Uma forte massa de ar frio de origem polar traz uma onda de frio a partir desta quarta-feira e que vai se estender até o começo de junho com temperatura muito abaixo da média, marcas negativas, formação de geada e probabilidade de precipitação invernal na forma de neve e chuva congelada no Sul do Brasil.

Instrusão de ar frio vai do Rio Grande do Sul ao Sul do Amazonas | METSUL
Trata-se da massa de ar frio de maior intensidade a alcançar o Brasil neste ano até agora em um outono marcado por temperaturas acima da média na maior parte do Centro-Sul do território brasileiro e no Cone Sul da América do Sul.
Esta massa de ar frio tem trajetória continental, ou seja, vai avançar pelo interior do continente e vai alcançar latitudes baixas da América do Sul, com o resfriamento chegando à região amazônica do Brasil e ao Peru.
A influência do ar frio será abrangente com queda acentuada da temperatura e muito frio no Sul e resfriamento pronunciado também em parte do Centro-Oeste, como no Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul.
No Sudeste, a influência da massa de ar frio de origem polar será maior em São Paulo. Como o ar frio avança pelo interior da América do Sul, conseguirá chegar à região mais ao Sul da Amazônia com friagem em estados do Norte, como no Acre, Rondônia e o Sul do Amazonas.
O ar frio vai estar associado a um centro de alta pressão que vai se instalar sobre o Norte da Argentina e o Sul do Brasil, garantindo uma sequência de madrugadas muito frias e com formação de geada a partir do final desta semana.
O ar gelado será impulsionado a partir da região polar por dois ciclones extratropicais. Inicialmente, um ciclone a Leste das Ilhas Malvinas desloca o ar polar para Norte. Um segundo ciclone que se forma junto ao Rio Grande do Sul contribui para deslocar o ar frio ainda mais para Norte, alcançando até o Norte do Brasil.
Quinta-feira será um dia invernal: chuva, ventania e frio
A massa de ar frio começa a ingressar pelo Oeste do Rio Grande do Sul no final desta terça-feira, derrubando a temperatura com resfriamento acentuado nas áreas de Quaraí, Uruguaiana e Livramento.
Nesta quarta-feira, a massa de ar frio toma conta de todo o Sul do Brasil no decorrer do dia e alcança ainda o Centro-Oeste do Brasil. Grande parte do Rio Grande do Sul deve ter máximas à tarde apenas entre 10ºC e 13ºC, e em algumas cidades mais ao Sul sequer os 10ºC podem ser alcançados. Mais a Leste-Nordeste do estado, à medida que o ar frio avança de Oeste, a temperatura se eleva mais.

Mapa de anomalia de temperatura em 850 hPa (1500 metros) do modelo europeu mostra ar frio tomando conta do Sul do Brasil no final da quarta | METSUL
Será, contudo, a quinta-feira um dia particularmente muito frio. Uma baixa fria em altitude vai entrar em fase com uma baixa pressão em superfície, formando um ciclone extratropical na costa gaúcha. O sistema vai trazer chuva, intensa em alguns pontos, e vento muito forte com rajadas perto e acima de 100 km/h em algumas localidades.

