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O inverno pelo critério astronômico teve início em 20 de junho e terminará em 22 de setembro. Como pelo critério astronômico a data de começo e fim da estação muda a cada ano, a climatologia adota datas fixas para fins de estatística sazonal, o que se chama de inverno climático ou meteorológico, que se inicia em 1º de junho e chega ao fim em 31 de agosto.

Inverno atingiu o seu máximo até agora no fim de junho e começo de julho | FABIAN RIBEIRO

Com isso, trabalhando com o conceito de inverno meteorológico, a estação já está perto de alcançar a sua metade, em menos de dez dias, em 15 de julho. Já se tem, portanto, uma compreensão de como se comportou o inverno até agora com dados registrados ao longo de junho e nesta primeira semana de julho.

Os dados mostram que a primeira metade do inverno foi rigorosa mais ao Sul do Brasil, no Uruguai e no Centro da Argentina com alta frequência de massas de ar frio, algumas muito intensas, e eventos de neve como não se tinha há anos ou décadas.

Na Argentina, a onda polar do fim de junho trouxe neve em 16 das 23 províncias do país. Não nevava com tamanha intensidade em parte da província de Buenos Aires, na costa, desde 1991. Cidades como Córdoba e Mendoza tiveram a maior nevada em mais de uma década. Nevou na Grande Buenos Aires pela primeira vez desde junho de 2012.

A cidade de Buenos Aires teve no dia 30 de junho máxima de 5,6°C no Observatório Central, a menor para junho desde 1918 e a sexta tarde mais fria desde o início dos registros no Observatório Central da capital em 1906. A mínima na capital argentina no dia 2 de julho de -1,9°C foi a menor desde agosto de 1991, quando os termômetros marcaram -2,3°C.

Em Montevidéu, no Uruguai, a máxima na estação do Prado de 5,8ºC no dia 30 de junho foi a menor desde junho de 1967. O Sul do Uruguai registrou dois episódios de neve em menos de dez dias, o que é altamente incomum.

No Rio Grande do Sul, o período de frio mais frequente e intenso teve início ainda no fim de maio com um ciclone acompanhado de ar polar que provocou no dia 29 a maior queda de neve entre as áreas mais altas do Rio Grande do Sul e Santa Catarina desde a nevada do fim de julho de 2021. Desde então, o frio predominou.

Em extremos de temperatura, o Rio Grande do Sul registrou mínima no dia 2 de julho de 9,1ºC abaixo de zero em Pinheiro Machado. Na mesma madrugada, a temperatura caiu a 10ºC negativos em Bom Jardim da Serra, em Santa Catarina.

No Paraná, o extremo maior de temperatura foi em 25 de junho com -7,8ºC em General Carneiro. Também na madrugada de 25 de junho, o estado de São Paulo teve as mínimas do ano com vários municípios abaixo de zero, inclusive a capital paulista que anotou -0,7ºC em Parelheiros.

Dados compilados em levantamento pela MetSul Meteorologia mostram que entre os dias 1º de junho, dia que marca o começo do inverno meteorológico, e 5 de julho, ou seja, nos primeiros 35 dias do inverno climatológico, foram 22 dias com temperatura mínimas negativas no Rio Grande do Sul ou 63% dos dias.

Junho foi um mês muito frio

A estação de referência histórica da cidade de Buenos Aires (Observatório Central de Villa Ortúzar) registrou temperatura média de 10,3ºC em junho, ou 1,3ºC abaixo da normal histórica. A média mínima foi 6,5ºC, 1,9ºC abaixo da média histórica, e a máxima ficou em 15,8ºC, ou 0,6ºC abaixo da média máxima histórica mensal.

No Rio Grande do Sul, considerando dados de média compensada (que inclui as mínimas e máxima do dia em uma fórmula), a temperatura média em Porto Alegre no mês de junho foi de 13,3ºC na estação do Instituto Nacional de Meteorologia, ou 1,5ºC abaixo da temperatura média mensal da série 1991-2020.

