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Uma grande mudança está a caminho do continente americano e o Oceano Atlântico em alguns dias com uma maior ameaça de formação de furacões no final de setembro e parte de outubro no Atlântico Norte e um padrão mais chuvoso no Brasil com o retorno das precipitações após meses em algumas áreas.

Foto mostra raios em São Paulo

Fase ativa de oscilação intrassazonal do clima conhecida como Oscilação Madden-Julian vai mexer com o clima no hemisfério neste fim de setembro com cenário favorável à formação de ciclones tropicais no Atlântico Norte e um grande aumento da chuva no Brasil com instabilidade em locais há meses sem precipitação | FABRICIO BOMJARDIM/BRAZIL PHOTOPRESS/AFP/METSUL

Durante boa parte do auge da temporada de furacões, que se iniciou em 1º de junho, o que tem predominado é o que se chama de subsidência, ou seja, o movimento descendente do ar, o que traz uma temporada menos ativa até agora no Atlântico Norte.

Mas em breve ocorrerá uma mudança maior com algo chamado por nós meteorologistas de OMJ, ou Oscilação Madden-Julian, que promete trazer impacto significativo em várias partes do continente americano quando a oscilação alcançar as nossas longitudes.

Essa oscilação vai determinar um processo em cadeia que determinará um padrão de movimento ascendente do ar (convecção) mais amplo no Atlântico e nos trópicos da América do Sul.

Isso vai coincidir com o ponto da temporada de furacões no Atlantico Norte em que, historicamente, há uma maio propensão para ciclones tropicais no Caribe Ocidental e no Golfo do México. Com o ar subindo, o ambiente se torna mais favorável às tempestades, e o risco de desenvolvimento de ciclones tropicais aumenta.

Aqui na América do Sul, na faixa tropical, o efeito será também aumento da instabilidade atmosférica e isso vai se traduzir em chuva em muitas áreas do Brasil e em regiões que ainda estão na temporada seca e que testemunharão o retorno da chuva após vários meses sem nenhuma precipitação.

Ruptura de padrão no clima trará chuva em quase todo o Brasil

A influência da Oscilação Madden-Julian vai mexer com o clima do Brasil nos últimos dez dias deste mês de setembro com aumento da instabilidade no território nacional e chuva em praticamente todo o país.

Os dados analisado pela MetSul Meteorologia apontam que a chuva vai alcançar grande parte da áreas do Brasil que entre julho e setembro enfrentam o auge da temporada seca anual com escassez de precipitação por meses seguidos.

Com isso, cidade que não têm qualquer registro de chuva por mais de 100 dias podem ter, finalmente, o retorno da precipitação. É o caso de Brasília. A última precipitação na estação do Instituto Nacional de Meteorologia na capital federal foi em 23 de maio com 1,4 mm.

O mapa a seguir mostra a projeção de chuva para 15 dias em todo o Brasil a partir de dados do modelo do Centro Meteorológico Europeu (ECMWF), que pode ser consultado pelo nosso assinante (assine aqui).

Mapa de chuva do modelo europeu para 15 dias

Projeção de chuva para 15 dias do modelo europeu a partir da rodada da 0Z de hoje indica chuva em quase todo o Brasil com aumento da instabilidade favorecido pela Oscilação Madden-Julian | METSUL

Como se observa no mapa, a chuva deve alcançar a grande maioria das áreas do Centro-Oeste e do Sudeste do Brasil, além do Sul da região amazônica, áreas do Brasil que nesta época do ano costumam ser muito secas, antes do retorno gradual da chuva durante o mês de outubro.

Obviamente, as precipitações nestas áreas serão irregulares e na forma de pancadas, ou seja, não choverá em todas as cidades, mas em muitos municípios haverá precipitação e isoladamente até forte com risco de temporais e nuvens de poeira por tempestades localizadas.

Mais ao Sul do Brasil, onde não há temporada seca e setembro tem média histórica alta de precipitação, o aumento da instabilidade tropical deve trazer mais chuva nesta segunda metade do mês com possibilidade de volumes altos em parte do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, particularmente no período de 19 a 27 de setembro.

Além disso, se a chamada Oscilação Madden-Julian favorece ciclones tropicais (furacões) no Atlântico Norte, nos subtrópico aqui na América do Sul ela aumenta o risco de ciclones extratropicais. Assim, não será surpresa se houver mais um ciclone impactando o Sul do Brasil até o fim do mês.

O que é a Oscilação de Madden-Julian

A Oscilação de Madden-Julian (OMJ na sigla em Português) é um dos principais modos de variabilidade da atmosfera tropical no clima em escala intrassazonal, ou seja, que atua em períodos de 30 a 60 dias.

Foi identificada nos anos 1970 pelos meteorologistas Roland Madden e Paul Julian, e desde então tem se mostrado fundamental para compreender a dinâmica do clima em diferentes regiões do planeta.

Trata-se de uma onda atmosférica que se propaga de Oeste para Leste ao longo da faixa equatorial, especialmente entre o Oceano Índico e o Pacífico tropical, com áreas alternadas de aumento e supressão da atividade convectiva (nuvens e tempestades).

Na prática, é caracterizada por grandes “pulsos” de nebulosidade e chuvas que percorrem o globo. Quando uma fase ativa da oscilação passa sobre determinada região, a tendência é de intensificação da convecção tropical, com mais formação de nuvens e precipitação. Já a fase inativa está associada à subsidência do ar, tempo mais seco e inibição da atividade de tempestades.

Previsão da OMJ

Modelos projetam influência da Oscilação Madden-Julian no clima do Brasil neste fim de setembro e em parte de outubro | NOAA

Esses pulsos não apenas afetam diretamente áreas tropicais, como também modulam sistemas meteorológicos em latitudes médias, como o Sul do Brasil, influenciando ondas de frio, padrões de circulação e até o desenvolvimento de ciclones.

No caso do Brasil, os efeitos da OMJ são significativos, embora variem conforme a estação do ano e a posição da oscilação no globo.

Durante a estação chuvosa na Amazônia, no Centro-Oeste e no Sudeste, por exemplo, a passagem da fase ativa da oscilação costuma intensificar a formação de nuvens e aumentar os volumes de precipitação.

Isso pode reforçar episódios de Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), sistemas que trazem chuva persistente para o Sudeste e o Centro-Oeste no verão. Por outro lado, quando a OMJ está em fase inativa sobre o continente, tende a reduzir a instabilidade e prolongar períodos mais secos, o que pode atrasar ou interromper a estação das chuvas.

Outro ponto importante é a interação da MJO com fenômenos de maior escala, como El Niño e La Niña. Dependendo de sua fase, a oscilação pode reforçar ou amenizar os efeitos desses eventos sobre o Brasil, alterando o padrão de chuvas no Sul, no Nordeste e em outras regiões.

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