Daniel Silveira/Porteira Adentro

O fenômeno La Niña atua no Oceano Pacífico Equatorial desde o mês de agosto, confirmando a previsão da MetSul Meteorologia feita nos últimos meses de que o fenômeno associado ao resfriamento das águas superficiais se instalaria no oceano ainda no inverno e mais para o seu final. O episódio atual de La Niña no momento apresenta intensidade fraca, mas a tendência e de intensificação e deve chegar ao status de moderada e não se descartando até a possibilidade de em algum momento ser de forte intensidade.

Basta que se fale ou se escreva sobre La Niña para que imediatamente haja a associação com estiagem ou seca. Sim, é verdade que o fenômeno agrava o risco de estiagem no Sul do Brasil, mas cada episódio tem sua história e houve anos de La Niña sem que se tenha registrado estiagem. La Niña, assim, não é uma garantia de estiagem e, na realidade, um fator que aumenta a probabilidade de a chuva ficar abaixo da média.

Esta redução da chuva, quando ocorre sob a presença de La Niña, tende a se dar a partir da análise de dados históricos em direção ao final do ano, na segunda metade da primavera, especialmente entre novembro e dezembro. No verão, a irregularidade segue da chuva com probabilidade de ao menos um mês muito seco, em regra fevereiro ou março, ou os dois. Curiosamente, quando há La Niña, parte do Rio Grande do Sul muitas vezes tem um mês com mais chuva durante o verão e na maioria dos casos isso ocorreu em janeiro, especialmente em razão de precipitação na segunda metade do mês.

Agora, no final de setembro e em outubro, não costuma ser uma época em que os efeitos do fenômeno La Niña costumam ser mais sentidos. Por isso, mesmo com La Niña, é muito normal e nada surpreendente que algumas regiões possam ter chuva acima dos valores médios históricos. Há inúmeros precedentes de chuva volumosas e até com cheias de rios e enchentes durante o fim do inverno e a primeira metade da primavera com La Niña presente no Pacífico.

Da mesma forma, eventos de chuva muito volumosa e até extrema podem ocorrer com La Niña atuando. São episódios curtos de poucos dias, mas que trazem acumulados de precipitação muito altos, às vezes de um a três meses em poucos dias. Isso é mais comum de ocorrer em setembro e outubro, mas, às vezes, se dão até no final da primavera e mesmo durante o verão. Na primavera, quando ocorrem, costumam afetar mais pontos (regiões) e no verão são mais localizados, uma região ou poucas cidades.

Assim, é verdade que o fenômeno La Niña quando presente aumenta o risco de estiagem no Sul do Brasil, mas é falso que impeça a ocorrência de episódios de chuva volumosa que seguramente devemos ter no decorrer da primavera que está começando.