Fazer calor de 35ºC em agosto é anormal no Rio Grande do Sul ? Claro que não ! Há um número elevado de dias de forte calor na climatologia desta época do ano. Fazer calor por tanto tempo seguido é normal no Rio Grande do Sul em agosto. Claro que não ! Dias de forte calor, apesar de normais nesta época, tendem a ser mais episódicos e intercalados com períodos frios. Em síntese, não é fato de fazer calor em agosto que foge à regra neste mês, mas sim o altíssimo número de dias quentes e a ausência quase completa de frio. O quadro é tão extremo até agora que não há lugar no Hemisfério Sul, exceto Antártida, em que a temperatura esteja tão acima da média como no Rio Grande do Sul e entorno (mapa abaixo). São absurdos 6ºC acima do normal, fato sem precedentes em cem anos de dados. Isso mesmo, nunca no último século tivemos um agosto tão quente como este de 2012. Se agosto de 2001, pela sua enorme anomalia, já era um absurdo, este supera em muito até o momento o de onze anos atrás.
O mesmo padrão atmosférico de bloqueio por pressão atmosférica mais alta que o normal no Atlântico Sul que traz este agosto de verão até agora aqui favorece que este mês seja gelado na África do Sul. No início de agosto, pela primeira vez na história, todas províncias da África do Sul tiveram neve. Já a Austrália enfrenta um agosto de extremos de calor e frio. Melbourne tem em agosto um alto número de dias frios após um julho com longa sequência de dias de temperatura alta. A cidade de Sydney acaba de ter 30ºC, o terceiro dia mais quente já anotado em agosto, ao lado de 1954 e 1995. O agosto australiano está sendo marcado por temporais de vento, sinal para nosso setembro que pode ter mudanças bruscas do tempo mais freqüentes.
Esta sexta-feira de temperatura ainda elevada com máximas de 33ºC a 35ºC é o último dia de calor generalizado desta incrível sequência de dias quentes no Estado. A frente fria que avança para o Rio Grande do Sul provocou enormes volumes de chuva nas últimas horas na província de Buenos Aires. Como já havia chovido muito na região antes neste mês, devido ao bloqueio atmosférico que favoreceu o calor persistente aqui no Sul do Brasil, as precipitações atingem recordes de até um século para agosto na província do Centro da Argentina. Em Azul, localidade que enfrenta inundações, o volume de chuva deste mês até a manhã de hoje atingia 297,6 mm, superando muito o recorde de agosto de 1913 de 194 mm. Em Tandil, a precipitação mensal alcança 326,2 mm e supera o recorde também de 1913 de 239,5 mm. Já em Olavarría, onde as medições se dão desde 1986, a chuva de 169,5 mm é maior em agosto da última década. Em Dolores a chuva deste mês de 210,1 mm é a maior nesta época do ano dos últimos 50 anos. Na cidade de Pehuajó, com 204 mm, o total de precipitação supera o recorde de 1992 de 101,8 mm. Na cidade de Buenos Aires (gráfico abaixo), este agosto já é o segundo mais chuvoso desde que são observados os dados em 1906 com 229,4 mm, perdendo apenas para os 277,8 mm de 1922.
Nas próximas horas, entretanto, se antecipa uma mudança do tempo que será radical e dramática em relação ao cenário que vem se experimentando. Sairemos de uma condição de verão climático para o rigor do inverno gaúcho em poucas horas. Frente fria atuará sobre o Rio Grande do Sul neste fim de semana com chuva forte localizada e rajadas de vento. A temperatura despencará e o frio será úmido, sobretudo no domingo que deve ter pequeníssima variação entre a mínima e a máxima na Capital. No Sul e no Sudoeste do Estado são esperados momentos de melhoria no decorrer do fim de semana.