Aarti Verma está prestes a se juntar à crescente parcela de indianos que instalam ar-condicionado, juntando economias para garantir alívio diante de temperaturas às vezes letais, que podem chegar a quase 50 C.

DALE DE LA REY/AFP/METSUL METEOROLOGIA
Um recorde de 14 milhões de unidades de ar-condicionado foram vendidas na Índia no ano passado, e prevê-se um aumento de nove vezes na posse residencial desses aparelhos até meados do século. Isso proporcionará a milhões de pessoas condições mais seguras e confortáveis em casa e no trabalho.
Mas também impulsionará a demanda por eletricidade — que ainda é majoritariamente gerada pela queima de carvão, que aquece o clima —, além de aumentar a quantidade de ar quente expelido para as ruas abafadas do país.
Para Verma, a prioridade é garantir alívio imediato.
Seu trabalho com vendas e marketing exige visitar várias lojas por dia, enfrentando o calor escaldante.
“Depois de um dia longo, quero um pouco de conforto”, disse a jovem de 25 anos, que ganha 30 mil rúpias (cerca de US$ 350) por mês e pagará 50 mil rúpias (US$ 584) para instalar um ar-condicionado em sua simples casa de dois cômodos.
“Antes eu dormia no terraço, mas hoje em dia está tão quente até à noite que o ar-condicionado se tornou uma necessidade”, contou à AFP em um bairro pobre da capital, Delhi.
A Índia é o mercado de ar-condicionado que mais cresce no mundo, apesar de apenas cerca de 7% das residências possuírem o aparelho atualmente.
Esse crescimento pode fazer com que o país mais populoso do mundo precise triplicar a produção de eletricidade para atender à demanda, segundo especialistas.
Com 1,4 bilhão de habitantes, a Índia já é o terceiro maior emissor mundial de gases de efeito estufa, consumindo cerca de 1 bilhão de toneladas de carvão no ano fiscal de 2024-25, segundo dados oficiais.
Verões brutais
“A disseminação do ar-condicionado na Índia é impulsionada principalmente pelas condições climáticas, o crescimento da classe média, opções favoráveis de financiamento ao consumidor e eletrificação generalizada”, disse K.J. Jawa, diretor da fabricante japonesa de ar-condicionado Daikin na Índia.
“Hoje, o ar-condicionado não é mais considerado um luxo, mas sim um investimento em produtividade e bem-estar — uma boa noite de sono é essencial para nossa saúde mental e física”, afirmou à AFP.
Verma precisou dar uma entrada de 13 mil rúpias (US$ 150), com o restante parcelado em prestações mensais.
“Eu poderia ter comprado ouro com esse dinheiro, que seria um bom investimento, mas dei prioridade ao ar-condicionado”, disse ela.
Segundo o departamento meteorológico, 2024 foi o ano mais quente já registrado na Índia desde o início dos registros sistemáticos, em 1901, com temperaturas escaldantes seguindo a tendência global de eventos climáticos extremos impulsionados pelas mudanças climáticas.
Uma onda de calor em maio de 2024 em Nova Délhi igualou o recorde anterior da capital: 49,2 °C, registrado em 2022.
O calor brutal do verão pode derreter o asfalto das ruas e colocar milhões de pessoas em risco. Entre 2012 e 2021, quase 11 mil pessoas morreram de insolação na Índia, segundo dados do governo.
Especialistas em saúde pública acreditam que o número real de mortes relacionadas ao calor é muito maior, mas como o calor frequentemente não é listado como causa nos atestados de óbito, muitas vítimas não são incluídas nas estatísticas oficiais.
Ironia do destino, os gases refrigerantes dentro dos aparelhos de ar-condicionado e a eletricidade gerada a carvão que os alimenta apenas agravam o aquecimento global. O uso generalizado de ar-condicionado também aumenta a temperatura externa ao expelir o calor interno.
Estudos — incluindo da Organização Mundial da Saúde e do programa ONU-Habitat — mostram que os motores geradores de calor dentro dos aparelhos de ar-condicionado podem elevar a temperatura nas áreas urbanas em até 1 grau Celsius.
Eficiência energética
Antes de comprar o ar-condicionado, Verma usava um climatizador tradicional — um aparelho barulhento com ventilador que sopra ar fresco a partir de almofadas embebidas em água.
Mas enchê-lo de água e garantir que não se tornasse um criadouro de mosquitos transmissores de doenças dava muito trabalho.
As vendas estão em alta na Imperial Refrigeration, no centro histórico de Délhi, com um fluxo constante de clientes enfrentando o calor da tarde.
Japsahib Singh Ahuja, de 22 anos, cuja família é dona da loja há 50 anos, afirma que as vendas mais do que triplicaram nos últimos cinco anos, impulsionadas por novos consumidores e pelo “ciclo de substituição” dos aparelhos.
“Hoje em dia, os aparelhos não duram muito, porque há muitos poluentes no ar de Délhi que causam corrosão e vazamento de gás”, explicou.
Délhi e sua região metropolitana, com mais de 30 milhões de habitantes, frequentemente lideram os rankings mundiais de poluição do ar.
O ar-condicionado representará um quarto das emissões da Índia e quase metade da demanda de eletricidade nos horários de pico até 2050, segundo a Coalizão do Frio da ONU (Cool Coalition).
Mas a Índia ainda não assinou o Compromisso Global pelo Resfriamento da coalizão, que busca reduzir o impacto climático do setor.
Ainda assim, há sinais de esperança, com mais indianos comprando aparelhos de ar-condicionado energeticamente eficientes, segundo Ahuja.
Os modelos inverter, que economizam energia, já dominam o mercado, e as empresas configuram a temperatura padrão em 24 °C.
“As classificações de eficiência energética agora são obrigatórias”, disse Ahuja. “Certamente veremos benefícios a longo prazo”.
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