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Olá amigos e amigas. Este fim de ano na cidade de São Paulo pode ser classificado como bizarro em se tratando de condições meteorológicas. O que ocorreu com o tempo nestes últimos dias de 2025 fugiu absurdamente à curva do clima histórico e impressiona toda e qualquer pessoa que se dedica a estudar o clima.

Fim de ano com calor sem precedentes na história da cidade de São Paulo com sucessivas quebras de recordes | BRUNO ESCOLASTICO SOUSA SILVA/NURPHOTO/AFP/METSUL

Com frequência se vê na internet, em publicações até por profissionais da previsão do tempo, a utilização indevida da palavra recorde para classificar a maior ou menor temperatura do ano até então. Um erro. Não passa do maior ou menor registro até então do ano. Sob está lógica, recordes acontecem a toda hora e isso vulgariza a palavra recorde e induz nas pessoas a percepção de ineditismo a todo instante.

A palavra recorde na Meteorologia em todo o mundo é reservada tão-somente para extremos em séries de longo prazo de dados, portanto são pouco frequentes e raros, não ocorrendo a toda hora.

Os recordes mais comuns são os mensais ou absolutos (toda a série histórica), como, por exemplo, a menor temperatura já observada em julho ou a mais alta temperatura em 80 anos de observações de uma estação para qualquer mês do ano. Alguns poucos países, como os Estados Unidos, usam ainda recordes diários. O maior volume de chuva ou a menor temperatura, por exemplo, em um 26 de setembro.

Recordes mensais ou absolutos numa estação, assim, são pouco frequentes porque não é fácil que seja superado o extremo máximo de uma variável qualquer (como chuva e temperatura) observado numa série de dados de dados de 80, 100, 120 ou até 150 anos de medições.

Então, o recorde de calor de dezembro antes deste abrasador fim de ano na cidade de São Paulo era de 35,6ºC, registrado em 3 de dezembro de 1998. Ou seja, o recorde seguiu intocado por nada menos que 27 anos.

Aí veio este fim de ano e ocorreu o absurdo. No dia de Natal, a máxima na estação do Instituto Nacional de Meteorologia no Mirante de Santana (zona Norte), usada como referência para a climatologia da capital paulista, registrou 35,9ºC. Caiu o recorde de 1998!

Ocorre que não parou por aí. O recorde durou apenas um dia. Na sexta (26), a máxima no Mirante de Santana chegou a 36,2ºC. No sábado (27), um breve e irrisório alívio com 35,5ºC. Só que ontem (28), a máxima foi a 37,2ºC e bateu o recorde que tinha ocorrido na sexta, que por sua vez tinha batido o recorde da quinta. Três quebras de recordes mensais em quatro dias para uma marca que não tinha sido superada nenhuma vez em 27 anos.

Mais do que isso. A temperatura máxima observada ontem na cidade de São Paulo de impressionantes 37,2ºC ficou a apenas 0,6ºC do recorde absoluto de máxima da cidade de São Paulo desde o começo das medições em 1943 que é de 37,8°C, do dia 17 de outubro de 2014.

Qual a probabilidade estatística de São Paulo bater um recorde mensal de temperatura por três vezes em quatro dias? Baixíssima para não dizer irrisória. Mas aconteceu. E, assim, foi muito fora do normal. Um gigantesco desvio e uma enorme anomalia na climatologia histórica.

Mesmo que seja verão, a temperatura não sobe tanto nesta época do ano. Isso porque esta é normalmente a temporada chuvosa no Sudeste, marcando o auge da temporada de chuva anual. Justamente por ser o auge da temporada chuvosa anual, com chuva frequente e quase que diária, não costumam ocorrer extremos de calor, que costumam se dar anualmente no fim do inverno e no início da primavera, reta final da temporada seca anual e que habitualmente concentra os dias mais quentes do ano no Centro do país.

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