Um evento extremo de chuva atingiu o Leste e o Nordeste de Santa Catarina entre a noite de ontem (16) e a madrugada de hoje (17) com inundações e deslizamentos de terra que deixaram um saldo de mortos e desaparecidos ainda desconhecido, mas com ao menos sete mortes confirmadas. Há milhares de desabrigados pela chuva. Os acumulados de precipitação foram altíssimos com marcas de 125 mm em curto período e até 245 mm desde o começo da semana na localidade de Presidente Getúlio, a mais atingida.

O senso comum dita que estando o clima global sob influência do fenômeno La Niña, não haveria eventos de chuva extremo no Sul do Brasil, onde o fenômeno agrava o risco de estiagem durante o verão. Esta, entretanto, é uma percepção equivocada. Episódios com chuva excessiva podem ocorrer e ocorrem no Sul do país mesmo em anos de La Niña.


O fenômeno La Niña atua desde o mês de agosto e no momento apresenta, de acordo com dados da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos Estados Unidos (NOAA), intensidade moderada no Pacífico Equatorial. A última anomalia medida de temperatura da superfície do mar no Pacífico Equatorial Central, a denominada região Niño 3,4, foi de 1,2ºC, logo no território de intensidade moderada.

Ocorre que mesmo sob a atuação da La Niña podem se dar eventos extremos de chuva no Sul do país. O fenômeno aumenta a probabilidade de ocorrência de estiagem por conta de chuva abaixo da média e mais irregular, mas não deixa de existir umidade presente na atmosfera. A combinação de ar quente e ar úmido típica do verão forma nuvens que têm maior desenvolvimento vertical que produzem precipitações muito intensas em intervalo curto, capazes de gerar inundações e deslizamentos.


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O Leste e o Nordeste de Santa Catarina, e o Leste do Paraná, possuem uma dinâmica que é diferente na atmosfera do verão de outras áreas do Sul do país. O que vale para Foz do Iguaçu, o Chuí ou Uruguaiana não vale para Florianópolis, Joinville ou Paranaguá. Estas áreas mais a Leste e Nordeste de Santa Catarina, além do Leste do Paraná, muitas vezes durante o verão registram a influência do canal de umidade que atua de forma transversal sobre o Sudeste e o Centro-Oeste brasileiro.

A ZCAS (Zona de Convergência do Atlântico do Sul) tem o poder de influenciar o tempo nestas áreas mais a Nordeste do Sul do Brasil. Por isso, mesmo que outras regiões do Sul do país estejam carentes de água, regiões como o Nordeste catarinense e o Leste do Paraná podem ter chuva acima da média. Em alguns casos, até o Litoral Norte gaúcho igualmente sofre o mesmo efeito com chuva volumosa.

Desta forma, o evento de chuva volumosa que ocorreu no Nordeste de Santa Catarina não foge ao padrão de instabilidade que pode ser esperado no verão na região. Trata-se de uma área em que os efeitos do fenômeno La Niña são menos pronunciados na estação quente do ano.