O Rio Grande do Sul ainda vive e sofrerá por muito tempo com as consequência da chuva extraordinária e sem precedentes no estado do final de abril e do mês de maio que foi responsável por enchentes catastróficas em Porto Alegre e no interior.
É absolutamente natural e compreensível que a simples menção da palavra chuva após um desastre de grandes proporções gere medo, ansiedade e angústia na população, ainda mais depois de um enorme número de pessoas ter perdido tudo que tinha e até suas casas por completo e ainda com muitos destroços nas ruas e a rede pluvial não funcionando com a capacidade normal de drenagem.
Aliás, a ciência médica, dentre as várias fobias, estuda o medo da chuva. A ombrofobia é um medo extremo de chuva. A condição é uma fobia específica (medo), que é um tipo de transtorno de ansiedade. Uma pessoa que tem medo de chuva (um ombrófobo) pode ter medo de chuvas fortes e destrutivas ou apenas de uma leve garoa.
Pessoas com ombrofobia podem acreditar que a chuva pode ser prejudicial de alguma forma. Por exemplo, eles podem se preocupar com chuva ácida ou germes nas chuvas. Podem ter receios generalizados de que a chuva possa causar escuridão, inundações, deslizamentos de terra, falhas de energia ou outros perigos.
Os profissionais de saúde não têm certeza de quão comum é a ombrofobia, mas um estudo nos Estados Unidos descobriu que cerca de 10% dos norte-americanos têm medo do mau tempo.
Por isso, para nós meteorologistas, o momento é tremendamente desafiador. Vivemos em um período em que não apenas basta transmitir a previsão do tempo. A comunicação precisa ser ajustada a um estado de trauma da população, sem jamais deixar de informar os riscos.
Neste últimos dias, com a perspectiva de retorno da chuva a partir do fim de semana, temos testemunhado nas redes sociais um estado de ansiedade em torno da previsão como jamais tínhamos observado, talvez apenas nos ciclones extratropicais (fenômeno comum) que se seguiram ao furacão Catarina (fenômeno único em nossa climatologia regional), em 2004.
Assim, entendemos ser fundamental esclarecer que chover é normal. Anormal seria não chover. Nem toda a chuva causa alagamentos e muito menos nem toda a chuva gera enchentes. Episódios extremos são causadores de inundação, mas, embora tenham se tornado mais frequentes em tempos recentes, ainda não são a regra.
O inverno no Rio Grande do Sul é um período chuvoso. Os meses da estação possuem algumas das maiores médias históricas de precipitação. Porto Alegre, por exemplo, tem médias mensais de precipitação de 130,4 mm em junho; 163,5 mm em julho (maior média mensal do ano); e 120,1 mm em agosto.
Ou seja, a média de chuva do inverno meteorológico inteiro (junho a agosto) é de 414 mm na capital gaúcha, valor abaixo dos 540 mm apenas de maio de 2024. Portanto, pelos valores médios históricos, a estação é chuvosa por natureza.
Uma das reações que temos observado é “poxa, chuva de novo”. Insistimos, chuva nesta época é normal. E não apenas isso. Ocorre com grande frequência. Inverno e primavera são as estações do ano em que a chuva ocorre com maior frequência no Rio Grande do Sul.
A climatologia histórica de Porto Alegre mostra que, em média, junho tem nove dias com precipitação acima de 1 mm. Ou seja, um de cada três dias de junho registra chuva ou garoa. Em julho e agosto, são também nove dias na média histórica. Em setembro e em outubro, dez dias.
Além disso, na climatologia histórica, em média um dia em junho tem precipitação que passa de 50 mm, um volume diário alto. Ato contínuo, dias com chuva volumosa, como pode ocorrer neste fim de semana, vez ou outra acontecem no inverno e fazem parte da normalidade climática. O que se viu no fim de abril e no começo de maio, ao contrário, foi absurdamente fora do normal.
Em síntese, não é porque há previsão de chuva que a pessoa deve ser tomada por um estado de medo, embora, repito, seja absolutamente compreensível depois do que passamos (inclusive eu que perdi minha casa na enchente).
O nível de atenção deve subir, sim, quando é emitido um aviso de chuva forte ou extrema que, como sempre orientamos, devem partir apenas de centros de previsão públicos ou privados com técnicos especialistas, não de influenciadores de redes sociais em busca de engajamento.
Nesse sentido, estamos alertando reiteradamente na MetSul Meteorologia que pode chover forte em parte do Rio Grande do Sul neste fim de semana e com altos volumes em diferentes cidades, mas enfatizamos à exaustão diante da percepção por muitos que uma nova catástrofe é iminente neste fim de semana que o cenário é distinto do que se experimentou no fim de abril e no começo de maio.
Claro, podem e devem ocorrer problemas e transtornos, ainda mais com a rede de esgotos com muito lixo e areia depois das inundações, e ainda com destroços espalhados pelas ruas em várias cidades, mas tenham em mente que o cenário de sábado e do domingo não é o mesmo da virada de abril para maio.
Já a perspectiva para a segunda quinzena de junho, que terá muitos dias de chuva e alguns com acumulados altos na Metade Norte, onde correm muitos rios importantes, traz preocupação e está sendo atentamente monitorada por toda a nossa equipe e manteremos vocês informados, sempre com responsabilidade.
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