Essas são as capas do jornal Miami Herald, em agosto de 1992, antes, durante e após a passagem do furacão Andrew. A tempestade, um dos únicos três furacões a tocar terra nos Estados Unidos como categoria 5 até hoje, arrasou o Sul da Flórida e deixou mais de sessenta mortos. A cidade de Homestead, ao Sul de Miami, desapareceu. Foi um dos desastres naturais com maior prejuízo em bilhões de dólares até hoje nos Estados Unidos. Um evento traumático que mudou a cultura local e obrigou códigos de construção mais rígidos para novas construções numa região de alto risco para furacões.

Agora, 25 anos depois, o Sul da Flórida se depara com a maior ameaça desde Andrew. Irma irá chegar ao estado americano neste fim de semana com força arrasadora e pode levar ao maior desastre natural em prejuízo econômico da história dos Estados Unidos. O furacão tocou terra na noite desta sexta-feira no litoral Norte de Cuba como um categoria 5, o primeiro no máximo da escala em Cuba desde 1924, e agora ruma para os Estados Unidos.

As mais recentes projeções indicam uma trajetória mais a Oeste que nas saídas prévias dos modelo, logo não mais com o centro da tempestade passando sobre Miami, mas a cidade vai ser afetada. A previsão oficial é de vento de 100 a 120 km/h sustentado em Miami. Basta, porém, que haja um “wobble” (jargão para oscilada na trajetória de um furacão) e o Irma avance mais 30 a 50 km a Leste do que o previsto para o cenário mudar para muito pior em Miami e região. A nova trajetória mais a Oeste é cenário de pesadelo para localidades mais a Oeste, na costa do Golfo do México e no Centro da Flórida, como Tampa, Naples e Fort Myers. O vento nestas cidades deve ficar entre 200 km/h e 300 km/h e se espera brutal elevação da maré que causaria inundações muito adentro em terra.

Projeção de refletividade do modelo de furacões HWRF/MetSul para o Sul do estado da Flórida indicando a chegada de Irma pela Florida Keys e o Sudoeste

A tempestade deve ingressar nos Estados Unidos pela região das Florida Keys, um conjunto de ilhas no Extremo Sul da Flórida. Essa região tem risco de total devastação e, nas palavras do diretor do Centro Nacional de Furacões, quem resistiu em sair pode não sobreviver. Na sequência, avançaria pelo Oeste da Flórida, atingindo em cheio as turísticas e belas praias de Naples e Fort Myers. Poderia chegar ao Norte da Flórida ainda como furacão categoria 1 ou 2.

Projeção de pressão e vento do modelo de furacões HWRF/MetSul para o Sul do estado da Flórida apontando Irma chegando com enorme intensidade

Irma, que deixou um rastro de devastação pelo Caribe, pode chegar à Flórida (estado com população de 21 milhões) ainda com categoria 5, o máximo da escala, como Andrew em 1992, e há o agravante que Irma é 50% maior em dimensão que o furacão de 25 anos atrás. Por conseguinte, o campo de vento com força de tempestade tropical e furacão é muito maior e vai atingir a Flórida como um todo. Antes de chegar ao estado americano, Irma avançará sobre águas muito mais quentes que o normal no estreito entre Cuba e os Estados Unidos, e mar quente é fonte de energia para a tempestade. A Flórida será diferente semana que vem após Irma.