Cuba tenta se recuperar da passagem do devastador furacão Ian pela ilha caribenha na terça-feira. Parte do país ainda se encontra sem luz após o apagão nacional que deixou 11 milhões de cubanos em todo o território nacional sem energia elétrica na noite de terça. Grandes ondas seguem atingindo o Malecón, a orla da capital Havana, que ainda tem áreas às escuras e outras alagadas.
O Oeste de Cuba foi a área mais atingida. “Uma catástrofe”, afirma Maritza Carpio, em frente às ruínas da casa de tabaco de sua propriedade em Vuelta Abajo, a terra do melhor tabaco em Cuba e pilar de uma indústria vital para o país, agora transformada em um amontoado de troncos, vigas e telhas, após a passagem do devastador furacão Ian.
Em Vuelta Abajo, região que forma um triângulo entre os municípios de San Luis, San Juan y Martínez e Pinar del Río (capital da província homônima), pode-se contar nos dedos de uma mão as tabacarias que resistiram aos ventos de mais 200 km/h do Ian.
“Nunca tivemos uma catástrofe dessa magnitude”, desabafou Maritza, que tem sua fazenda em San Luis, 175 quilômetros a oeste de Havana, em conversa com a AFP. A tabaqueira acrescenta que o furacão deixou “uma situação extremamente difícil para todos os camponeses”, porque, “neste momento (…), de crise econômica não sabemos como se pode enfrentar isso”.
Além de derrubar as casas de tabaco, construções rústicas de madeira essenciais para a secagem das folhas da planta se beneficiem do sol, do ar e da umidade, as chuvas e ventos do Ian erodiram os campos de cultivo que estavam sendo preparados para a campanha de plantio que começa em outubro.
“Isso é algo dá um golpe na gente, atrasa o desenvolvimento da campanha de plantio”, pois as terras já estavam aradas, à espera do plantio, lamenta o tabaqueiro Sergio Luis Martínez, de 59 anos, que também perdeu sua casa de tabaco em Pinar del Río.
O furacão levou em torno de seis horas para cruzar Pinar del Río na terça, período durante o qual deixou dois mortos, um apagão generalizado e grandes danos a residências e redes elétricas. Mais de 50.000 pessoas foram retiradas da província. Também destruiu total, ou parcialmente, centros de triagem de tabaco, armazéns e escritórios da empresa Tabacuba, que compra 95% da safra de produtores privados.
Em apenas algumas horas, Ian arruinou décadas de trabalho. Na propriedade de Maritza Carpio, o furacão arrancou árvores frutíferas e destruiu uma plantação de bananas em crescimento. Aqui, “antes havia um ar ecológico, podia-se dizer que era lindo. Agora está tudo feio”, relata a mulher, que abriga sua vizinha Caridad Álvarez, de 59, uma agricultora que perdeu sua casa. Além do impacto econômico para as famílias, há a perda afetiva.
“Era uma antiga casa de tabaco, feita de madeira dura, feita pelo meu avô, consertada pelo meu pai, que morreu em abril, com 93 anos”, lembra Maritza. O presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, visitou Pinar del Río na terça-feira, onde 65% do tabaco do país é produzido. No dia seguinte, foi a San Luis.
“O dano é grande, embora ainda não tenha sido possível contabilizá-lo”, tuitou. Em 2021, Cuba exportou charutos no valor de US$ 568 milhões, 15% a mais do que no ano anterior, apesar de a população estar há quase um ano confinada pela pandemia da covid-19, segundo a Habanos S.A., empresa que comercializa todas as marcas cubanas.