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A Oscilação Antártica está negativa de forma persistente desde o começo de outubro e esse comportamento anômalo do cinturão de ventos e baixas pressões ao redor do continente gelado pode ter reflexos diretos no clima do Sul do Brasil mesmo agora, em pleno verão meteorológico, que se iniciou em 1º de dezembro.

BoM

A fase negativa da Oscilação Antártica — conhecida pela sigla AAO- — é observada quando o cinturão de ventos ao redor da Antártida enfraquece e se expande para latitudes mais ao Norte, deslocando a corrente de jato e permitindo maior ondulação da atmosfera nas latitudes médias.

É esse deslocamento que abre caminho para frentes frias mais tardias ou precoces, aumentos temporários de chuva e, especialmente, condições mais favoráveis à formação de ciclones mais perto do território brasileiro.

Embora a AAO seja uma variabilidade natural do clima do Hemisfério Sul, períodos prolongados em terreno negativo tendem a modificar de forma significativa o padrão atmosférico, e é justamente o que ocorre desde o início de outubro.

A atuação contínua da AAO- (fase negativa) por vários meses ocorre em paralelo a eventos recentes que fogem do comportamento típico da estação com ondas de frio tardias e ciclones extratropicais junto ao Sul do Brasil.

Estudos destacam que a fase negativa da Oscilação Antártica aumenta a frequência com que perturbações atmosféricas conseguem avançar mais ao Norte, chegando a áreas que, sob condições mais típicas de verão, estariam dominadas pela subsidência típica de altas subtropicais e pelo calor persistente.

METSUL

A climatologia construída com décadas de observações mostra que a fase negativa da Oscilação Antártica aumenta o risco de formação de ciclones em posições mais próximas ao Brasil. Em geral, os ciclones nesta época se formam mais ao Sul do continente. Quando a AAO está negativa, porém, o eixo de formação desses sistemas migra alguns graus para o Norte, e tempestades ciclônicas podem se configurar mais perto do Brasil.

Isso não significa, obviamente, que todo período de AAO- trará um ciclone intenso, mas sim que a atmosfera opera dentro de um padrão propício para que sistemas de baixa pressão se formem com maior facilidade. Esses ciclones podem variar de fracos a intensos e, dependendo do alinhamento das correntes de vento e da disponibilidade de umidade, podem causar chuva volumosa, vento forte, mar agitado e ressaca em áreas costeiras.

NOAA

O fato de a Oscilação Antártica permanecer negativa desde outubro sugere que o padrão atmosférico do Hemisfério Sul está organizado de forma persistente para favorecer ondulações mais amplas da corrente de jato, o que aumenta as trocas de massas de ar entre altas e médias latitudes.

Esse comportamento explica tanto o frio fora de época registrado no final da primavera quanto episódios de chuva intensa no Centro do Brasil. Esse padrão também explica porque, mesmo no auge do verão, a atmosfera pode organizar ciclones.

Outro aspecto-chave é que a fase negativa intensifica a interface entre massas de ar frio — ainda presentes no Atlântico Sul mesmo no verão — e o ar quente muito predominante no continente nessa época do ano.

Quando essas massas contrastantes se encontram, aumentam as chances de formação de instabilidades organizadas com bandas de chuva mais intensas e persistentes no Centro do Brasil, os eventos de ZCAS (Zona de Convergência do Atlântico Sul).

Com efeito, a persistência da AAO- aumenta a vulnerabilidade para episódios de tempo severo. No verão, impactos costumam ser potencializados pelo maior aporte de calor e umidade, o que alimenta tempestades mais fortes, com risco de chuva localmente, inundações e deslizamentos, em particular no Sudeste do Brasil.

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