A floração de algas, favorecida dentre outros fatores pela estiagem as altas temperaturas, chegou ao Guaíba em Porto Alegre. A coloração do Guaíba em vários pontos se modificou e está verde, contrastando com as imagens de águas marrons e carregadas de sedimentos e lama da enchente nove meses atrás.

JASON LIKOSKI
A floração ou bloom de algas já era observado durante o mês de janeiro em diversos pontos da Lagoa dos Patos, como Tapes e São Lourenço do Sul, mas no começo deste mês atingiu pontos extremo Sul de Porto Alegre, no Norte da Lagoa dos Patos.
Agora, o bloom de algas pode ser observado mais ao Norte dentro do Guaíba e perto da área central da cidade. O pescador Michel Michels enviou para a MetSul Meteorologia fotos e vídeos que fez neste domingo a bordo do seu barco com as águas esverdeadas pelas algas no Guaíba.
A cianobactérias, também chamadas de algas azuis ou algas cianofíceas, são micro-organismos procariontes capazes de realizar fotossíntese, mas não apresentam fotossistemas organizados em cloroplastos. Por essa razão, elas são, muitas vezes, comparadas com bactérias e algas.
Os especialistas advertem que as toxinas liberadas pelas cianobactérias podem causar vários sintomas gastrointestinais e hepáticos em humanos, com sintomas como diarreia, vômito, indisposição, dor abdominal, em casos agudos os sintomas chegam a durar mais de uma semana.
Advertem ainda que os organismis também causam irritação na pele e mucosas internas. Por isso, não se recomenda contato com água enquanto apresentar a floração e as águas estiverem com a coloração alterada.
Um estudo de João Yunes, da Fundação Universidade de Rio Grande, publicado em 2009, descreve que florações da cianobactéria Microcystis são regulares e recorrentes na lagoa dos Patos e seu estuário.
Embora o primeiro registro científico seja datado de 1987, informações de antigos moradores das margens indicam que as florações de cianobactérias existem desde o começo do século passado.
Algas prejudicam a pesca no Guaíba
A floração de algas pela estiagem e o calor já afeta moradores das ilhas de Porto Alegre. Pescadores das ilhas afirmam que a pesca foi inviabiliza nos últimos dias pela proliferação de algas.
AMBIENTE | Floração (bloom) de algas favorecida pelo calor e a estiagem alcança Porto Alegre e deixa as águas do Guaíba verdes. Saiba mais! ▶️ https://t.co/9TH8Flblpu 📷 Michel Michels pic.twitter.com/bNNsMHRm9N
— MetSul.com (@metsul) February 9, 2025
A reportagem do jornal Correio do Povo observou pouca movimentação na Colônia de Pescadores Ernesto Alves Z5. Ali, as barcas estavam quase encalhadas na margem e a água tinha coloração escurecida. Dentro do Guaíba, há muitas algas, como constantou neste domingo o pescador Michel Michels.
O pescador Bruno Soares Cruz, 31 anos, conta que, devido ao calor, as algas podres acabam flutuando na superfície e infestam o Guaíba. Ele explica que isso, ao lado da estiagem, dificulta a presença das espécies ali.
“Em alguns pontos, a água, que antes atingia a região do peito, agora não passa da linha da cintura. Isso faz com que os peixes fiquem cada vez em áreas mais fundas e de difícil acesso. Além disso, com a quantidade de algas, as únicas espécies que conseguimos pescar são os bagres”, lamenta o pescador.
As algas, ainda de acordo com Bruno Soares, servem de alimento para tainhas. O problema é que a estiagem também afeta a presença deste tipo de peixe no entorno da Ilha da Pintada. “Minha esperança era que as tainhas começassem a aparecer, mas a seca impediu a chegada delas. Nos últimos dias, só encontro limo quando saio para pescar”, pontuou o trabalhador.
O que diz o DMAE sobre a água em Porto Alegre
O Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) informou em comunicado no dia 5 que ainda não se verificado a presença de algas (cianobactérias) em seus pontos de captação de água no Guaíba.
O órgão, entretanto, aumentou a dose de dióxido de cloro usada no tratamento da água distribuída pelos sistemas São João e Moinhos de Vento – que, juntos, abastecem 56 bairros e localidades de Porto Alegre. O objetivo foi minimizar as alterações de gosto e odor relatadas pelos consumidores nas últimas semanas.
“Os pontos de captação de água bruta dos sistemas São João e Moinhos de Vento são próximos, ambos localizados no entorno da rua Voluntários da Pátria. Estas alterações, percebidas por parte da população, não representam qualquer risco à saúde. Trata-se de um fenômeno natural do Guaíba no verão”, explica a diretora de Tratamento e Meio Ambiente do Dmae, Joice Becker.
Antes, os sistemas São João e Moinhos de Vento recebiam 0,7ppm (partes por milhão) de dióxido de cloro no tratamento – dose elevada para 1ppm. Por outro lado, nas demais estações de tratamento (Menino Deus, Tristeza, Belém Novo e Ilhas), permanece o índice de 0,7ppm.
Técnicos monitoram a evolução do fenômeno, para que novos ajustes sejam feitos quando necessários. Ao todo, são realizadas 2,4 mil análises diárias da água de Porto Alegre – tanto nos pontos de captação, quanto em todas as etapas do tratamento e distribuição. Com isso, o Departamento garante a potabilidade da água que chega às torneiras.
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