Com isso, neste século, desde 2001, apenas 2008 (13,0ºC), 2016 (11,5ºC) e 2022 (13,2ºC) tiveram junho mais frio que 2025. A média do último mês na capital de 13,3ºC igualou os registros de junho de 2009 e 2018.

Em Santa Maria, no Centro do estado, a temperatura média de junho foi de 11,6ºC, logo 2,6ºC abaixo da temperatura média mensal compensada da série 1991-2020. Foi o junho mais frio na cidade universitária desde 2016, quando a média mensal foi de 10,6ºC. No século (2021-2025), só 2016 teve junho mais frio em Santa Maria.

Em Bagé, na Campanha, a temperatura média de junho terminou em 10,0ºC, portanto 2,6ºC abaixo da climatologia histórica. Foi o junho mais frio desde 1996, ano de inverno muito rigoroso, quando a média mensal de junho foi de 9,5ºC.

Como fica o restante do inverno?

Se a primeira metade do inverno foi muito gelada, o entendimento da MetSul é de que a segunda metade não será tão fria. Nem julho e tampouco agosto devem ter médias de temperatura tão baixas quanto junho, que é altamente provável que será o mês mais frio do trimestre climatológico de inverno deste ano.

Os dados analisado pela MetSul indicam que nas próximas semanas os dias de frio muito intenso devem ser menos numerosos que junho com mínimas e máximas mais altas. Os mapas abaixo mostram as projeções de anomalia de temperatura do modelo de clima do Centro Meteorológico Europeu para os próximos 40 dias.

Projeção de anomalia de temperatura do modelo europeu entre 7 e 14 de julho | ECMWF

Projeção de anomalia de temperatura do modelo europeu entre 14 e 21 de julho | ECMWF

Projeção de anomalia de temperatura do modelo europeu entre 21 e 28 de julho | ECMWF

Projeção de anomalia de temperatura do modelo europeu entre 28 de julho e 4 de agosto | ECMWF

Projeção de anomalia de temperatura do modelo europeu entre 4 de agosto e 11 de agosto | ECMWF

Projeção de anomalia de temperatura do modelo europeu entre 11 e 18 de agosto | ECMWF

Chama atenção como o modelo indica para o Sul do Brasil até o final de julho marcas perto e acima da média histórica com um período de temperatura acima a muito acima da média, com tardes até quentes para a época do ano, na terceira semana de julho.

Da mesma forma, chama atenção que o modelo europeu sinaliza o retorno de ar mais frio ao Sul do Brasil durante a primeira metade do mês de agosto, mas de momento sem indicar extremos comparáveis ao mês de junho.

O modelo de clima norte-americano CFS em sua projeção de 40 dias projete cenário um tanto parecido com o do modelo europeu com um período de temperatura acima a muito acima da média mais tarde neste mês e uma massa de ar frio chegando entre as primeira e segunda semana de agosto.

Projeção de anomalia de temperatura do modelo de clima norte-americano CFS entre ps dias 16 e 21 de julho | METSUL

Projeção de anomalia de temperatura do modelo de clima norte-americano CFS entre os dias 5 e 10 de agosto | METSUL

Assim, o cenário que se esboça a partir dos dados não indica um padrão de frio tão forte e persistente como o indicado durante a primeira metade do inverno, notadamente entre os dias do fim de maio e o começo deste mês de julho.

Em síntese, o inverno não acabou, há várias semanas ainda pela frente, haverá muitos dias ainda de frio e alguns até de frio muito intenso, mas, por outro lado, a incidência de temperatura bastante baixa será menor do que em junho e neste começo de julho.

Além disso, haverá maior frequência de dias agradáveis e alguns até quentes. Mas vai demorar ainda para guardar as roupas de inverno. Até porque, com o padrão global que se observa, podem ocorrer episódios tardios de frio intenso na primavera.

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