Um grande blecaute de energia afeta nesta segunda-feira Portugal e Espanha, deixando dezenas de milhões de pessoas sem luz. Trens pararam. Ruas congestionaram. Pessoas ficaram presas em elevadores.

Metrô de Lisboa parado e às escuras | STRINGER/ANADOLU/AFP/METSUL
O blecaute começou às 12h30, hora local. Embora a energia já tenha voltado em poucos locais dos dois países, o apagão prossegue. O governo espanhol buscava entender a causa. A população ficou sem informações.
Em Madrid, clientes correram para bancos. Ruas lotaram de pessoas tentando sinal de celular. Muitos ficaram presos em elevadores e garagens. O torneio Madrid Open foi cancelado. Sem semáforos, o trânsito ficou parado.
A polícia tentou organizar o tráfego. Motoristas foram orientados a evitar as ruas. Hospitais ativaram geradores. Áreas críticas funcionaram. Algumas unidades ficaram sem energia.
Trens em toda a Espanha pararam. Usinas nucleares desligaram automaticamente por segurança. Geradores a diesel mantiveram a estabilidade. Voos em Madrid, Barcelona e Lisboa foram prejudicados. Eurocontrol não informou o número de voos afetados.
O primeiro-ministro Pedro Sanchez convocou reunião de emergência. A Comissão Europeia manteve contato com Espanha e Portugal. O presidente do Conselho Europeu descartou ataque cibernético.
Imagens nas redes mostraram estações de metrô no escuro. Pessoas usaram lanternas dos celulares. O site Netblocks apontou queda de 83% no uso da internet. Muitos serviços digitais ficaram indisponíveis.
As investigações sobre a causa do apagão ainda estão em andamento, mas o operador de rede elétrica de Portugal, REN, aponta para um raro “fenômeno atmosférico” ocorrido na Espanha como possível origem.
Conforme o operador português, em entrevista à agência Reuters, trata-se de uma “vibração atmosférica induzida” causada por variações extremas de temperatura, que teria gerado oscilações anômalas nas linhas de alta tensão (400 kV), afetando a sincronização da rede elétrica europeia. O primeiro-ministro português descartou, até o momento, a hipótese de um ciberataque.

JAVIER SORANO/AFP/METSUL

THOMAS COEX/AFP/METSUL
O operador espanhol Red Eléctrica descreveu o evento como “excepcional e totalmente extraordinário” e previu a recuperação do fornecimento em horas, embora a normalização completa em Portugal possa demorar até uma semana. Em resposta, autoridades de ambos os países convocaram reuniões de emergência e orientaram a população a evitar deslocamentos desnecessários.
As linhas de alta tensão podem sofrer diversos tipos de vibração. Uma delas é a vibração atmosférica induzida. Esse fenômeno gera oscilações de baixa frequência, entre 0,1 e 10 Hz. Afeta condutores e componentes da rede elétrica.
Diferente da vibração causada pelo vento, a atmosférica tem outra origem. Surge da interação entre fenômenos elétricos e condições do tempo. O processo começa com uma descarga (não um raio). Ela ocorre em alta umidade ou em superfícies irregulares dos cabos. A descarga ioniza o ar ao redor das linhas, formando partículas carregadas.
Essas partículas interagem com o campo elétrico dos condutores. Isso cria forças eletro-hidrodinâmicas periódicas. Essas forças geram ondas de pressão no ar. As ondas causam a vibração dos condutores e de outras partes do sistema.
A vibração atmosférica induzida é única. Não está ligada diretamente a forças mecânicas, como o vento ou o gelo. Suas consequências variam no tempo.
A longo prazo, pode causar fadiga nos materiais. Fios, isoladores e suportes ficam mais frágeis. Podem surgir fissuras e afrouxamento de conexões. O desgaste em pontos de contato também se acelera.
A curto prazo, a vibração pode aumentar o ruído perto das linhas. Em casos raros, pode afetar instrumentos sensíveis. Também pode se somar a outras vibrações, aumentando os danos.
Mas a hipótese ventilada pelo operador elétrico português de um fenômeno muito raro chamado de “vibração atmosférica induzida” é recebida com ceticismo por especialistas na península ibérica.
Segundo essa teoria, as oscilações causaram falhas de sincronização entre os sistemas elétricos, observa a REN, resultando em perturbações sucessivas em toda a rede europeia.
José María Madiedo, astrofísico do Instituto de Astrofísica da Andaluzia (IAA-CSIC), acredita que uma vibração atmosférica (que pode ser causada por um raio ou um som alto) parece “muito estranha”.
De fato, o especialista descarta a possibilidade de que tenha sido um fenômeno natural: “A primeira coisa que pensei foi que poderia ser algo parecido com uma tempestade solar como o evento Carrinton”, explica ele ao jornal ABC, referindo-se à tempestade solar extrema em 1859.
O problema com essa explicação é que se trata de um fenômeno tão localizado que não se encaixa na hipótese da tempestade solar. “Um evento teria afetado o planeta inteiro, não apenas a Espanha e Portugal”, ressalta Madiedo. “Também descarto que tenha sido um fenômeno atmosférico”, afirmou.
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