destruindo 1,5 milhão de hectares e emitindo 3,3 megatoneladas de carbono até meados do ano.

O estado do Amazonas registrou sua maior emissão anual de incêndios já registrada no banco de dados do GFAS. Durante a principal temporada de incêndios, entre setembro e outubro, as emissões continuaram a crescer no Brasil e Bolívia.

Como resultado, níveis de poluição por material particulado fino (PM2.5) excederam os limites seguros por mais de 150 dias em algumas regiões, gerando sérios riscos à saúde pública.

Além da América do Sul, outras regiões foram gravemente afetadas pelos incêndios. No Canadá, incêndios de longa duração, conhecidos como “zombie fires”, reacenderam na primavera, e o país registrou a segunda maior emissão anual de carbono de sua história, ficando atrás apenas de 2023. Em julho, plumas de fumaça dos incêndios canadenses chegaram à Europa, impactando a qualidade do ar no continente.

Na Europa, o nível geral de incêndios foi mais baixo que o habitual em 2024, mas regiões como o sudeste europeu, a Grécia e os Bálcãs foram severamente atingidas. Em Portugal, mais de 100 incêndios ocorreram em setembro, levando a emissões inéditas no banco de dados do GFAS e espalhando fumaça até a França.

No total, as emissões globais de carbono de incêndios em 2024 chegaram a quase 2.000 megatoneladas, dentro da média dos últimos 23 anos registrados pelo CAMS.

O GFAS utiliza dados de satélites da NASA, como o MODIS (Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer), para medir o poder radiativo do fogo (FRP) e estimar emissões de gases como CO₂ e metano. Essas informações são fundamentais para prever a composição da fumaça e seu deslocamento atmosférico, permitindo alertas de qualidade do ar e ações preventivas.

A fumaça dos incêndios contém partículas e compostos tóxicos que agravam problemas respiratórios e cardiovasculares. Além disso, pode viajar milhares de quilômetros, afetando países distantes do foco inicial do incêndio. Em 2024, isso foi evidente na América do Sul, onde a fumaça se espalhou por extensas áreas, degradando a qualidade do ar.

No mapa à esquerda, as anomalias de temperatura do ar na superfície da América do Sul em junho de 2024, mostrando as áreas afetadas pelos incêndios no Pantanal com uma média de 5°C a 6°C acima do normal. Já o mapa da direita mostra as anomalias de umidade do solo na América do Sul em junho de 2024. | C3S/COPERNICUS

O agravamento dos incêndios em 2024 foi impulsionado por condições climáticas adversas. Secas prolongadas, temperaturas elevadas e baixos níveis de umidade do solo, confirmados pelo Copernicus Climate Change Service (C3S), criaram um ambiente altamente inflamável. No Pantanal, temperaturas médias de 5°C a 6°C acima do normal e a falta de chuvas foram fatores determinantes para a severidade dos incêndios.

Diante dessa crise, iniciativas de monitoramento e resposta foram essenciais. O CAMS colaborou com governos e organizações de saúde para fornecer previsões de qualidade do ar e alertas preventivos. Na Bolívia, a União Europeia ativou seu Mecanismo de Proteção Civil e o Serviço de Gestão de Emergências Copernicus para mapear áreas queimadas e auxiliar na resposta ao desastre.

O relatório destacou a necessidade urgente de soluções colaborativas baseadas em dados para mitigar os impactos dos incêndios florestais. Com as mudanças climáticas intensificando as condições propícias a incêndios.

A MetSul Meteorologia está nos canais do WhatsApp. Inscreva-se aqui para ter acesso ao canal no aplicativo de mensagens e receber as previsões, alertas e informações sobre o que de mais importante ocorre no tempo e clima do Brasil e no mundo, com dados e informações exclusivos do nosso time de meteorologistas.