Muitos dos moradores de Porto Alegre de hoje viram a grande enchente de 2024, mas não testemunharam a tarde branca de 24 de agosto de 1984 que hoje completa 40 anos. O dia em que a neve foi o assunto da capital gaúcha e, ao contrário deste ano, o céu trouxe alegria e não tristeza e sofrimento.
Foi um dia mágico para quem viveu. E quem viu, jamais esqueceu. Imagine caminhar pela Rua da Praia, sair das compras do Mercado Público ou cruzar pelo Estádio Olímpico e Beira-Rio sob a dança no ar dos flocos de neve que se precipitavam. Parece até difícil de acreditar, mas aconteceu.
O dia começou ameno na capital gaúcha e os moradores de Porto Alegre jamais podiam imaginar o que a tarde daquele 24 de agosto de 1984 estaria reservando. De repente, a temperatura começou a cair e cair muito ao longo do dia de céu encoberto e chuvoso.
Ao invés de subir, as marcas nos termômetros despencavam no final da manhã e no começo da tarde. Às três horas da tarde, fazia 5ºC na capital gaúcha e chovia. Chuva que instantes depois se transformaria em neve com flocos que atingiram a cidade como um todo e diversos pontos da região metropolitana.
A neve durou pouco mais de meia hora. Em alguns locais, a precipitação chegou a perdurar por quase uma hora. Foi o suficiente para que houvesse acumulação sobre automóveis, telhados e na vegetação.
O espetáculo foi mais bonito em partes altas da cidade como o Morro Santa Teresa ou o Morro da Polícia, onde a neve chegou a acumular. Moradores formaram pequenos bonecos de neve sobre os automóveis e alguns bolas de neve para brincar.
Na Rua da Praia, no Centro Histórico, porto-alegrenses incrédulos não podiam acreditar no que os olhos mostravam. A neve caía, sem trégua, no meio da tarde, sobre a Praça da Alfândega e transformava a paisagem.
A neve atingiu todas as regiões da cidade naquele 24 de agosto de 1984. Caiu nas zonas Sul, Leste, Norte e no Centro. Teve maior intensidade no Sul e no Leste de Porto Alegre, onde há as maiores elevações e há maior precipitação quando da atuação de ciclones extratropicais.
O que causou a neve em Porto Alegre
O histórico 24 de agosto de 1984 foi resultado do cenário mais clássico para neve no Rio Grande do Sul. Uma massa de ar frio de origem polar de trajetória continental com um ciclone extratropical proporcionando umidade no estado gaúcho, formando a combinação de ar gelado em altitude com precipitação.
A imagem de satélite do GOES-6 (hoje o satélite que nos serve é o GOES-16) mostrava um intenso ciclone extratropical na costa da Argentina enquanto pelo interior da América do Sul avançava o ar polar. A frente fria associada ao ciclone estava entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, trazendo chuva. O ar gelado na retaguarda da frente ingressando com chuva favoreceu a neve em Porto Alegre.
Já havia nevado mais cedo naquele dia em áreas de baixa altitude ou perto do nível do mar no Centro e no Sul do estado, um prenúncio de que poderia ocorrer depois na área de Porto Alegre com a chegada do ar mais frio sob instabilidade.
Embora os jornais da época mencionassem que a temperatura no Jardim Botânico era de 2ºC no momento da neve, os registros do Instituto Nacional de Meteorologia do dia apontam 8,3ºC às 9h e 5,7ºC às 15h na capital. Em Caxias, onde também nevou depois de Porto Alegre, fazia 3,4ºC às 15h. Em Santa Maria, no meio da tarde, a temperatura estava em 6,4ºC.
Dez anos depois, outra neve
Voltaria a nevar em Porto Alegre dez anos mais tarde, no gélido 8 de julho de 1994, dia do motim e fuga do Presídio Central, outra data marcante da capital gaúcha no final do século passado, com a neve e um fato policial dominando o noticiário local da cidade e do estado.
A neve de 1994, entretanto, não foi tão espetacular como a de 1984. Caiu misturada à chuva e em muitos pontos da cidade se deu na forma de pancadas de neve granular com grãos de gelo. Mas, ao contrário de 1984, a neve de 1994 se deu em diferentes momentos entre o fim da manhã e o meio da tarde.
Tal como em 1984, o que levou à neve de 1994 foi a combinação de ar muito frio de origem polar com trajetória continental com a atuação de um ciclone extratropical. Na Serra, a neve de 1994 foi mais forte com acumulação significativa que rendeu as fotos dos cartões postais de Gramado por quase duas décadas, até que foram substituídos pelas fotos da nevada do final de agosto de 2013.
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