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Uma corrente de jato de incomum intensidade vai trazer ar muito quente para o Rio Grande do Sul no final desta semana. A temperatura vai disparar em algumas cidades que terão marcas de verão em pleno começo de agosto, quando o normal é fazer frio no estado gaúcho.

Mapa de modelo da corrente de jato em baixos níveis

Poderosa corrente de jato em baixos níveis no interior do continente entre a Bolívia e a província de Buenos Aires é indicada para esta sexta-feira pelo modelo norte-americano GFS | METSUL

A corrente de jato em baixos níveis com origem na Bolívia já começou a se formar e atua nesta quinta-feira sobre o Paraguai e o Centro e o Norte da Argentina com tendência de se intensificar da tarde para a noite de hoje.

O máximo de intensidade da corrente de jato vai se dar nesta sexta-feira com o corredor de vento muito intenso em baixos níveis da atmosfera se estendendo do Sul boliviano por quase todo o Norte da Argentina para o Sul até a região de Buenos Aires e do Rio da Prata.

Modelos numéricos projetam um poderoso jato durante a sexta-feira no interior do continente de Norte para Sul com velocidades de vento de 100 km/h a 130 km/h a cerca de 1500 metros de altitude em toda esta faixa que vai do Sul da Bolívia até a região do Prata.

No sábado, a orientação da corrente de jato vai estar da Bolívia até o Uruguai e o Rio Grande do Sul. O corredor de vento em baixos níveis ainda será intenso, embora não tão extremo como na véspera e menos configurado do que durante a sexta-feira.

O serviço meteorológico emitiu na manhã de hoje um alerta por vento Norte muito forte principalmente para áreas a Oeste do país com rajadas de até 80 km/h. Já o Serviço Meteorológico Nacional da Argentina tem um aviso amarelo por vento forte válido para as províncias do Norte do país.

Corrente de jato em baixos níveis trará ar muito quente

Trata-se uma corrente de jato em baixos níveis (JBN) atipicamente intensa, é possível dizer até violenta, muito mais forte do que comumente se costuma observar. A intensificação enorme do jato reforçará o ingresso de ar seco e quente sobre o Rio Grande do Sul, o Centro da Argentina e o Uruguai com temperatura muito acima do que é normal para esta época do ano.

Mapa de anomalia de temperatura gerada pela corrente de jato em baixos níveis

Mapa de anomalia de temperatura (desvio da média) do modelo meteorológico Icon da Alemanha mostra temperatura 10ºC a 15ºC acima da média nesta sexta entre o Oeste gaúcho, o Uruguai e o Centro da Argentina pelo ar muito quente trazido pela corrente de jato em baixos níveis | METSUL

A influência da corrente de jato já é sentida hoje no Rio Grande do Sul com a elevação da temperatura em todas as regiões, mas com aquecimento mais pronunciado no Oeste do estado, onde a temperatura passará dos 30ºC nesta tarde em diversos pontos.

No Oeste e no Centro gaúcho, as tardes mais quentes devem ser as de hoje até sábado. Já na Grande Porto Alegre, as tardes de amanhã e sábado devem ser as de maior temperatura. As máximas vão passar dos 30ºC em muito municípios e pela interação do vento com o relevo podem atingir marcas tão altas quanto 32ºC a 35ºC em algumas cidades.

Onde vai ventar mais com o jato?

A intensa corrente de jato em baixos níveis da atmosfera vai trazer vento do quadrante Norte moderado com rajadas fortes a muito fortes no Rio Grande do Sul principalmente amanhã e no sábado, quando o corredor de vento estará mais deslocado para o estado gaúcho.

Onde mais deve ventar forte de Norte com a corrente de jato será no Oeste, Centro e no Sul gaúcho, embora se espere que o tempo fique ventoso em outras regiões. Neste tipo de situação, Porto Alegre e a maior parte da região metropolitana não costumar ter vento muito forte, exceção de pontos perto da Serra como o Vale do Sinos.

Projeção de vento em 850 hPa (1500 metros de altitude) do modelo norte-americano GFS com o posicionamento e intensidade da corrente de jato em baixos níveis sobre o Rio Grande do Sul na madrugada de sábado | METSUL

Projeção de vento em 850 hPa (1500 metros de altitude) do modelo norte-americano GFS com o posicionamento e intensidade da corrente de jato em baixos níveis sobre o Rio Grande do Sul na manhã de sábado | METSUL

Projeção de vento em 850 hPa (1500 metros de altitude) do modelo norte-americano GFS com o posicionamento e intensidade da corrente de jato em baixos níveis sobre o Rio Grande do Sul ao meio-dia de sábado | METSUL

Projeção de vento em 850 hPa (1500 metros de altitude) do modelo norte-americano GFS com o posicionamento e intensidade da corrente de jato em baixos níveis sobre o Rio Grande do Sul na tarde de sábado | METSUL

Projeção de vento em 850 hPa (1500 metros de altitude) do modelo norte-americano GFS com o posicionamento e intensidade da corrente de jato em baixos níveis sobre o Rio Grande do Sul na noite de sábado | METSUL

As rajadas em muitas cidades podem ser fortes com marcas em alguns pontos até acima 60 km/h a 70 km/h ou mais, alerta a MetSul Meteorologia. A grande maioria dos municípios deve ter vento de 40 km/h a 60 km/h, mas nos vales, sobre morros e áreas de encostas não são descartadas rajadas de 80 km/h a 100 km/h. A área de Santa Maria é de alto risco neste tipo de situação.

O vento Norte quente e seco, que não é vendaval de temporal porque não está associado a nuvens de tempestade, pode produzir transtornos e danos como falta de luz, destelhamentos e queda de árvores e postes, além do colapso de algumas estruturas.

O que é uma corrente de jato em baixos níveis

Em termos leigos, a corrente de jato em baixos níveis é uma corrente de ar estreita encontrada na baixa atmosfera, normalmente em torno do nível de pressão de 850 hPa (ou cerca de 1500 metros de altitude), atuando entre um e dois quilômetros de altura.

Ou seja, é um corredor de vento nas camadas baixas da atmosfera. Tal como as principais correntes de jato, as polares e subtropicais, são “rios” na atmosfera, embora em menor escala e geralmente em velocidades mais lentas.

Da mesma forma, são o resultado de gradientes (diferenças) de temperatura em altitudes mais baixas, que levam a um gradiente de pressão e um fluxo de ar perpendicular a esse gradiente.

Estas correntes de jato em baixos níveis (JBN) a Leste dos Andes que trazem ar quente costumam se originar na Bolívia ou no Centro-Oeste do Brasil e apresentam, em regra, uma extensão de centenas de quilômetros do Sul da região amazônica até a bacia do Rio Praia. No Prata, o jato costuma recurvar em direção a Leste para o Atlântico.

São estes episódios de JBN que trazem vento Norte seco quente de forte intensidade às vezes para o Rio Grande do Sul, especialmente precedendo uma frente fria acompanhada de um ciclone extratropical mais profundo, sobretudo no inverno.

São as situações em que não raro o vento Norte sopra com velocidades perto ou acima de 100 km/h na região de Santa Maria e nos vales, elevando a temperatura noturna para marcas ao redor ou acima de 30ºC, mesmo durante o inverno, em razão do que se denomina de aquecimento adiabático. O vento desce a encosta dos morros e superaquece por compressão, gerando alta temperatura nos vales e baixadas.

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