Morreu hoje no estado norte-americano da Geórgia aos 100 anos o ex-presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter. Prêmio Nobel da Paz, Carter foi uma liderança mundial pela paz e os direitos humanos durante e após o seu mandato.
Carter era considerado um homem à frente do seu tempo e muito antes do tema virar pauta mundial, o ex-presidente dos Estados Unidos fez um alerta ao mundo sobre uma crise climática que afetaria o planeta e está sendo sentida nos dias atuais.
De acordo com reportagem do jornal inglês The Guardian, memorando histórico de apenas uma página foi distribuído nos mais altos níveis do governo dos Estados Unidos alertando para uma grave crise no clima.
Em julho de 1977, Jimmy Carter estava no cargo há apenas sete meses, mas já havia construído uma reputação de ser focado em questões ambientais, instalando painéis solares na Casa Branca e anunciando um plano nacional de energia renovável.
“Devemos começar agora a desenvolver as novas fontes não convencionais de energia das quais dependeremos no próximo século”, disse ele em um discurso à nação delineando seus principais objetivos.
O memorando climático chegou à sua mesa alguns dias após as comemorações do Dia da Independência em 4 de julho. Ele tem o título ameaçador “Liberação de CO2 fóssil e a possibilidade de uma mudança climática catastrófica”.
O autor do memorando foi Frank Press, principal conselheiro científico de Carter e diretor do Escritório de Política Científica e Tecnológica. Press era um geofísico que cresceu pobre em uma família judia no Brooklyn e foi descrito como “brilhante” por seus colegas. Antes de trabalhar com a administração Carter, ele foi diretor do Laboratório Sismológico no Instituto de Tecnologia da Califórnia e foi consultor de agências federais, incluindo a Marinha e a NASA.
“Carter tinha um grande respeito por Frank [Press] e pela ciência”, disse Stu Eizenstat, que serviu como principal conselheiro de política interna de Carter de 1977 a 1981.
Press começa o memorando expondo a ciência da crise climática como era entendida na época. “A combustão de combustíveis fósseis aumentou a uma taxa exponencial nos últimos 100 anos. Como resultado, a concentração atmosférica de CO2 está agora 12% acima do nível pré-revolução industrial e pode crescer para 1,5 a 2,0 vezes esse nível em 60 anos”, escreveu.
Por causa do “efeito estufa” do CO2 atmosférico, o aumento da concentração induzirá um aquecimento climático global de 0,5 a 5°C, previa em 1977. Em 2024, a temperatura do planeta ficará mais de 1,5ºC acima do período pré-industrial.
As previsões estavam alinhadas com a ciência climática que se originou na década anterior, quando o governo dos Estados Unidos financiou grandes agências científicas focadas em ciência espacial, atmosférica e oceânica.
Uma pesquisa produzida para o presidente Lyndon B Johnson em 1965 descobriu que bilhões de toneladas de “dióxido de carbono estavam sendo adicionadas à atmosfera da Terra pela queima de carvão, petróleo e gás natural”.
O memorando de Press estava certo. Em 2021, pela primeira vez, a concentração atmosférica de CO2 atingiu 420 PPM, o ponto médio para a duplicação dos níveis pré-industriais de CO2 que Press postulou.
“O efeito potencial no meio ambiente de uma flutuação climática de tal rapidez pode ser catastrófico e exige uma avaliação de impacto de importância e dificuldade sem precedentes. Uma rápida mudança climática pode resultar em perdas de safras em larga escala em um momento em que o aumento da população mundial impõe à agricultura os limites da produtividade”, descreve o memorando de 1977.
De fato, o memorando estava certo com efeitos catastróficos de uma flutuação climática, na forma de eventos cada vez mais severos, incluindo secas, ondas de calor e furacões de maior intensidade. Enquanto isso, em muitas partes do mundo, o aquecimento já impediu aumentos na produtividade agrícola, e crises de produção de alimentos em larga escala são consideradas possíveis.
“A urgência do problema deriva da nossa incapacidade de mudar rapidamente para fontes de combustível não fóssil uma vez que os efeitos climáticos se tornem evidentes não muito depois do ano 2000; a situação pode ficar fora de controle antes que fontes alternativas de energia e outras ações corretivas se tornem efetivas”, alertou o memorando de 1977.
Novamente a previsão se materializou. Na década de 2000, os efeitos da crise climática se tornaram aparentes em algumas regiões na forma de ondas de calor mais mortais e inundações e secas mais fortes.
“A dissipação natural de CO2 não ocorreria por um milênio após a combustão de combustível fóssil ser significativamente reduzida”, alerta o memorando do assessor científico de Carter de 1977.
Outra vez o parecer foi correto ao dizer que o CO2 pode levar “centenas de milhares de anos para ser totalmente removido da atmosfera por processos naturais após sua emissão”, de acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
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