São Paulo teve uma madrugada fria nesta terça-feira | ROVENA ROSA/AGÊNCIA BRASIL/EBC

São Paulo tem uma enorme variedade de microclimas e o começo desta terça-feira mostrou quão diferente pode ser a temperatura dentro da capital paulista dependendo de onde estiver a pessoa. Quem saiu à rua hoje cedo no Sul da cidade enfrentou frio de 4ºC enquanto quem estava no Centro da cidade desfrutava de amenos 14ºC.

O mapa acima mostra como estava a temperatura às 7h da manhã dessa terça na rede do CGE, o Centro de Gerenciamento de Emergência da Prefeitura de São Paulo. Observa-se como o frio mais intenso se concentrava nos extremos da cidade enquanto na área central e de maior adensamento urbano a temperatura era significativamente mais alta.

De acordo com dados do CGE, por sua vasta rede de estações no perímetro urbano da capital, as mínimas hoje foram de 3,9ºC na Capela do Socorro, 4,1ºC em Marsilac, 6,7ºC em Santana do Parnaíba, 7,5ºC em Perus, 7,7ºC em São Mateus, 8,2ºC em Parelheiros, 8,3ºC em Mauá, 8,8ºC em Pirituba, 8,9ºC em Itaquera, 9,1ºC em Pinheiros, 9,4ºC no Tremembé e 9,9ºC no Itaim Paulista.

Enquanto no Sul da cidade a temperatura baixou de 4ºC, na área central não desceu de 13ºC. Na ilha de calor urbano, a mínima na Sé foi de 13,3ºC, ou seja, 9,4ºC a mais que na Capela do Socorro. Mas mesmo dentro do chamado Centro expandido a temperatura variou muito. Se na Sé a temperatura não baixou de 13ºC, não muito longe, em Pinheiros, caiu para 9ºC.

Embora essa enorme diversidade de mínimas, a mínima oficial da cidade de São Paulo é da estação do Instituto Nacional de Meteorologia no Mirante de Santana, onde fez 11,1ºC, a mais baixa até agora em 2023. A menor marca então até agora do ano era de 12,1ºC no dia de ontem.

Por que tanta diferença de microclimas hoje? A explicação está no perfil seco da atmosfera. Uma enorme massa de ar seco cobre no momento o Centro-Oeste, o Sudeste e o Sul do país com tempo muito aberto.

Em noites de céu claro, vento calmo e alta pressão atmosférica com grande subsidência (movimento descendente do ar), a temperatura costuma variar muito dentro de uma mesma cidade, especialmente em municípios com grandes diferenças de densidade urbana e presença de ilha de calor assim como que apresenta variações de altitude pelo relevo, exatamente o caso da cidade de São Paulo.

Uma cidade com dezenas de microclimas. Há mais de 20 anos, quando foi publicado o Atlas Municipal da Cidade de São Paulo, uma equipe da Universidade de São Paulo (USP) descobriu que, em consequência das distintas formas de ocupação do espaço urbano, a capital paulista apresentava à época 77 climas diferentes na capital paulista.

O trabalho considerou, além da temperatura e da umidade do ar, fatores que alteram as características do clima e influenciam o bem-estar das pessoas, como o tipo de construção predominante (mais ou menos casas, prédios ou favelas) e a intensidade do trânsito, já que a temperatura pode subir com o calor emitido pelos carros e a poluição.

O resultado foi um mosaico que ganha homogeneidade nos extremos da cidade, por causa da proximidade com as serras da Cantareira, ao Norte, e a do Mar, ao Sul. Constatou-se também uma certa uniformidade nos bairros que circundam o Centro, num arco que começa na Barra Funda, na Zona Oeste, passa por Limão e Santana, na Norte, avança até Penha e Vila Matilde, na Leste, e termina no Sacomã, na Zona Sul da cidade.

Conforme a pesquisa, há variações de temperatura dentro dos próprios bairros, em ruas ou praças, razão pela qual esses climas também podem ser chamados de microclimas. Mas o mosaico se embaralha, com diferenças mais acentuadas de temperatura, nas porções das regiões Oeste e Sul próximas ao Centro.

Uma das principais causas de tamanha variação é o desmatamento, associado a loteamentos clandestinos e favelas que se disseminam nos extremos da cidade. Aos danos da devastação, de acordo com o estudo coordenado pelo geógrafo José Roberto Tarifa, somou-se o impacto provocado pela impermeabilização do solo. São Paulo tem dezenas de milhares de ruas e avenidas asfaltadas, que retêm calor e assim tornam a cidade mais quente.