Uma brutal onda de calor atingiu áreas do Norte da Argentina, Paraguai, Bolívia e a maioria dos estados brasileiros durante a segunda metade de setembro. As temperaturas passaram dos 43ºC no Norte argentino, superaram os 45ºC no Paraguai e atingiram marcas entre 40ºC e 45ºC em vários estados do Centro-Oeste e do Sudeste do território brasileiro.
Em Minas Gerais, por exemplo, a estação da Pampulha anotou 38,4ºC, a maior temperatura já medida na capital mineira em estação meteorológica. A estação que é usada para recordes, entretanto, é a de Santo Agostinho, que possui uma longa série de dados de 113 anos. A máxima na estação de Santo Agostinho foi de 37,5ºC, recorde absoluto de setembro e toda a série histórica, superando os 37,4ºC de 22/10/2015. No tórrido outubro de 2020, a estação registrou 36,9ºC no dia 7, mesma marca que tinha sido observada em 16/10/2015.
As máximas em Minas Gerais, segundo a medição da rede de estações automáticas do Instituto Nacional de Meteorologia, atingiram até impressionantes 43,5°C em São Romão, no Noroeste mineiro. O recorde histórico de máxima no estado é de 44,1ºC, na estação de Pirapora, no dia 26 de abril de 2012.
A temperatura máxima na cidade de São Paulo na estação do Mirante de Santana foi de 36,5ºC na onda de calor, a maior temperatura do ano, mas não recorde. A maior máxima de setembro na série histórica da estação foi 37,1ºC em 30 de setembro de 2020. No interior de São Paulo, o Ciiagro registrou máximas de 42ºC a 45ºC em grande número de estações na onda de calor.
Usando métodos publicados e revisados por pares, cientistas do Brasil, Argentina, Holanda, Estados Unidos da América e Reino Unido colaboraram para avaliar até que ponto as mudanças climáticas induzidas pelo homem alteraram a probabilidade e a intensidade das temperaturas máximas durante as ondas de calor de agosto e setembro na América do Sul.
Segundo o estudo de atribuição rápida pela World Weather Attribution publicado nesta terça-feira, eventos de calor extremo no início da primavera revelam-se frequentemente particularmente impactantes, já que as populações locais ainda não estão aclimatadas às altas temperaturas.
Além disso, a elevada densidade populacional, a baixa cobertura vegetal, os elevados níveis de poluição atmosférica e a desigualdade são fatores de risco adicionais para a mortalidade e morbilidade nas cidades, tornando o calor extremo particularmente mortal em áreas urbanas, especialmente para a população mais pobre.
Utilizando modelos e produtos observacionais, a WWA concluiu que o episódio de calor extremo foi evento com recorrência estimada de uma vez a cada 3 anos nos padrões do clima atual.
Embora exista um elevado nível de confiança nos produtos utilizados na análise, estes não captam recordes muito locais, muitos dos quais foram quebrados durante o episódio de calor. Para incorporar estes dados em estudos futuros e informar os sistemas de alerta precoce, são necessários dados de estações meteorológicas de alta qualidade e prontamente disponíveis.
Para estimar a influência das alterações climáticas causadas pelo ser humano neste evento de calor extremo, os cientistas combinaram modelos climáticos e observações. Descobriram que, devido às alterações climáticas, o evento teria sido 1,4ºC a 4,3°C menos quente se os humanos não tivessem aquecido o planeta. queimando combustível fóssil.
Alertam que, com o futuro aquecimento global, eventos de calor como este serão mais comuns e mais quentes. Sob temperaturas médias globais 2°C acima dos níveis pré-industriais, um evento de calor como o de setembro seria cerca de 5 vezes mais provável e 1,1ºC a 1,6°C mais quente do que hoje.
Embora o El Niño possa ter influenciado os padrões climáticos em grande escala, a contribuição direta para o calor extremo é pequena, em comparação com o sinal das alterações climáticas, observam.
Os cientistas observam que não conseguiram identificar quaisquer planos de ação proteger a população do calor na área afetada, “o que deixa potencial para uma janela de oportunidade para mitigar os impactos do calor nas pessoas vulneráveis”. Planos de ação incluem alerta e ações preventivas precoces, mensagens que orientem de mudança de comportamento, e serviços públicos de apoio podem reduzir a morbilidade e a mortalidade.