Algumas regiões da Espanha e de Portugal nunca estiveram tão secas em um milênio, de acordo com um estudo divulgado neste começo de semana que alerta para as graves consequências para certos cultivos. Portugal e Espanha enfrentam neste momento uma grave seca e há ameaça de racionamento de água, admitiram autoridades portuguesas com rios secos e barragentes no volume morto.
O anticiclone dos Açores, que corresponde a uma região da atmosfera onde a pressão é mais elevada do que nas zonas vizinhas situadas na mesma altura, e que se encontra habitualmente perto do arquipélago dos Açores, desempenha um papel importante na meteorologia, e, a mais longo prazo, nas tendências climáticas da Europa ocidental.
Publicado na revista científica “Nature Geoscience”, o estudo mostra que esse sistema de alta pressão atmosférica “mudou radicalmente no século passado e que essas mudanças não têm precedentes no clima do Atlântico Norte no último milênio”. Os cientistas estudaram as mudanças de pressão atmosférica nessa área nos últimos 1.200 anos e constataram que o anticiclone cobre uma área maior há 200 anos, o que corresponde aproximadamente à Revolução Industrial.
Durante o verão, o anticiclone dos Açores envia ar quente e seco para Portugal e Espanha, mas também para outros locais, como a França. No inverno, ele pode se tornar sinônimo de umidade e chuvas, que são vitais para a saúde ambiental e econômica da Península Ibérica, destacaram os autores.
O anticiclone dos Açores irá se reforçar no século XXI, sob o efeito das mudanças climáticas. O resultado é a redução das chuvas, principalmente desde a segunda metade do século XX. Seu nível deve cair de 10% a 20% até o fim do século, tornando a agricultura na Península Ibérica “uma das mais vulneráveis da Europa”. Estudos anteriores não haviam conseguido determinar a responsabilidade das mudanças climáticas causadas pela atividade humana na alteração do clima no Atlântico Norte. Atualmente, a relação é comprovada.
Imagem captada pelos satélites meteorológicos do Sistema Copernicus, o consórcio de monitoramento ambiental e climático da União Europeia, mostra como a seca afetou o reservatório da Bravura, na zona de Lagos em Portugal. Lado a lado, estão as imagens do mesmo local em 2017 e 2022.
De acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), 97% do território português era afetado em junho por condições de “seca severa” em meio à temperatura muito acima dos padrões históricos e precipitações inferiores à média. Portugal teve o maio mais quente em 92 anos com uma temperatura média de 19,19ºC combinada com precipitação média de apenas 8,9 mm.
O governo de Portugal garantiu hoje que, apesar da seca, o país tem água para consumo humano nos próximos dois anos, mas admitiu a possibilidade de racionamentos em determinadas zonas do país relativamente a alguns usos, como na agricultura. A garantia foi dada pelo secretário de Estado da Conservação da Natureza, das Florestas e Ordenamento do Território, João Catarino, numa visita a Terras de Bouro, distrito de Braga.
Questionado sobre notícias de que há “barragens próximas do volume morto” (reserva técnica que fica abaixo da captação), o governante assumiu a gravidade da situação pelos efeitos da severa seca, mas assegurou que o país não terá falta de água para consumo humano nos próximos dois anos, mesmo sem chuva.