Uma aeronave de combate a incêndios pulveriza retardante de fogo sobre árvores durante um incêndio florestal perto de Saint-Magne, Sudoeste da França. | PHILIPPE LOPEZ/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Seis países europeus enviam ajuda à França, onde os bombeiros lutam contra novos incêndios florestais reavivados por uma nova onda de calor e seca preocupante para o setor agrícola. Quatro aviões da unidade da União Europeia de combate a incêndios foram enviados à França por Grécia e Suécia.

Equipes de bombeiros da Alemanha, Polônia, Áustria e Romênia estão a caminho, como resposta a um pedido de ajuda do governo francês, anunciou a Comissão Europeia. “A União Europeia é totalmente solidária quando um país enfrenta uma situação de emergência”, afirma um comunicado assinado pelo comissário europeu para a gestão de crises, Janez Lenarcic.

“A solidariedade europeia está em marcha!”, escreveu o presidente francês, Emmanuel Macron, no Twitter. Oito grandes focos de incêndio permanecem ativos no território francês, incluindo áreas pré-alpinas, à beira do mar no Sudoeste, no centro montanhoso. Isto sem contar dezenas de pequenos focos que forçam uma ação rápida dos bombeiros.

Em Gironde, as chamas já queimaram 6.000 hectares. Há um mês, a região florestal perto do Atlântico perdeu 14.000 hectares. Dez mil pessoas deixaram a área, algumas pela segunda vez desde o início do verão. “A população está preocupante. De todas as maneiras, há uma sensação de cansaço, isto já é demais”, declarou o prefeito da localidade de Moustey, Vincent Ichard, onde 250 dos 680 habitantes foram obrigados a abandonar suas casas.

Mais de 40.000 hectares foram incendiados na França desde o início do ano, segundo o governo, enquanto os cálculos baseados nas imagens por satélite elevam o número para 50.000 hectares. Nos dois casos, o número é muito maior que a média anual dos 15 anos anteriores. De acordo com o cientista sênior para aerossóis do sistema Copernicus, as emissões de carbono na França por queimadas e incêndios florestais são as mais altas desde 2003.

Apoiados por reforços europeus, os bombeiros da França continuam combatendo os incêndios florestais em diferentes pontos do país nesta sexta-feira. Os quase 1.100 bombeiros franceses mobilizados na quinta-feira receberam a ajuda de 361 soldados de países europeus. Vários focos de incêndio permanecem ativos no território francês,

Ronan Léaustic, vice-prefeito de Arcachon, uma estância turística a 50 quilômetros de Bordeaux, indicou que o fogo foi amplamente contido, mas as condições climáticas exigem “extrema vigilância”. “Hoje pode ser um dia complicado, pois as temperaturas continuam subindo”, disse Léaustic.

Por volta das 5h desta sexta-feira, os termômetros marcaram mais de 25°C no Sudoeste do país, e durante a tarde as temperaturas chegarão aos 40°C, segundo o serviço meteorológico. A marca de 40°C só foi ultrapassada uma vez na década de 1960 e uma vez na década de 1970 na França. Agora parece se tornar uma coisa comum no verão em algumas partes do país. Mesmo na capital Paris o calor é sufocante.

Caroline Dubois, uma aposentada de 72 anos, deixa as janelas de seu apartamento abertas o dia todo “para criar uma corrente de ar”. Stéphanie Ryan, 36, tenta se refrescar colocando toalhas molhadas em seu ventilador. “É eficaz”, afirma. O país também se vê afetado neste verão por uma seca histórica que o obrigou a restringir o uso da água. Em julho, a precipitação foi 84% menor do que o normal durante o período 1991-2020, segundo o escritório meteorológico.

A onda de calor também afeta Espanha, Alemanha e Portugal. Mais de 1.500 bombeiros tentam controlar um incêndio florestal de vários dias no parque natural de Serra da Estrela, região montanhosa no centro de Portugal. No Oeste da Alemanha, a queda do nível do rio Reno dificulta a navegação fluvial e provoca problemas de abastecimento na região, o que afeta uma economia alemã já enfraquecida.

Além da falta de água e dos incêndios, as autoridades e os agricultores estão preocupados com o impacto das colheitas. O milho representa um desafio especialmente delicado. É uma planta que exige muita água de forma regular e que é essencial para o gado.

A França é o primeiro exportador europeu de milho e dedica quase 10% de sua superfície agrícola útil a este cultivo. “Para completar seu ciclo de crescimento e obter um produto rentável, precisa de água em julho e agosto, os meses em que há menos água na França”, explica Agnès Ducharne, pesquisadora do CNRS. Ao mesmo tempo, as colheitas foram antecipadas em várias semanas em regiões como a ilha da Córsega ou Roussillon. “Nunca em 30 anos havia começado a colheita em 9 de agosto”, declarou Jérôme Despey, proprietário de uma área rural na região de L’Hérault.