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Há um século, Porto Alegre enfrentava uma enchente que, assim como em maio deste ano, alagou parte da cidade, como o Quarto Distrito. Grandes volumes de chuva com vento intenso de Oeste, provavelmente associado a um ciclone extratropical, causaram uma forte elevação do Guaíba.

As edições dos dias 13 e 14 de agostos de 1924 do jornal Correio do Povo descreveram a enchente que alagou áreas da capital gaúcha. Ruas, casas e comércios foram tomados pelas águas e uma mulher idosa perdeu a vida afogada ao ser arrastada pela correnteza.

Tal como na grande enchente de maio de 2024, a região das ilhas e do bairro Navegantes (Quarto Distrito) foram as áreas de Porto Alegre mais afetadas, junto com as zonas ao longo do Riacho, como era chamado o Arroio Dilúvio (bairros Partenon, Santana, Azenha e Cidade Baixa).

“Como sói acontecer em todas as cheias, uma das zonas mais castigadas foi o perímetro da cidade conhecido sob a denominação de ‘Ilhota’, situado ao lado da Praça Garibaldi, onde o Riachinho, mais caudaloso e profundo em virtude de represas, ameaçava a vida das famílias que ali residem”, descreveu o Correio do Povo com a linguagem rebuscada que caracterizava os periódicos da época.

“Ao longo dos Navegantes também as águas cresceram notavelmente, ficando alguns trechos completamente alagados […]. Muitos dos trapiches ali situados foram atingidos, sendo levados de alguns deles volumes de mercadorias. Grande era o número de pessoas que generosamente prestavam o auxílio a esse trabalho [socorro], trabalhando em canoas e caíques famílias, na sua maioria residentes nas imediações”, publicou o Correio.

CP MEMÓRIA

Na edição do dia 14 de agosto de 1924, o centenário jornal descreve uma melhora do quadro em Porto Alegre com a diminuição do forte vento do quadrante Oeste a Sul que causou represamento e elevação das águas do Guaíba.

“Tendo amainado o forte vento que há dias soprava e diminuindo as chuvas copiosas que caíram sem interrupção durante vários dias, as águas do Guahyba, que haviam crescido assustadoramente, invadindo casas, campos e estradas, principiaram ontem a baixar consideravelmente”.

“Assim, vários pontos da nossa capital que haviam sofrido as consequências da cheia, começaram a sentir a tranquilidade que a mesma lhes havia tirado. Isso, entretanto, não se verificou nas ilhas fronteiras, onde as águas, devido à nova direção do vento, principiaram a crescer, inundando-as de forma assustadora.

“Felizmente, nenhum desastre fora verificado até a noite, apesar do perigo que a enchente constitui para os moradores dali. […] Os passos dos arroios situados nas estradas que dão para esta capital tornaram-se muito difíceis de serem vadeados. […]”.

Reforçando a ideia que se tratou de uma frente fria seguida de um ciclone a origem da chuva volumosa e do vento forte daqueles dias de agosto de 1924, as enchentes se deram em meio a uma onda de frio com neve.

“O chefe da Via Permanente da Viação Férrea recebeu um telegrama […] comunicando-lhe que, saindo de Tacuarembó às 6:50 horas, levou uma hora para vencer a rampa no km 39.200 devido à grande tempestade de neve que naquele local cobriu completamente o leito da estrada. Por esse motivo o trem de passageiros de Santa Maria a Passo Fundo, de anteontem, chegou com um atraso de duas horas”, informou o jornal à época.

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