Mapa de anomalia de temperatura em 850 hPa (1500 metros) do modelo europeu mostra ar gelado no Sul do Brasil na tarde de quinta | METSUL
Chuva, muito vento e temperatura baixa vão trazer dia rigoroso de inverno com muito baixa sensação térmica, especialmente entre a madrugada e de manhã. O dia todo será invernal e em muitos municípios, especialmente das áreas de maior altitude, as máximas ficam abaixo dos 10ºC. Alguns locais devem permanecer o dia inteiro abaixo de 5ºC.
Madrugadas de mais frio a partir de sexta
O ar frio perde intensidade a partir da sexta, por outro lado será a partir da sexta-feira que se espera ocorram as madrugadas mais frias. Isso porque o resfriamento noturno é maior quando a atmosfera está mais seca, há menor nebulosidade e menos vento, o que se projeta com o afastamento do ciclone no final da semana.
É o que fará com que as madrugadas da sexta, do fim de semana e o começo da semana que vem sejam muito frias com marcas abaixo de 5ºC em centenas de cidades do Sul do Brasil e em várias do Mato Grosso do Sul e do interior de São Paulo.
Nos Campos de Cima da Serra do Rio Grande do Sul, na região de Ausentes, as marcas podem cair a -3ºC ou -4ºC. A temperatura deve cair abaixo de zero ainda no Rio Grande do Sul em baixadas da Serra, Planalto Médio e do Noroeste assim como na Serra do Sudeste e em setores da fronteira com o Uruguai. No Planalto Sul Catarinense, as mínimas devem descer em alguns pontos a até -5ºC. Marcas negativas são esperadas ainda no Planalto de Palmas, no Paraná.
Neve, chuva congelada e precipitação mista
Há cerca de dez dias, modelos numéricos indicam a possibilidade de neve neste evento de frio, mas, por experiência, sabe-se que apenas muito perto do episódio de frio tais projeções se tornam mais confiáveis e muitas vezes mesmo horas antes ainda há grande incerteza.
É o caso deste evento de frio de fim de maio. Há uma grande discrepância entre os modelos numéricos sobre onde e quanto pode nevar, o que se explica pelas diferenças de posicionamento e intensidade do ciclone que vai se formar a Leste do Rio Grande do Sul.
Por questão de parametrização do modelo e por ser o modelo que projeta a maior intensidade e proximidade do ciclone da costa, o modelo do Centro Meteorológico Europeu é o que indica a maior probabilidade de neve com o fenômeno ocorrendo em maior número de pontos, no Centro-Sul e no Nordeste gaúcho. Outros modelos, porém, indicam neve mais limitada aos tradicionais pontos de maior altitude entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, quase nem projetam neve.

Projeção de neve acumulada do modelo canadense | METSUL
De acordo com a nossa análise, considerando o histórico (skill) dos modelos e o cenário sinótico, é alta a probabilidade de precipitação invernal (neve e/ou chuva congelada) em cotas acima de 1000 metros de altitude entre os Campos de Cima da Serra do Rio Grande do Sul e o Planalto Sul Catarinense na quinta-feira, especialmente na primeira metade do dia.
Nestas áreas, considerando a grande instabilidade associada ao ciclone, não afastamos até a possibilidade do que se denomina de snow squalls, ou pancadas fortes de neve com vento forte que podem gerar acumulação rapidamente. Mesmo a possibilidade de ter neve com algumas trovoadas, o que é raríssimo no Sul do Brasil, é algo que não pode ser descartado pela acentuada instabilidade.
Em cotas entre 700 mm e 1000 mm, o que inclui a Serra Gaúcha e o Planalto Médio, a probabilidade de neve durante a quinta-feira é menor que nos Aparados. Ocorre que o prognóstico para a Serra (que inclui as áreas de Gramado e Caxias do Sul) é por demais difícil.
Por quê? Há dois fatores que não contribuem para a neve. Um, a atmosfera estará muito saturada de umidade com precipitação por vezes moderada a forte. Dois, a temperatura nas parte baixas da atmosfera não estará tão baixa com a isoterma de 0ºC a 1300 metros ou 1400 metros de altitude.
Por outro lado, coexistem alguns fatores favoráveis, já que haverá ciclone com nuvens de desenvolvimento vertical que não raro trazem neve com a atmosfera não tão fria em superfície e ainda na forma de pancadas. Assim como o perfil vertical da atmosfera indica ar muito gelado em níveis médios. Logo, o cenário é limite entre ter chuva congelada apenas ou chuva misturada à neve e nevar até com pancadas.
Em cotas abaixo de 500 metros, o que inclui as elevações do Centro para o Sul gaúcho, a chance de nevar é menor que em cotas mais altas, embora não descartável. Maior é a chance de chuva congelada (sleet) que pode aparecer em diferentes pontos entre o fim da quarta e a quinta-feira, sobretudo de manhã.
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