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Região Metropolitana do Recife está inundada com alagamentos generalizados e deslizamentos de terra que deixam dezenas de mortos no Recife, Olinda e Jaboatão dos Guararapes | DIVULGAÇÃO

Destruição, desespero e mortes. O sábado é trágico na Grande Recife que enfrenta situação de desastre pela chuva. O número de mortes confirmadas em razão da chuva apenas neste sábado até o meio-dia alcançava 28, mas desde o começo da instabilidade na última segunda-feira são 35 vítimas fatais. Somente na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Ibura, na Zona Zul da cidade do Recife, foram confirmadas 18 mortes.

“Chuva no Grande Recife deixa dezenas de mortos e capital fica embaixo d’água em fenômeno assustador” era a manchete no começo da tarde deste sábado do portal da TV Jornal, afiliada do SBT no Recife. Em coletiva ‘relâmpago’ transmitida pela internet neste sábado, o governo do Estado atualizou a situação das chuvas em Pernambuco, prevendo continuidade. As autoridades também falaram sobre as ações que estão sendo adotadas para tentar minimizar os efeitos danosos das chuvas pelo Estado.

As alterações do nível do mar influenciam nos alagamentos em dias de chuvas, como neste sábado de intensas precipitações na Região Metropolitana do Recife (RMR). De acordo com a Marinha, neste sábado, o ponto máximo da maré do Porto do Recife foi registrado por volta da 2h24, com pico de 2,10 metros de altura. Às 14h47, ela irá começar a subir, chegando a 2,2 metros. Por outro lado, às 21h ela recua, atingindo a maré baixa de 0,4 metro.

Os acumulados de chuva são extraordinariamente altos. Muitas cidades da Paraíba e Alagoas somam mais de 300 mm nos últimos sete dias, mas em Pernambuco os volumes são ainda mais altos. Nos últimos sete dias, até o começo da tarde deste sábado, diferentes estações em Olinda, Recife e Jaboatão dos Guararapes reportavam mais de 500 mm, sendo que em alguns pontos as precipitações somaram 250 mm apenas na madrugada e no começo da manhã de hoje.

A chuva provoca alagamentos generalizados na Grande Recife e vários pontos de inundação. O Rio Jaboatão transbordou e a altura das águas passou de um metro em moradias próximas. As águas subiram tanto nos pontos mais críticos da área metropolitana da capital pernambucana que os moradores tiveram que se refugiar nos telhados ou nas lajes. Vídeos em redes sociais mostram o desabamento de casas perto de córregos e bairros inteiros debaixo d´água.

Embora a gravidade das inundações, a maioria das vítimas está em áreas de risco de encostas que sofreram deslizamentos de terra. Há múltiplos deslizamentos e queda de barreiras neste sábado na cidade de Recife e municípios vizinhos. A chuva extrema afeta ainda outros pontos do litoral pernambucano e a Zona da Mata com pontos de interdição em rodovias, inclusive na BR-101.

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Várias estações do metrô ficaram alagadas e a Linha Centro foi interrompida no Recife. Os volumes de água são tão altos que parte do complexo do aeroporto de Guararapes, em Recife, ficou alagado. Imagens aéreas feitas por um passageiro de voo da Azul que pousou na manhã deste sábado em Recife mostraram os bairros próximos ao aeródromo completamente inundados.

Pessoas estão sendo resgatadas com o auxílio de botes em diferentes pontos afetados por inundações na Região Metropolitana do Recife em razão da grande altura das águas nas ruas. Os shopping center da capital pernambucana, que tinham anunciado abertura ao meio-dia, o que gerou uma série de críticas, decidiram não abrir. Aulas na rede pública de recuperação pelos dias letivos cancelados pela chuva na semana também foram suspensas.

