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Chuvas torrenciais, enchentes violentas e deslizamentos de terra transformaram partes da Ásia em zonas de devastação nesta semana com enchentes catastróficas e um saldo chocante de mortes e de desabrigados pelas inundações.

Uma criança caminha pelas águas das inundações provocadas pelo ciclone Ditwah em Colombo, no Sri Lanka | KRISHAN KARIYAWASAM/NURPHOTO/AFP/METSUL

A causa do cenário extremo é a atuação simultânea de três ciclones tropicais, alimentados por mares mais quentes e pela fase ativa das monções. O resultado é um dos episódios climáticos mais severos dos últimos anos na região.

Balanço aponta que mais de 1,2 mil pessoas morreram, outras centenas seguem desaparecidas e milhões foram obrigadas a abandonar suas casas em Indonésia, Sri Lanka, Tailândia e Malásia. A destruição se espalha por cidades inteiras, enquanto resgates continuam em ritmo intenso.

O Sul e o Sudeste Asiático concentram algumas das cidades mais vulneráveis do planeta. Cerca de 40% da população urbana mundial vive na região, mas 60% das pessoas que moram a até 5 metros acima do nível do mar também estão ali.

Isso aumenta a exposição a inundações, ondas de tempestade e tempestades tropicais. Em 2025, mais de 200 milhões de pessoas estavam vulneráveis a enchentes fluviais na região.

Indonésia vive o cenário mais crítico

A Indonésia concentra o maior número de vítimas. Em Sumatra, onde o impacto foi mais severo, ao menos 604 pessoas morreram, segundo autoridades locais. Outras 500 continuam desaparecidas, soterradas por deslizamentos desencadeados pelo ciclone Senyar.

O fenômeno se formou de maneira incomum no Estreito de Malaca, uma área próxima ao Equador onde ciclones raramente se desenvolvem. A formação surpreendeu especialistas e pegou moradores desprevenidos.

Estradas foram bloqueadas, pontes ruíram e cidades inteiras ficaram isoladas. Três navios de guerra, dois navios-hospital e aeronaves foram enviados para alcançar as áreas mais críticas, muitas delas ainda inacessíveis por terra.

Imagens divulgadas pela imprensa local mostram helicópteros distribuindo alimentos e água em regiões cercadas por lama. Moradores relatam perdas completas em questão de minutos.

Socorristas avançam pela água segurando uma corda enquanto tentam resgatar moradores após as inundações em Padang, na província de Sumatra Ocidental, na Indonésia. | REZAN SOLEH/AFP/METSUL

Antes da chegada da ajuda oficial, houve registros de saques. A polícia afirmou que moradores temiam morrer de fome. “Eles não sabiam se a ajuda chegaria”, disse o porta-voz Ferry Walintukan.

O presidente Prabowo Subianto visitou o norte de Sumatra e declarou acreditar que “o pior já passou”, mas alertou que o envio de combustível e suprimentos continua comprometido.

Sri Lanka enfrenta um desastre sem precedentes

Também duramente atingido, o Sri Lanka vive uma das maiores tragédias climáticas de sua história. O ciclone Ditwah deixou cerca de 390 mortos e mais de 350 desaparecidos, levando o governo a declarar estado de emergência.

Mais de 148 mil pessoas estão em abrigos temporários, e 1,1 milhão foram afetadas pelas enchentes e deslizamentos.

Um jovem carrega um homem idoso enquanto eles avançam pela água em uma rua alagada após uma chuva intensa em Wellampitiya, nos arredores de Colombo, no Sri Lanka | ISHARA S. KODIKARA/AFP/METSUL

A capital, Colombo, teve ruas completamente submersas. Voluntários navegam em barcos improvisados para entregar comida a quem ficou preso nos andares superiores das casas.

Em discurso à nação, o presidente Anura Kumara Dissanayake afirmou que o país enfrenta “o maior e mais desafiador desastre natural de sua história”. Ele comparou a extensão da tragédia ao tsunami de 2004, que deixou 31 mil mortos no país, mas destacou que desta vez todo o território foi afetado, não apenas as áreas costeiras.

Tailândia registra chuva equivalente a evento de 300 anos

A Tailândia contabiliza pelo menos 176 mortes. A província de Songkhla, no sul, é o epicentro da destruição. Em Hat Yai, as autoridades classificaram as chuvas como um evento que acontece “uma vez a cada 300 anos”.

Um homem empurra um recipiente cheio de bebidas enquanto caminha pela água dentro de uma loja de conveniência alagada em Hat Yai, na província de Songkhla, no sul da Tailândia, com enchentes severas na região | ARNUN CHONMAHATRAKOOL/THAI NEWS PIX/AFP/METSUL

Bairros inteiros estão submersos, e equipes de resgate usam barcos para retirar pacientes de hospitais e recém-nascidos de maternidades ilhadas. As enchentes afetaram quase 2,8 milhões de pessoas.

O governo tailandês anunciou compensações financeiras e empréstimos emergenciais para ajudar famílias que começam a retornar às casas destruídas.

Malásia evacua milhares preventivamente

Na Malásia, o impacto foi menor, mas ainda grave. Três mortes foram confirmadas, e mais de 34 mil pessoas tiveram de deixar suas casas preventivamente.

Foto aérea mostra casa cercada por águas deainundação em Kangar, no estado de Perlis, no Norte da Malásia. As inundações na Malásia, após dias de chuva forte, atingiram oito estados com milhares de desabrigados que foram transferidos para dezenas de abrigos temporários. | MOHD RASFAN/AFP/METSUL

No estado de Perlis, idosos ficaram presos em áreas completamente cercadas pela água. As famílias só conseguiram resgatá-los horas depois, usando barcos pequenos e equipamentos improvisados. Centros de evacuação foram montados pela Agência Nacional de Desastres.

Um encontro raro de sistemas tropicais

Autoridades meteorológicas locais explicam que três sistemas atuaram ao mesmo tempo: o ciclone Senyar, no Estreito de Malaca, o tufão Koto, que passou pelas Filipinas e seguiu para o Vietnã, e o ciclone Ditwah, responsável pelo desastre no Sri Lanka.

A interação entre eles ampliou a circulação de ventos e transportou enormes volumes de umidade do oceano para o continente. Esse fluxo gerou chuvas extremas justamente no período das monções, quando o solo já está encharcado.

Além disso, a temperatura do mar estava acima de 26,5°C, limite que favorece a evaporação e fortalece tempestades tropicais. Com mais vapor na atmosfera, as tempestades ganharam energia rapidamente.

Meteorologistas explicam que o mecanismo é conhecido: o ar quente e úmido sobe, reduz a pressão e intensifica o giro dos ventos. O processo pode transformar tempestades moderadas em ciclones com ventos acima de 119 km/h.

Impacto duradouro

Embora as chuvas tenham diminuído, vastas áreas continuam submersas. Regiões na Indonésia e no Sri Lanka seguem isoladas. O número de mortos pode aumentar à medida que equipes alcançam localidades remotas.

A tragédia expõe um padrão cada vez mais frequente: eventos extremos moldados por um clima mais quente e por sistemas tropicais que ganham força rapidamente. Governos e agências humanitárias alertam que a recuperação deve levar meses — e que novas tempestades podem ocorrer nas próximas semanas.

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