O furacão Melissa continua a se intensificar ao Sul da Jamaica nesta segunda-feira e obrigou uma aeronave caça-furacões da NOAA, que voava dentro do monstruoso furacão de Categoria 5, a abortar a missão devido à turbulência extrema.

NOAA
Os caçadores de furacões da Força Aérea estavam voando pela tempestade junto com o P-3 da NOAA, o que rotineiramente fazem em ciclones tropicais que se formam e atuam no Atlântico Norte, em várias missões de reconhecimento a fim de coletar vários dados meteorológicos.
O fato de a aeronave P-3 da NOAA ter enfrentado tamanha violência e turbulência na parede Sudoeste do olho fez com que a tripulação deixasse o furacão por segurança.
De acordo com as informações mais recentes do Centro Nacional de Furacões (NHC), o furacão Melissa agora apresenta ventos máximos sustentados de 265 km/h e rajadas ainda mais fortes ao redor de 300 km/h.
São esperadas oscilações na intensidade enquanto o sistema atinge a Jamaica com maré de tempestade mortal, inundações súbitas e deslizamentos de terra catastróficos e ventos destrutivos.
Como são várias missões de reconhecimento, outra tripulação conseguiu ingressar no olho do catastrófico furacão categoria 5 e conseguiu registrar a estrutura simétrica circular presente apenas nos ciclones tropicais mais intensos.
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“Viagem insana no furacão Melissa hoje. Minha primeira vez em um Categoria 5, e definitivamente foi a experiência mais turbulenta que já tive”, descreveu o meteorologista Andy Hazelto, que voou numa missão de reconhecimento em Melissa nas últimas horas.
“Eu estava processando os dados do sonda e enviando. Alguns dos valores (de vento e pressão) estão entre os dos piores furacões do Atlântico. Levem este furacão muito a sério na Jamaica e em Cuba”, destacou.
Wild ride in Hurricane #Melissa today. My first time ever in a Category 5, and it was definitely the most turbulent I've ever experienced. I was processing the dropsonde data and sending it out – some of these are up there with about as strong as Atlantic hurricanes can get.… pic.twitter.com/ZVNZ4FxoMm
— Andy Hazelton (@AndyHazelton) October 27, 2025
Melissa se formou sobre águas excepcionalmente quentes do Caribe central, com temperaturas superiores a 30 °C que se estendem a até 200 metros de profundidade — uma reserva de energia oceânica sem precedentes.
Essa configuração permitiu a intensificação explosiva de tempestade tropical para um furacão categoria 4 em apenas 18 horas. A tempestade exibe estrutura simétrica, compacta e quase perfeita, reunindo todos os ingredientes para uma catástrofe tropical.
O caminho de Melissa
O furacão deve cruzar a Jamaica de Sudoeste para Nordeste nesta terça-feira, expondo quase todo o território ao quadrante mais perigoso da tempestade que deve ter efeitos devastadores.
O Centro Nacional de Furacões (NHC) emitiu um alerta dramático para a Jamaica, pedindo que a população não saia dos abrigos seguros. O órgão alerta para inundações súbitas catastróficas e deslizamentos de terra generalizados e potencialmente fatais entre esta segunda e terça-feira.
Os ventos extremos na parede do olho do furacão Melissa podem provocar colapso estrutural total, especialmente em áreas mais elevadas, entre a noite de hoje e o início da terça. O NHC prevê danos severos à infraestrutura, interrupções prolongadas de energia e comunicações, isolamento de comunidades inteiras e uma maré de tempestade perigosa, com ondas destrutivas atingindo o litoral sul da Jamaica até terça-feira.
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Mas o maior risco não está apenas nos ventos de 200 km/h a 300 km/h e na maré. A chuva associada a Melissa pode ser devastadora. Modelos meteorológicos apontam para acumulados acima de 1000 mm em menos de 72 horas nas encostas das Blue Mountains e nas montanhas do sul do Haiti.
Simulações com inteligência artificial sugerem até 1500 mm em alguns pontos — valores descritos por meteorologistas como “bíblicos”. O terreno montanhoso da Jamaica agrava o problema, forçando o ar úmido a subir e produzir chuva orográfica extrema.
OS VOOS CAÇA-FURACÕES
Por que os pilotos correm tamanho risco ao voar no centro dos furacões? Os cientistas a bordo lançam radiossondas no olho da tempestade a partir do avião que coletam dados como de pressão atmosférica e vento. Estes dados são fundamentais para saber a intensidade do ciclone e uma vez alimentados nos computadores permitem uma previsão mais precisa dos modelos meteorológicos sobre a sua intensidade e trajetória.
Como os aviões não se despedaçam? Os aviões geralmente não são destruídos por ventos fortes durante o vôo. As aeronaves em geral costumam voar em correntes de jato com ventos superiores a 250 km/h em diferentes partes do mundo.
É o cisalhamento, ou mudança repentina nos ventos horizontais ou verticais, que pode destruir uma aeronave ou causar sua perda de controle. É por isso que as aeronaves Hurricane Hunter da NOAA não passam por tornados.

NOAA
Os pilotos e a tripulação da NOAA estão acostumados a voar no ambiente de vento forte de um furacão e não temem que ele destrua o avião, mas estão sempre monitorando os pontos de tempo severo e cisalhamento que podem frequentemente identificar no radar e, assim, são capazes de evitar se forem muito severos.
Os Hurricane Hunters pertencem ao 53º Esquadrão de Reconhecimento Meteorológico que opera a partir da Base Aérea de Keesler em Biloxi, Mississippi. Seus membros traçam a origem da caça ao furacão desde 1943, quando dois então pilotos do Corpo de Aviação do Exército voaram em um furacão junto ao Texas.

NOAA
Apesar da severidade de tempestades como Ida e do perigo enorme no solo, os voos têm um incrível histórico de segurança. Nenhuma aeronave foi perdida em mais de quatro décadas. A última vez foi em 1974.
Cerca de seis aeronaves de caça a furacões ou tufões foram perdidas no total ao longo da história, custando 53 vidas. Hoje, as missões são realizadas em grande parte por reservistas da Força Aérea dos Estados Unidos que, após alguns dias ou semanas perseguindo tempestades, retornam a seus empregos no mundo civil.
O OLHO DO FURACÃO
Característica de furacões muito intensos, o olho da Ida estava muito bem definido nas imagens de satélite na manhã deste domingo. O olho já estava a poucos quilômetros de tocar terra no litoral do estado norte-americano da Louisiana.
A característica mais reconhecível encontrada em um furacão é o olho. Eles são encontrados no centro e têm entre 20 e 50 quilômetros de diâmetro. O olho é o centro do furacão, o ponto em torno do qual o resto da tempestade gira e onde as pressões de superfície mais baixas são encontradas na tempestade.
O céu geralmente está claro ou com poucas nuvens acima do olho e os ventos são relativamente fracos. Na verdade, é a parte mais calma de qualquer furacão. Por quê? O olho está tão calmo porque os agora fortes ventos da superfície que convergem para o centro nunca o alcançam. A força de Coriolis desvia ligeiramente o vento do centro, fazendo com que o vento gire em torno do centro do furacão a parede do olho ou eyewall), deixando o centro exato (o olho) calmo.
Um olho se torna visível quando parte do ar que sobe na parede do olho é forçado para o centro da tempestade, em vez de para fora, para onde vai a maior parte. Esta parcela de ar ruma em direção ao centro de todas as direções. Essa convergência faz com que o ar realmente afunde no olho. Este afundamento cria um ambiente mais quente e as nuvens evaporam deixando um claro.
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