A Central de Operações da Defesa Civil recebeu dos municípios relatos de 516 pessoas desalojadas e 249 pessoas desabrigadas. Até ontem, as chuvas tinham causado as mortes de sete pessoas em Pernambuco. Em Olinda, três morreram em deslizamentos. Motociclista perdeu a vida ao tentar atravessar um local alagado em Olinda. Em Jaboatão dos Guararapes, um homem que tentou salvar um animal de estimação também acabou sendo arrastado pela correnteza. Em Recife, duas pessoas morreram em deslizamentos.

Chuva vai prosseguir

A chuva segue no restante deste sábado e ainda no domingo. Os estados que mais preocupam, sobretudo em suas regiões costeiras, são Pernambuco, Paraíba e Alagoas, mas pode chover forte a intensamente também em pontos mais perto da costa do Rio Grande do Norte e de Sergipe. Cidades como Recife, Olinda, Jaboatão dos Guararapes, Maceió, Natal e João Pessoa estão na zona de maior risco, mas o pior cenário é em Pernambuco.

A chuva seguirá por vezes forte a intensa com pancadas torrenciais. Os acumulados em alguns pontos em apenas uma hora podem exceder 30 mm a 50 mm, gerando inundações repentinas. Pernambuco, especialmente na região metropolitana de Recife, é a área que mais traz preocupação por ser a que os modelos numéricos indicam os maiores acumulados de chuva, além do que já caiu. Os totais de precipitação dos últimos dias somados com deste fim de semana podem atingir marcas tão extraordinariamente altas quanto 500 mm a 800 mm em diversos municípios.

Como já choveu muito durante a semana e o solo está saturado de umidade, um dos maiores riscos é de natureza geológica com deslizamentos de terra e queda de barreiras. A chuva muito volumosa da semana elevou os níveis de rios e córregos e, com um novo evento de precipitação excessiva, a possibilidade de inundações e enchentes se torna crítica.

A nova rodada de chuva muito intensa em parte do litoral nordestino é consequência de uma nova onda de Leste que avança do Atlântico para a costa, gerando intensas precipitações e mesmo a possibilidade de trovoadas em alguns pontos. Com a chuva prevista deste fim de semana, os acumulados em algumas cidades em apenas uma semana vão ficar entre o dobro e o triplo da média histórica de chuva de maio inteiro, em regra de 200 mm a 300 mm na maioria das cidades costeiras.

O que são as Ondas de Leste

Fenômeno que não afeta o Sul, o Sudeste e o Centro-Oeste do Brasil, onde a chuva costuma vir com frentes frias, frentes quentes e centros de baixa pressão, o litoral da Região Nordeste está acostumado com uma condição que tem origem a milhares de quilômetros, na África, e todos os anos traz chuva volumosa para a região nesta época do ano.

São as chamadas ondas de Leste que nada mais são que áreas de perturbação atmosférica que avançam pela região tropical do continente africano em direção às Américas, muitas vezes dando origem às tempestades tropicais e furacões no Atlântico Norte. À medida que uma destas perturbações começa a se organizar e se intensificar com a água quente do oceano, pode dar origem a um centro de baixa pressão que pode rapidamente evoluir para um ciclone tropical.

No caso do Nordeste do Brasil, as ondas de Leste não trazem furacões, mas muita chuva. Estas ondas se formam na área de influência dos ventos alísios, perto da linha do Equador, em especial nos meses do outono e inverno do Hemisfério Sul. Quando estas ondas que cruzam o Atlântico chegam ao litoral brasileiro, causam chuva nas zonas costeiras da Região Nordeste do Brasil, principalmente na Zona da Mata, e às vezes até no Recôncavo Baiano e no litoral do Ceará.

Há um fator agravante para o excesso de chuva no caso das ondas de Leste, a temperatura da superfície do oceano. Quanto mais quente o mar, maior a energia da instabilidade. No caso de agora, a temperatura da superfície do mar está acima da média em toda a região costeira do Nordeste e nas áreas do Atlântico por onde avançam as ondas tropicais.