O inverno começa oficialmente nesta segunda-feira (20) às 19h34m. Trata-se somente do início astronômico da estação, com o solsísticio, porque climaticamente o inverno de 2016 está em andamento faz muitas semanas. Na prática, o ano não teve outono no Rio Grande do Sul. Saímos de um ritmo climático de verão sem escalas para um de inverno. Nas três primeiras semanas de abril, a cidade de Porto Alegre (Jardim Botânico) anotou dez dias com máximas acima de 30ºC, sendo três com mais de 35ºC. Foi um período tão quente para abril que somente havia precedente na climatologia nacional em 1941. Fora ao extremo do padrão de outono. Na última semana do mês, poderosa massa de ar polar alcançou o Sul do Brasil com mínimas não vistas em quase meio século para abril. Até nevou, o que somente havia sido documentado em abril antes em 1999. Uma ruptura no padrão de extremo calor para extremo frio.


O gráfico acima que foi enviado pelo nosso leitor Paulo Pinheiro Coelho, engenheiro e mestre em meio ambiente, a partir de dados da estação do Instituto Nacional de Meteorologia em Canela, ilustra com perfeição a análise inicial. Entre a primeira semana de janeiro e a terceira de abril o ritmo da temperatura foi muito semelhante com a normal oscilação, mas dentro de um padrão quente. A partir dos últimos dias do mês de abril se inicia outra tendência e que se mantém até agora e de frio quase constante nos últimos 50 a 55 dias. Foi essa constância de frio com sucessivos pulsos de ar polar que determinou que o Rio Grande do Sul tivesse o maio mais frio desde 1988 e uma primeira quinzena de junho com frio extremo e raramente visto com tamanha força no período. Tanto que o inverno astronômico começará em 20 de junho com o Estado já somando 23 ou 24 dias com registro de temperatura negativa no ano, o que dá quase um mês, quando no ano passado inteiro (de pouco frio) foram apenas 15 dias.


O que estamos ainda experimentando, perto de 60 dias seguidos de frio a muito frio, é uma excepcionalidade. Não é a regra na nossa climatologia local termos um período tão prolongado de frio e com tamanha intensidade. A regra é a variabilidade com jornadas amenas e algumas até quentes se intercalando com períodos frios mais curtos. Se quase 60 dias seguidos constituem uma significativa excepcionalidade, outros 60 seriam uma improbabilidade estatística imensa. Em 1988, como agora, maio e junho foram gélidos. Julho foi ainda frio, mas agosto já foi mais quente do que o normal. Qual nosso ponto? Que é improvável que os próximos 50/60 dias (inverno) sejam tão frios quanto foram os últimos 50/60 dias (outono). Por isso, enxergamos com ceticismo notícias que saem na imprensa quanto a um “inverno rigorosíssimo” a partir deste 20 de junho. O inverno climático, que começou faz tempo, se prova rigoroso, mas o período só astronômico não replicará com a mesma magnitude. Ainda haverá episódios e jornadas de frio intenso a extremo, porém com o padrão mais tradicional em que são registrados dias e períodos amenos e quentes se intercalando.