Fernando Oliveira

O inverno astronômico termina apenas no dia 22 de setembro, mas o chamado período da primavera climática tem início agora no dia 1º porque compreende o trimestre que vai de setembro a novembro. Setembro é, assim, um mês que marca a transição para a primavera e traz junto um aumento da temperatura.

Em Porto Alegre, como exemplo, em agosto a média mínima é de 11,5ºC e a máxima de 20,3ºC. Setembro, por sua vez, tem média mínima na capital gaúcha de 13,1ºC e uma máxima de 21,9ºC, com base nas normais climatológicas da série 1961-1990. Setembro, historicamente, é ainda um mês com altos índices de chuva no Rio Grande do Sul. No caso de Porto Alegre, tem uma média de precipitação mensal de 139,5 mm, a segunda maior entre os meses do ano e atrás apenas dos 140,0 mm de agosto e acima dos 132,7 mm de junho, o terceiro mês mais chuvoso no calendário pela climatologia histórica.

De acordo com a análise da MetSul Meteorologia, setembro em 2020 deve ser marcado por temperatura acima da média histórica em quase toda a região ou mesmo em todo o Sul do Brasil. No Rio Grande do Sul, os desvios positivos devem ser menores à medida que as massas de ar frio devem atuar mais no Estado do que no Paraná, tomando os dois extremos da região.

O modelo de clima norte-americano CFS, que o assinante da MetSul tem disponível na seção de mapas com prognósticos atualizados diariamente para até meio ano, projeta temperatura acima da média no Sul do Brasil. Exceções, por este modelo em particular, seriam o Oeste e o Sul do Rio Grande do Sul que teriam temperatura ao redor da média.

A MetSul não espera um elevado número de dias muito frios em setembro neste ano, apesar de que vai fazer frio. A primeira semana do mês já deve ter temperatura menor, sobretudo nas máximas pela ocorrência de instabilidade mais concentrada no Rio Grande do Sul. Já a segunda semana seria bem mais fria com a atuação de uma massa de ar polar que vai trazer e prováveis mínimas negativas no Estado.

Na segunda metade do mês existe a possibilidade de uma segunda massa de ar polar de maior intensidade e, com isso, a preocupação sobre um episódio de geada tardia que poderia trazer danos em lavouras do Sul do Brasil, particularmente do Rio Grande do Sul. O Pacífico mais frio do que a média, aliás, agrava o risco de que ocorram episódios de geada tardia no fim do inverno e na primavera, tem alertado a MetSul.

É importante enfatizar que dias de calor, alguns de calor intenso, são muito comuns no mês de setembro e já houve ano em que a temperatura atingiu marcas perto dos 40ºC na Grande Porto Alegre. Se agora em agosto, e neste fim de semana ocorreu, a máxima na região metropolitana de Porto Alegre superou os 35ºC, marcas tão ou mais altas podem ocorrer em setembro. O calor, entretanto, não deve ser a regra no próximos mês.

No Sudeste e no Centro-Oeste do Brasil, a tendência é de temperatura acima da média agora em setembro. Exceção para algumas áreas mais a Leste do Sudeste que sofrerão a influência da alta do Atlântico com temperatura menor e instabilidade mais recorrente. No geral, no Sudeste e no Centro-Oeste, o tempo seco vai predominar com muitos dias de temperatura alta e intenso calor em áreas mais continentalizadas.

No Sul do Brasil, o Paraná e áreas mais a Oeste de Santa Catarina tendem a ter um mês de setembro com chuva abaixo da média. O Sul e o Leste do Rio Grande do Sul, além de parte do Leste catarinense, podem ter chuva perto ou acima da média. Os volumes no mês devem ser especialmente mais altas no Sul gaúcho, conforme a maioria dos modelos de clima analisados pela MetSul. A primeira semana do mês deve ter precipitação mais freqüente nestas áreas com volumes elevados em algumas localidades, mas na segunda semana de setembro, com ar mais seco e frio atuando, a precipitação diminui bastante no Sul do país.

Setembro, como mês da primavera climática, tende a ter um aumento dos episódios de tempo severo no Sul do Brasil. O risco é principalmente agravado com incursões tardias de ar frio à medida que a presença de ar quente torna-se mais comum sobre o Sul do país com o fim do inverno. O encontro de massas de ar gera as tempestades severas, sobretudo na chegada de frentes frias.

Em anos de Pacífico frio, como é o caso de 2020, o risco de granizo é aumentado a partir de dados históricos analisados pela MetSul que identificou a tendência. O mesmo ocorre na primavera com vendavais que, quando ocorrem, tendem a ser mais intensos, a despeito de não necessariamente se tornarem mais freqüentes. Alguns dos piores e mais destrutivos tornados no Sul do Brasil durante meses da primavera ocorreram justamente em anos em que o Pacífico Equatorial estava sob La Niña ou tinha temperatura oceânica abaixo da média mesmo sem configuração do fenômeno.

Setembro é um mês com maior propensão para a formação de ciclones extratropicais no Atlântico Sul, nas latitudes médias do continente, especialmente nos litorais da Argentina e Uruguai, uma vez que se torna mais freqüente o encontro de massas de ar quente e frio na região. Já na primeira semana do mês um ciclone extratropical é esperado a Leste do Uruguai.